Patrícia Nader, sócia da gestora Good Karma Partners, tem um bom problema: dinheiro em caixa. Depois de captar quase R$ 400 milhões para seu fundo de impacto, aberto em 2021, ainda restam cerca de 85% dos recursos disponíveis – ou seja, algo em torno de R$ 340 milhões.
É dinheiro para ser gasto sem pressa. Segundo Patrícia, os aportes em empresas selecionadas devem acontecer até o fim do próximo ano. Mas ela admite que, depois de passar centenas de possíveis candidatas no funil, chegou a hora de acelerar os investimentos.
“Devemos assinar até quatro cheques este ano”, afirmou Patrícia ao AgFeed na quinta-feira, 25 de maio, durante evento dobre o mercado de carbono promovido em parceria pelo Itaú BBA e a Good Karma. “De um a dois deles serão para empresas do agronegócio”.
Bioinsumos e redução das emissões de metano na pecuária são temas que têm merecido especial atenção dos avaliadores da gestora, que tem entre seus conselheiros conhecedores profundos do campo, como Marcos Jank, professor de Agronegócio Global no Insper, e Pedro Fernandes, Head de Agronegócio no Itaú BBA.
E serão cheques mais robustos do que os feitos nos primeiros investimentos do fundo. De acordo com Patrícia, a previsão é encerrar 2023 com pelo menos 50% dos recursos alocados, podendo chegar a 70%.
Assim, seriam cerca de R$ 150 milhões a serem aportados este ano, em um cenário menos otimista, com valores que podem chegar a R$ 50 milhões por investimento. Na primeira onda de investimentos do fundo, quatro empresas dividiram um valor em torno de R$ 60 milhões, ou seja, R$ 15 milhões por cheque, em média.
A Good Karma, criada por Eduardo Mufarej, tem sido cautelosa até agora na escolha das suas investidas. O escrutínio do fundo é rigoroso e a empresa analisada precisa se encaixar em um modelo difícil de se encontrar: o potencial de gerar impacto (social e/ou ambiental), sem abrir mão de resultado financeiro.
“Não fazemos filantropia”, observa Patrícia. “Nossa meta é devolver aos investidores rentabilidade equivalente ao IPCA mais vinte por cento”.
A tese de investimento privilegia empresas nas áreas de saúde, educação e clima, além do agronegócio. “Hoje gastamos 70% do nosso tempo em clima”, diz. Quando essas verticais se cruzam em uma mesma empresa, ainda melhor.
É o caso da Rehagro, empresa criada por dois agrônomos mineiros para difundir conhecimento para capacitação de profissionais do setor, uma das investidas na primeira leva.
A Good Karma avaliou que havia potencial de escala no modelo de cursos criados pela Rehagro, que por sua vez poderia gerar impacto mais amplo através do aumento da produtividade no campo, gerando maior oferta de alimentos, e com maior sustentabilidade.
Além do aporte em dinheiro, a gestora contribuiu para a abertura de portas no ambiente corporativo do agro, fazendo com que os cursos da empresa, antes vendidos de forma individual.
Segundo Patrícia, cada real investido na Rehagro tem potencial de gerar outros 12,77 reais em impacto. Esse dado é obtido através da metodologia Múltiplo de Impacto (MdI) desenvolvida pela gestora, em conjunto com núcleo de medição de impacto socioambiental do Insper, o Insper Metrics.
Pelo cálculo efetuado, a aquisição de 33% de participação na Rehagro, feita com em conjunto com a gestora 10b, da SK Tarpon, pode gerar até R$1,3 bilhão de impacto social e ambiental. Sem essquecer, é claro, do retorno para os investidores.