A maré difícil que o mercado de Fiagros enfrentou nos últimos meses causou um movimento de correção de rota na Kinea, gestora que toma administra o maior fundo do tipo no mercado.

Depois do KNCA11, que possui um patrimônio de R$ 2,2 bilhões, e do KOPA11 (com outros R$ 351,4 milhões), vai finalmente tirar do papel o KDOL11, o primeiro Fiagro do País atrelado ao dólar.

Conforme adiantou o AgFeed na ocasião, a ideia surgiu em fevereiro deste ano e, na época, a Kinea buscava R$ 1 bilhão para estruturar o fundo. Mas a tese de levar o CRA em dólar para o varejo ficou para depois - e num volume menor.

No início do ano, pipocavam os registros de aumento de pedidos de recuperações judiciais e quebras de safra de alguns produtores por conta de problemas climáticos. O cenário pesou não só nas contas e no bolso dos próprios produtores, mas também nos milhares de investidores do agro.

Um estudo da Bloxs Capital Partners publicado em junho mostrou que quase 90% Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) listados tiveram queda no valor de mercado no acumulado do ano até então. Na média, a retração, por fundo, foi de 8,4%.

Depois de discussões com investidores, clientes e canais de distribuição, mesmo com o fundo pronto, o timing não ajudava em fevereiro, e a Kinea preferiu não queimar seu cartucho e esperou. Até agora.

Neste mês, a Kinea voltou a um mercado mais calmo com seu fundo dolarizado e pretende captar de R$ 160 milhões até R$ 200 milhões.

“O fundo iria chegar num momento em que o mercado azedou de vez e a Kinea optou por não queimar a ideia, que parecia uma avenida de crescimento interessante”, afirmou uma fonte próxima da gestora e a par dos trâmites da emissão do fundo.

A fonte próxima da gestora afirmou ao AgFeed que a ideia do Fiagro dolarizado permeia o management da Kinea desde 2021, desde que os CRAs em dólar foram regulamentados por aqui.

A grande tese da gestora é oferecer um produto exposto à moeda americana, usada como forma de investimento e reservas, ao mesmo tempo que também investe no agro brasileiro.

O fundo busca operações de high grade e quer trazer um retorno do investimento, em dólar, de mais 6% ao ano para os investidores. A ideia é um pagamento mensal de dividendos, isentos de imposto de renda, por se tratar de um Fiagro. "Essa é uma das poucas opções de investimento em dólar que possui essa característica de isenção de IR", afirmou a fonte.

O KDOL11 será dedicado a operações mais “defensivas”, com baixo risco de crédito, e deve contar com CRAs de grupos empresariais mais robustos, que sejam capazes de honrar suas obrigações dolarizadas mesmo em ambientes bastante desfavoráveis para o real.

“São agroexportadores com nível de governança elevado, faturamento bilionário e que já possuem receitas e se financiam em dólar”.

Um dos itens do portfólio, que já foi liquidado dentro da Kinea e será parte do fundo assim que ele for à mercado, será uma CPR da Citrosuco, no valor de US$ 9 milhões, ou algo em torno de R$ 50 milhões

O restante do fundo deverá contar com mais quatro operações, que devem vir de players do segmento sucroenergético, de grãos e cooperativas.

A gestora viu uma oportunidade em surfar no universo dos CRAs dolarizados, que, mesmo regularizado há dois anos, ainda não tem tantas operações, disse ao AgFeed essa pessoa ligada ao management da Kinea.

"Pode ser uma empresa de qualquer cultura, mas que tenha um grau de profissionalização, ou ser um produtor gigante já consolidado. São empresários acostumados com o dólar: já se financiam na moeda, exportam e tomam financiamento assim", disse a fonte.

O período de captação vai até o dia 26 de agosto, com liquidação no dia 30 do mesmo mês. O preço de subscrição é de R$ 102,50 e o investimento mínimo é de dez cotas.

Mesmo com o fundo atrelado ao dólar, toda operação para o investidor será em reais. A distribuição mensal dos rendimentos será vinculada às taxas de remuneração das operações, ou seja, o spread em relação ao dólar.

Para o investidor, o investimento é mais vantajoso se o dólar se valorizar frente ao real, já que o rendimento está justamente atrelado à variação cambial mais os juros. A julgar pelo momento da moeda americana, o interesse do público pode ser grande.

De fevereiro para cá, o dólar valorizou mais de 10%, passando de um patamar de quase R$ 5 para mais de R$ 5,50 em poucos meses.

Outra característica particular desse Fiagro é que ele terá um tempo de duração e se encerra em sete anos. Com isso, a emissão, que pretende atingir R$ 1 bilhão, será única. Segundo a fonte que conversou com o AgFeed, a amortização deve acontecer nos últimos três anos de vida do fundo.

Em um material oficial para divulgar o novo fundo, no qual o AgFeed teve acesso, a gestora pontuou que um estudo com dados de 2010 até o ano passado comparou o retorno histórico do dólar acrescido de 6% ao ano com outros tipos de investimento, batendo todos os concorrentes.

Enquanto esse modelo retornou 552%, cerca de 13,9% ao ano, o CDI retornou 264,8%, o IPCA 129,9% e o Ibovespa 76,9% no mesmo intervalo.

Entre renda fixa, crédito, multimercado, ações, fundos diversos e venture capital, a Kinea Investimentos é uma das maiores gestoras independentes do mercado brasileiro, gerindo mais de R$ 130 bilhões em recursos.