Os R$ 4 bilhões anunciados pelo BNDES para crédito rural em dólar – e que esgotaram rapidamente - são a ponta do iceberg de um mercado que só tende a crescer no Brasil.
Gestoras e fintechs já possuem iniciativas neste sentido e, por conta do interesse demonstrado também por investidores estrangeiros em colocar recursos no agronegócio brasileiro, buscam ampliar a oferta deste tipo de financiamento.
O BNDES vai disponibilizar, a partir da próxima semana, mais R$ 2 bilhões de uma linha de crédito rural em dólar. Isso um mês depois de ter lançado o produto, com um orçamento inicial de R$ 2 bilhões.
Com a alta demanda nos dois primeiros dias de Agrishow, o banco foi obrigado a dobrar o valor disponível para atender a alta demanda.
Fabricio Pezente, fundador e CEO da fintech Traive, diz que há um grande interesse por parte de produtores rurais por financiamento em dólar. Especialmente nas culturas de algodão, cana, milho e soja.
“O preço dos ativos, ou seja, dos itens produzidos pelos agricultores, está vinculado ao dólar. Então, é muito interessante para eles que o passivo, ou o financiamento da produção, também seja em dólar, pelo menos uma parte”, explica Pezente.
O CEO da agfintech Traive acredita que um dos caminhos para atender a demanda está no mercado de capitais. “Principalmente quando se fala em financiamento em dólar, há muito interesse do investidor estrangeiro no agro brasileiro. É o maior setor da nossa economia, e o que mais cresce”.
Segundo Pezente, há um potencial de bilhões de dólares em captações a serem feitas no exterior. “Geralmente, quando se faz as contas deste potencial, se olha para o financiamento somente dos custos de produção. Mas há os investimentos, e aí a demanda aumenta bastante”.
Ele afirma que ainda é cedo para avaliar o tamanho exato deste potencial, já que o agronegócio ainda está em processo de avanço no mercado de capitais.
“O estrangeiro sabe pouco dos riscos envolvidos na atividade. E a grande maioria dos produtores e dos empresários da cadeia de suprimentos não tem acesso aos instrumentos financeiros. É um processo de educação nas duas pontas”, diz Pezente.
A Traive é uma fintech que faz a “ponte” tecnológica entre empresas do agronegócio e o sistema financeiro. A empresa lançou, em agosto do ano passado, o primeiro CRA Verde em dólar do mercado brasileiro, com captação de US$ 12 milhões.
Além da Agrishow
No comunicado sobre esta segunda parte da linha de financiamento em dólar, o BNDES informou ter realizado sondagens desde o primeiro dia da feira com diversos agentes financeiros, que relataram uma procura grande pelo produto, que foi lançado em abril. Por isso, o banco de fomento decidiu ampliar o volume ofertado.
Os novos recursos estarão disponíveis para os bancos operadores a partir da próxima terça-feira, dia 16. Os juros, segundo o BNDES, partirão de 7,59% ao ano, mais a variação cambial. Os produtores terão até 120 meses para quitar o financiamento, com carência de até 2 anos para a primeira parcela.
Enquanto o BNDES amplia sua linha, outros agentes do mercado financeiro também planejam elevar a oferta de recursos em dólar para empresas do agronegócio, principalmente exportadoras.
A Multiplica, uma boutique de crédito que tem cerca de 70% da sua carteira alocada em agro, vai lançar um fundo de investimentos em dólares somente para atender o exportador brasileiro.
“Nós temos atualmente US$ 120 milhões em operações de financiamento para exportadores. Vamos chegar a US$ 160 milhões até o fim de 2023, e com o fundo, pretendemos dobrar este volume em 2024”, afirma Eduardo Barbosa, sócio e diretor financeiro da Multiplica.
Além do fundo, a casa está em processo de abertura de escritórios próximos aos portos de Santos e Paranaguá, por conta da alta demanda de seus clientes.