O Banco da Amazônia, que atende cerca de 500 municípios nos sete estados da região Norte do País, além do Maranhão e Mato Grosso - o equivalente a 60% do território brasileiro -, tem fincado a sua bandeira no agronegócio.

Pouco mais de 20 dias após o governo federal lançar o Plano Safra 2024/2025, a instituição divulgou o orçamento destinado aos produtores rurais nos próximos meses, aumentando as cifras em relação à safra anterior. O montante é de R$ 11 bilhões, 11% acima do disponibilizado na safra 2023/2024, de R$ 9,9 bilhões.

Em linha com o governo federal, instituições como o Banco do Brasil, Sicredi e Sicoob também elevaram as cifras para esta safra entre 10% e 17%. Apesar de ser o maior valor da história do banco da região da bacia amazônica, o recurso é bem abaixo em relação ao disponibilizado pelas outras instituições.

"A gente estipula essa meta, seguindo o Plano Safra do governo federal. Se passarmos desse valor anunciado, temos orçamento. Porém, como somos um banco regional, precisamos ter equilíbrio entre os setores que atendemos", diz o diretor comercial e de distribuição do Banco da Amazônia, Marivaldo Melo, em entrevista ao AgFeed.

O banco, que atende a região chamada de Amazônia Legal, destinará do montante total R$ 7,7 bilhões ao custeio da safra e R$ 3,3 bilhões a investimentos. Melo observa que, há dez anos, o Plano Safra do banco destinava 70% dos recursos para investimentos e 30% para custeio, cenário que se inverteu.

“As demandas por investimento são um pouco maiores na Amazônia. Daí, com as nossas mudanças na análise, a gente tem ajudado o produtor a tomar crédito no momento certo. Estamos alinhados com o mercado e ganhando a confiança deles”, comenta Melo.

Por segmentos, dos R$ 11 bilhões disponíveis, R$ 4,3 bilhões irão para a agricultura empresarial, enquanto R$ 5,4 bilhões financiarão a safra por meio do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). Já os produtores que acessam o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), principal perfil de clientes da instituição financeira, terão disponíveis R$ 1,3 bilhão.

Um dos pontos que mais chamou a atenção neste Plano Safra foi a taxa de juros, alvo de críticas de boa parte dos produtores, que, com a taxa Selic em 10,50%, consideraram o custo de financiamento alto, com linhas de crédito acima de dois dígitos.

Para a agricultura empresarial, o Banco da Amazônia tem taxas a partir de 6,48% ao ano para investimentos e de 6,75% para custeio. Já o agricultor familiar contará com taxas de 0,5% e 1,5%, respectivamente.

Com forte atuação na Amazônia, o banco ainda tem linhas de crédito voltadas a projetos de sustentabilidade, como energia verde, agricultura regenerativa ou de baixo carbono (ABC), recuperação de áreas degradadas e com uso de fonte renovável. As chamadas linhas verdes têm taxa de 6,04% ao ano.

Marivaldo Melo pondera que a maior preocupação da instituição ao montar o plano da safra 2024/25 foi a limitação de assistência técnica na região, principalmente, para pequenos produtores, grupos que o banco quer aumentar a carteira de clientes.

“Ela é fundamental. Porque só disponibilizar o recurso para o pequeno agricultor ou pecuarista não é suficiente. Ele precisa ter eficiência na aplicação desse recurso e depende muito de acesso à assistência técnica”, explica o diretor comercial do banco.

A força do agro no Banco da Amazônia

Na última safra, o Banco da Amazônia atendeu mais de 22 mil clientes, movimentando R$ 10,7 bilhões, desempenho maior que o valor orçado. O total ficou acima dos R$ 7,9 bilhões destinados ao agronegócio na safra 2022/2023, o que mostra a força do setor para os negócios do banco.

O gerente-executivo de pessoas físicas da instituição financeira, Guilherme Cunha, destaca que, com base na safra 2023/2024, o agronegócio é responsável por 60% das operações do banco.

“É um percentual que tem ficado estável, mas mostra a força que o banco tem com o setor. Nas últimas cinco safras, nós destinamos R$ 40 bilhões ao setor, valor que cresce a cada ano”, comenta.

Os recursos de R$ 10,7 bilhões ficaram bem divididos entre agricultura e pecuária na safra passada. Mesmo com o aumento do rebanho bovino na região, segundo Melo, fruto do investimento em tecnologia e na integração lavoura-pecuária-floresta.

“Houve aumento do rebanho, mas sem aumentar o desmatamento”, diz o executivo, ressaltando a rigidez do Banco da Amazônia com o tema por meio de análise socioambiental durante a concessão de crédito.

Cunha explica que, caso um produtor que tenha acessado crédito pelo banco seja pego cometendo crime ambiental, é punido até regularizar a situação.

“O produtor fica com o crédito travado e perde o (crédito) subsidiado e passa a ter acesso ao normal. Além disso, a taxa de juros sobe. Se ele paga 9%, passa a pagar taxa de 15%, 20% ou até mais, o que é um castigo grande para o produtor. Ele fica com o crédito restrito até se regularizar”, reforça.

Ainda na safra 2023/24, o banco destinou R$ 5 bilhões para financiar a agricultura familiar e produtores de pequeno porte, crescimento de 20% ante o período 2022/23, o que mostra a força do segmento na região e na carteira de clientes do banco.

Estiagem no Norte preocupa

Um dos pontos de atenção do agronegócio é o clima. Se eventos climáticos comprometem a atividade agrícola, certamente, refletirão no bolso do produtor e, consequentemente, poderá refletir em inadimplência. No momento, a forte estiagem que toma conta de dezenas de municípios de Rondônia, Amazonas e Acre, ainda não preocupa o Banco da Amazônia, mas acendem um alerta.

"Estamos sediados em Belém (PA) e aqui não chove há 18 dias. O que é um muito raro, já que é a cidade que mais chove no País. Isso é efeito da estiagem, que nos preocupa muito”, comenta o gerente-executivo da instituição financeira.

Cunha e Melo ressaltam que a região do Arco Norte, principalmente da zona Franca de Manaus, começa a ter dificuldades de escoamento, principalmente, de grãos. É preocupante.

O desempenho dos portos do Arco Norte foi destaque nas exportações de soja em junho. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil exportou 13,9 milhões de toneladas da oleaginosa no mês passado, alta de 3,7% ante maio.

No período, os portos do Arco Norte tiveram participação de 36,3% no volume exportado de soja e de 49% nas vendas de milho para o mercado externo. Resultados acima dos volumes escoados pelo porto de Santos (SP), Paranaguá (PR) e de São Francisco do Sul (SC).

O diretor comercial do Banco da Amazônia lembra que, no ano passado, com estado de emergência declarado, os portos da região ficaram 60 dias sem operações diante a forte estiagem. Com isso, a instituição prorrogou o pagamento de financiamentos para produtores rurais por seis meses. Tal medida pode ser novamente adotada caso o cenário se repita este ano.