Na matemática, dentro do cálculo diferencial, um ponto de inflexão é um momento em que uma curva troca o sinal, deixando de apontar para cima para se virar para baixo - ou vice-versa.
No mundo dos negócios, o conceito é parecido. E pode indicar o ponto em que uma empreitada está dando uma guinada em outra direção.
A Barn Investimentos, gestora de venture capital (capital de risco) especializada em teses de agronegócio e greentechs, vive esse momento, às vésperas de lançar um novo fundo que pode chegar a R$ 800 milhões.
Em entrevista ao AgFeed, o sócio e fundador da casa, Flávio Zaclis, pontuou que, nesse novo projeto, grande parte do aporte será destinado a startups em estágios mais maduros do negócio, e não os chamados early stages (estágios iniciais) que eram o foco da companhia nos fundos lançados anteriormente.
“Esse fundo 3, que estamos finalizando agora, já tem empresas super valorizadas”, afirma Zaclis. “Nós já consolidamos nossa tese, sabemos onde estamos investindo, não fizemos loucura ao longo do caminho e entendemos que, para ter mais impacto, precisamos de um veículo mais robusto. Estamos num ponto de inflexão da Barn”.
Dentre as companhias do fundo estão empresas que já estão no portfólio atual da Barn, como a Grão Direto, um marketplace de compra e venda de grãos, a Agrolend, de concessão de crédito, e a Rúmina, que atua no setor da agropecuária.
“Notamos ao longo dos anos que, quando acertamos uma empresa, queremos nos expor ainda mais a ela”, diz o sócio da gestora.
A empresa colocou o agro e greentechs no alvo há pouco mais de três anos. O país vivia, então, uma conjuntura de juros baixos, em que muitos investidores voltavam seus olhos para o venture capital.
Nesse universo borbulhante, Zaclis percebeu que era momento de a gestora se diferenciar em um cenário que, segundo ele, “perdeu a disciplina” e focar nas duas teses.
Na bagagem, a gestora trazia, com orgulho, a experiência bem sucedida com a Strider, agtech mineira em que investiu em 2014 – hoje é a base da plataforma digital da Syngenta.
Após quatro anos de posição na Strider, ao vender sua participação a Barn fez 16 vezes o dinheiro investido. O retorno obtido acabou sendo suficiente para pagar o primeiro fundo da casa. “Talvez essa seja, até hoje, a principal tese de agtech brasileiro, do ponto de vista de investimento, gestão e desinvestimento”, comenta.
“Vimos que nosso diferencial era no universo agro e ambiental. Somado a isso, concluímos que o Brasil tinha potencial para essas áreas por muitas décadas. Não somos um país de alta robótica e IA avançada, mas poderíamos ser competitivos no agronegócio e no uso de recursos naturais”, completa.
O que a Barn ainda busca?
Não é toda hora, no entanto, que se depara com uma Strider. Dentro da tese de greentechs, a Barn ainda não encontrou o alvo certo. Zaclis diz, por exemplo, que nenhuma startup de previsão climática ou de seguro agrícola, que andam próximos, convenceu a gestora.
Empresas com tecnologias de rastreabilidade, biológicos e ligadas ao mercado de créditos de carbono na agricultura também não chamaram a atenção, mas o sócio garante que o interesse por parte da gestora é grande em realizar aportes desse tipo.
Quem já passou pelo escrutínio da Barn não deve, no entanto, perder a esperança. É possível que alguma dessas empresas volte ao foco no futuro, e aí então, chame a atenção de Zaclis e sua equipe. Foi o que ocorreu com a Grão Direto. Entre o primeiro contato e o aporte houve um intervalo de cinco anos, segundo o investidor.
Para mapear melhor as reais demandas de produtores, a equipe da Barn tem feito “pesquisas de campo”. Recentemente foi ao Mato Grosso, onde percorreu a famosa BR-136, que atravessa o estado.
Lá, a gestora conversou com diversos produtores, indústrias, cooperativas, revendas e concessionárias, para entender qual tipo de produto funciona e será usado por cada agricultor.
“Essa viagem desmistificou muita coisa e foi boa para a gente não se enganar. Existe muita agtech que possui um produto ou parecido com o de outra, ou que o alvo do negócio não vai utilizar, ou vai usar esporadicamente. Preferimos soluções indispensáveis”.
Para além disso, a Barn se cercou de conselheiros experientes do setor, alguns deles executivos de empresas como Amaggi, no agro, e LocaWeb, para auxiliar na parte de tecnologia.