O mercado de títulos verdes tem crescido, mas ainda é pequeno no Brasil, principalmente diante do enorme potencial a ser explorado. Até mesmo o enquadramento de emissões nessa categoria nem sempre é fácil, em função da falta de critérios mais claros no País.
A avaliação é de Flavia Palacios, CEO da Opea, empresa que atua na securitização de títulos emitidos no mercado de capitais e que tem mais de 6% dos chamados green bonds registrados na B3. Enquanto projeta o aquecimento das ofertas de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) no segundo semestre, a executiva está de olho neste novo mercado.
São R$ 500 milhões em green bonds emitidos e o agronegócio é um segmento com muito potencial para se beneficiar deste tipo de operação, segundo Renato Barros Frascino, head de Agro da Opea.
“Estamos inclusive em conversas com um produtor de soja que está plantando em uma área de pasto degradado. E isso se encaixa bem nos critérios da CBI (Climate Bonds Initiative) para emissão de green bonds”, afirma Barros.
O estabelecimento de critérios é uma parte importante na emissão de títulos verdes e, segundo Flavia Palacios, um dos grandes problemas que travam o crescimento deste mercado no Brasil.
“Ainda é um mercado pequeno, com muito potencial, mas que precisa de regras mais claras para enquadramento das emissões. Acredito que uma autorregulação pode suprir essa necessidade e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tem incentivado muito isso”, afirma a CEO da Opea, que é também diretora da Anbima, associação que representa os agentes do mercado de capitais.
Barros lembra que no exterior, esse mercado é mais consolidado e, no agro, é até difícil estabelecer padrão único. “Vai depender muito do emissor. Nós fizemos uma operação em dólar para produtores que se comprometeram a preservar uma área florestal maior que o mínimo exigido pela legislação”.
Ele se refere ao CRA de US$ 47 milhões do RCF Cerrado, programa de financiamento para incentivar sistemas mais sustentáveis de produção agrícola na região. A operação foi realizada em 2022. Nesse caso, a legislação exige no mínimo 20% de área preservada dos proprietários de terras.
Segundo a Plataforma de Transparência de Títulos Verdes (GBTP, na sigla em inglês), os green bonds somam mais de US$ 43 bilhões em emissões em 18 países. As operações têm prazo médio de 10 anos e evitaram que fossem emitidos ou retiraram da atmosfera quase 36 milhões de toneladas de CO2.
Mais CRAs no segundo semestre
A Opea também é uma das principais securitizadoras de CRAs do mercado brasileiro. Mas segundo Palacios, o primeiro semestre de 2024 apresentou uma desaceleração na oferta destes títulos.
“Nós tivemos uma mudança importante na legislação no começo do ano, que tirou a possibilidade de emissões por parte de instituições financeiras. Claro que isso impactou o volume, além dos desafios que vive o próprio agronegócio neste momento”, diz a CEO da Opea.
No entanto, ela ressalta que, historicamente, o segundo semestre é mais forte para as emissões no mercado de capitais.
“Nós tivemos um começo de ano com as empresas muito cautelosas para emitir. Nestes últimos meses do primeiro semestre, já notamos uma aceleração”.
Até o final de maio, a Opea fez 17 operações para emissão de CRAs, que somaram R$ 1,6 bilhão. Segundo Palacios, no segundo semestre, esse número deve aumentar em “cinco, seis, até sete vezes”.
Se confirmada a projeção da CEO da Opea, o volume de CRAs lançado pela securitizadora vai passar dos R$ 10 bilhões, podendo chegar próximo a R$ 12 bilhões. Valor menor que o de 2023, quando a plataforma fez mais de R$ 15 bilhões, com contribuição importante de CRAs lançados por bancos.
Renato Barros afirma que os gestores também estão mais seletivos na hora de escolher os títulos para compor seus fundos, especialmente quando se trata de produtores de grãos.
“Mas ao mesmo tempo em que o segmento de grãos passa por um momento mais desafiador, as culturas de cana e café têm trazido bons resultados. Isso abre uma oportunidade para os produtores”.
O head de Agro da Opea revela que a securitizadora já tem um CRA e um FIDC com uma cooperativa, a Cocari, que atua principalmente na agroindústria. Sobre o segmento de café, Barros diz que a Opea ainda não tem operações, mas há conversas nesse sentido.
Palacios ressalta que as cooperativas sempre recorreram mais ao crédito subsidiado. “Não que isso deve acabar, mas o crédito privado é hoje uma boa alternativa, porque o financiamento público não atende todas as necessidades”.
No total, a Opea tem R$ 330 bilhões sob gestão. Esse valor equivale ao estoque de títulos em que a companhia atuou como securitizadora e que ainda estão ativos.
Em maio, a companhia anunciou a aquisição de duas empresas. Uma delas, a True Securitizadora, foi fundada em 2010 e tem um histórico de 860 operações realizadas no mercado de capitais e R$ 82 bilhões em emissões.
Já a Máximus é uma empresa fundada em 2017 que atua em serviços de crédito para o setor imobiliário, incluindo cobrança e recuperação, segmento em que a Opea também atua.