A distância entre o campo e a Faria Lima tem sido encurtada nos últimos anos, com a ajuda de novos instrumentos, como o Fiagro, e com um interesse cada vez maior de pessoas físicas pelos investimentos no agronegócio.
Esta é uma das apostas da maior parte das gestoras que, mais recentemente, criaram áreas específicas para o agro e buscam conectar o produtor rural que precisa se financiar na fazenda com o investidor pessoa física que precisa de mais rentabilidade.
Além do Fiagro, Fundos de Investimento das Cadeias Produtivas Agroindustriais, criado em 2021, as empresas confiam na proliferação dos CRAs – Certificados de Recebíveis do Agronegócio – títulos de renda fixa privada, que também tem impulsionado o segmento.
Na visão de alguns gestores, a diversificação de portfólio que permite o Fiagro, somada à isenção de Imposto de Renda de seus rendimentos são os grandes trunfos para cada vez mais o agro fazer parte da carteira dos investidores brasileiros.
Apesar disso, o setor ainda não representa nas carteiras dos investidores o tanto que representa no PIB brasileiro. Esse cenário, contudo, pode estar vivendo um turning point.
A julgar por números recentes da B3, o investimento em Fiagros está caindo nas graças do investidor. Em abril deste ano, por exemplo, a bolsa brasileira tinha 259 mil investidores pessoa física com algum tipo de alocação nessa modalidade, um aumento de 9,1% em relação ao mês de março.
No mesmo mês do ano passado, esse número era de pouco mais de 51 mil investidores, um montante cinco vezes menor que o atual.
Na visão de Maria Tereza Vendramini, sócia e head comercial de agro da gestora AZ Quest, o Fiagro tem um apelo para a pessoa física pela democratização do investimento.
Ela explica que o investidor já conhece o setor, sua importância e capital envolvido, mas se fosse para investir de uma forma direta, ou seja, sem ser por um fundo ou título de dívida, teria que desembolsar um montante elevado.
Na AZ Quest, a área de agro é recente, e foi criada no ano passado. A gestora, por sua vez, tem mais de 20 anos de história.
O primeiro produto lançado pela empresa foi o Fiagro AAZQ11, listado no final do ano passado, como explicou Vendramini. “O fundo teve uma captação inicial de R$ 230 milhões, com foco em investir em operações de crédito. Na prática, alocamos em CRAs”, diz.
Em abril, o Fiagro VGIA11, fundo da Valora Investimentos, foi o mais negociado da B3, com 19% das negociações. Esse título, inclusive, é o mais negociado desde o começo do ano, de acordo com a Bolsa. Com cotas valendo cerca de R$ 9,40 atualmente, o fundo realiza pagamentos mensais de dividendos aos cotistas.
Diversificar para somar
Na prática, o Fiagro funciona como um Fundo Imobiliário (FII), mas serve para financiar iniciativas do agro, ao invés de empreendimentos imóveis.
Na opinião de Ulisses Nehmi, CEO da gestora Sparta, a possibilidade de diversificar os investimentos com mais um título no mercado também é vista com bons olhos pelo investidor.
Isso acontece porque o investidor passou a ter mais opções de setores para alocar seu capital em fundos, que vão além do segmento imobiliário e de infraestrutura.
Para melhorar o cenário do investimento no agro, o momento atual de juros, altos que prejudica o setor imobiliário, pode fazer os olhos brilharem para os Fiagros.
Nehmi explica que por mais que setor do agro também tenha riscos relacionados a preços de commodities, clima e gargalos de infraestrutura, possui uma “blindagem” maior a questões macroeconômicas e políticas.
“Numa lógica de portfólio, faz sentido ter exposição ao agro para diversificar os riscos, o que é saudável para o investidor”, comenta o CEO.
Esse boom dos Fiagros também se deve a sua inspiração, que foram justamente os FIIs, produtos com mais de 10 anos de mercado, que já passaram por experiências e regulamentações diversas ao longo deste tempo.
“A CVM foi feliz de permitir os Fiagros se desenvolverem na mesma regulação dos FIIs”, afirma Nehmi. Segundo a B3, hoje existem mais de 2 milhões de investidores pessoa física com capital aportado em fundos imobiliários.
A Sparta possui um fundo negociado na bolsa atualmente, o CRAA11. O fundo possui cerca de R$ 30,6 milhões em patrimônio líquido, segundo a gestora, e aloca em CRAs ligados a distribuidoras de insumos e cooperativas de crédito.
O filho rebelde
Por estar muito ligado aos FIIs, os fiagros tiveram que adaptar o timing do setor agro para o timing do investidor, como explica Márcio Takaya, analista de agro da Sparta.
Isso acontece porque os fundos de investimento no setor imobiliário costumam remunerar seus cotistas de forma mensal, pela dinâmica do negócio permitir esse tipo de periodicidade.
Acontece que no agro, os ciclos não duram um mês. As safras podem demorar um semestre e até mesmo um ano, a depender da cultura.
Para alinhar a expectativa do investidor de recebimento periódico de proventos com a imprevisibilidade e duração maior dos ciclos do agro, a solução encontrada foi apostar num caixa saudável.
“Você precisa de caixa, não basta ter resultados positivos. A leitura do mercado é que o investidor quer receber mensalmente ou periodicamente seus proventos Tem exemplos de Fiagros que pagavam trimestralmente e agora estão distribuindo mensalmente os resultados”, diz.
Mesmo sendo um “filho” dos fundos imobiliários, a projeção é que o produto alcance voos mais altos.
Enquanto o pai demorou mais de 10 anos para atingir os 250 mil cotistas, a cadeia dos Fiagros demorou menos de dois anos. Atualmente, os mais de 30 fundos do segmento listados na B3 já superam R$ 10 bilhões em patrimônio.