O governo do estado de São Paulo lança nesta quinta-feira, 12 de dezembro, seu primeiro fundo de investimento para o agronegócio, projeto desenvolvido desde o início do atual mandato, há quase dois anos.
O AgFeed apurou que será um FIDC, Fundo de Investimento em Direitos Creditórios do Agronegócio, que terá com aporte inicial de no mínimo R$ 70 milhões.
O FIDC “paulista” vai contar com R$ 50 milhões da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (Desenvolve SP) e será feito com a gestora Rio Bravo, que tem a obrigação de captar junto a investidores no mínimo R$ 20 milhões. “Porém a expectativa é de que busque bem mais que isso”, disse uma fonte do governo.
É possível que o FIDC também conte com recursos do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), mas isso não foi confirmado.
O aporte da Desenvolve SP é 10 vezes menor do que o total que a agência separou para os fundos voltados ao agronegócio, conforme informou o presidente Ricardo Brito, em entrevista concedida ao AgFeed em abril deste ano.
Na época, ele disse que o governo disponibilizaria R$ 500 milhões, não apenas para um possível Fiagro, mas também para outros fundos que ajudariam a financiar o setor.
Na mesma entrevista, Brito sinalizou que o máximo que a agência pode aportar por fundo seria R$ 50 milhões, mas que esperava que a gestora – na época ainda não definida, pois o edital recém havia sido publicado – poderia trazer R$ 200 milhões.
Com base nessa premissa, a expectativa era de que o financiamento agrícola pudesse se transformar em R$ 2,5 bilhões, futuramente. O secretário de agricultura de São Paulo, Guilherme Piai, também fez uma previsão ao AgFeed de que lançaria em janeiro de 2024 um Fiagro, para captar até R$ 1 bilhão.
“Esses recursos serão destinados a investimentos em infraestrutura logística do agronegócio do estado de São Paulo. Por meio deste FIDC Agro, o governo se utilizará da moderna estrutura de investimentos do mercado de capitais”, disse a Secretaria da Agricultura em nota, na qual informa sobre o lançamento de um pacote de R$ 340 milhões para o setor.
O fundo é apenas uma das iniciativas a serem apresentadas. Também deve ser anunciado um projeto de incentivo à irrigação, com apoio da Desenvolve SP.
Uma das surpresas no processo é o fato de o fundo não estar sendo lançado com a Suno Asset Management. Em maio de 2023, havia sido firmada uma parceria entre a gestora e a Secretaria de Agricultura de São Paulo. Era um protocolo de intenções para avaliarem a aplicação de recursos financeiros do Feap, sob gestão e responsabilidade da agência de fomento estatal em um Fiagro.
O fundo seria modulado, instituído, regulamentado e gerido pela Suno, que tinha procurado o governo desde janeiro do ano passado com essa proposta.
O processo seguiu até a Suno enviar, em novembro de 2023, o relatório de modelagem da proposta de investimento, acompanhado da matriz de riscos do investimento e da minuta detalhada da proposta inicial do regulamento do Fiagro.
Em 9 de fevereiro de 2024, o superintende financeiro da Desenvolve SP, Amadeu Tobias, formalizou, em e-mail, a seleção da proposta apresentada pelo Suno e informou que a próxima etapa seria assinatura do acordo e da due diligence da gestora;
“Informamos que o Comitê de Investimentos (CI) da instituição selecionou o Fundo apresentado para avançar à próxima fase, a qual consiste na realização de due diligence da gestora. Desta forma, encaminhamos nosso Non Disclosure Agreement (NDA) para avaliação e posterior assinatura”, relatou no documento
Entre 23 e 28 de fevereiro, a Desenvolve SP e a Suno assinaram o NDA. Nos dias 6 e 7 de março a Suno enviou toda a documentação solicitada pela Desenvolve SP para a due dilligence.
Paralelamente, a gestora respondeu a uma série de questionamentos da agência de fomento e detalhou todos passos seguintes para a formalização do Fiagro-FIDC, incluindo o desenho de aporte financeiro e as taxas de financiamento.
O capítulo seguinte marcou a reviravolta nas negociações e veio só no início de outubro. Em um curto e-mail, a Desenvolve SP informou que não prosseguiria a diligência com a Suno por causa da saída de membros da gestora, mas não deu detalhes.
"Em virtude da saída de profissionais de investimento dos quadros da Suno Asset, não daremos prosseguimento à Due Diligence Operacional do Fiagro FIDC Agropecuária Paulista. A Suno Asset segue em nossas bases de acompanhamento. Desejamos sucesso aos fundos geridos pela casa."
O AgFeed procurou desde terça-feira, 10 de dezembro, o governo paulista para confirmar as informações apuradas e saber o motivo da opção por uma outra gestora, mas as assessorias da Secretaria de Agricultura e da Desenvolve SP se negaram a dar detalhes e não responderam aos questionamentos enviados por e-mail. Já a Suno informou que não vai se manifestar sobre sua exclusão como gestora e nem sobre o processo.