O recurso captado fora do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) se consolida como o maior fomentador do cultivo à comercialização no setor produtivo de alimentos e fibras. O incentivo, inclusive do próprio governo, tem feito com que o dinheiro fora do plano safra “irrigue” cada vez mais as lavouras, cenário que permanecerá este ano.

Segundo levantamento mais recente do Banco Central, o crédito público, com juros controlados e sujeito às regras do PAP na safra 2024/2025, movimentou R$ 176,87 bilhões de julho a novembro. O total representa uma queda de 23,5% ante igual período da safra anterior, quando tinham sido liberados R$ 231,14 bilhões.

Já a captação e os estoques dos principais papéis privados de crédito dispararam. Até outubro de 2024, a Cédula de Produto Rural (CPR) registrou R$ 143,37 bilhões em registros na safra, alta de 63% ante o acumulado de igual período de 2024/2024. O estoque de CPR avançou 55%, para R$ 446,30 bilhões.

As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) cresceram 14% em novos registros e no estoque, para R$ 126,09 bilhões e R$ 504,34 bilhões, respectivamente. A maior alta porcentual de cessão de crédito vem dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagros). Esses fundos atingiram R$ 41,30 bilhões em estoque em outubro, alta de 127% ante igual mês de 2024.

Em nota ao AgFeed, o Ministério da Agricultura considerou a CPR como o principal destaque de fomento ao agronegócio. “A CPR tem se consolidado como uma ferramenta eficaz e amplamente utilizada, permitindo que produtores rurais acessem recursos financeiros de maneira mais ágil e flexível, ao mesmo tempo em que oferecem garantias sólidas aos credores”, informou.

O ministério destacou a lei 13.986/2020, que possibilitou a emissão de CPR em formato eletrônico, com registro obrigatório em entidades autorizadas pelo Banco Central ou pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “o que reduz fraudes e aumenta a transparência das operações”.

Além disso, a Pasta citou a ampliação das garantias associadas à CPR, como o patrimônio de afetação e o uso de bens futuros e a medida que limita os bens passíveis de penhora, como outros motivos para o avanço do título de financiamento.

Maior instituição de crédito do agronegócio, o Banco do Brasil apontou uma alta de 13,7% na carteira do setor até setembro de 2024 ante igual mês de 2023, para R$ 386,6 bilhões. O aumento é basicamente pelo avanço dos recursos com juros fora do Plano Safra.

O BB informou que na safra 2024/2025, até 13 de dezembro, já haviam sido desembolsados R$ 121,5 bilhões, “mantendo o ritmo de desembolso apresentado no mesmo período” de 2023.

“Estamos observando mais otimismo por parte dos produtores e produtoras, reflexo da elevação da cotação do dólar na precificação interna dos grãos e fibras”, informou o banco ao AgFeed.

Selic

A possibilidade de a taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,25%, atingir 15% ao ano em 2025 assusta o setor produtivo.

“O cenário é preocupante com possibilidade de menor crédito, já que os bancos em geral vão ter prudência maior com o capital emprestado e vão endurecer a concessão dos recursos”, afirmou Guilherme Rios, assessor técnico da Comissão Nacional de Política Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O assessor da CNA também destacou o crescimento da CPR e dos Fiagros como saídas para os produtores na busca pelo crédito, mas citou a possibilidade de crescimento, nesta metade final da safra, do crédito para custeio dentro do Plano Safra, com juros a 12% ao ano.

Opinião semelhante tem Fábio Fernandes, diretor de negócios da Sicoob Credicitrus.

Em junho passado, quando o Plano Safra foi lançado, a Selic estava em 10,5% ao ano, e essa linha era pouco interessante. Com isso, foram liberados R$ 109,3 bilhões para o custeio na atual safra até novembro, queda de 16% sobre igual período de 2023.

Agora, com a Selic sinalizando para 15% ao ano, essa linha pode crescer, de acordo com Fernandes, da Sicoob Credicitrus, e Rios, da CNA.

Já o Ministério da Agricultura minimizou a alta projetada da Selic e avaliou que a demanda pelo financiamento siga aquecida mesmo com o aumento nos juros.

“As projeções otimistas para os preços de commodities agrícolas no mercado internacional e a expectativa de uma taxa de câmbio depreciada podem contribuir para margens remuneradoras mais favoráveis, sustentando o apetite dos produtores por financiamentos”, justificou.

Cooperativas

A concessão de crédito deve ser mais restrita por parte das cooperativas. Essas instituições terão de adotar o International Financial Reporting Standard 9 (IFRS 9), padrão contábil internacional em seus relatórios financeiros a partir de 2025.

Na prática, segundo Fábio Fernandes, da Sicoob Credicitrus, maior cooperativa de crédito da América Latina, as novas regras determinadas pelo Banco Central significam restrição ao sistema.

Segundo eles, as cooperativas de crédito terão aumentar as provisões contra inadimplência e perdas e até mesmo para o cartão de crédito, mesmo que não haja utilização desse instrumento por parte dos produtores.

“Vamos mudar o cálculo de nota de risco para o crédito e as nossas provisões, com isso os cooperados podem ter mais dificuldades.

Mesmo com a alta nos juros, a Sicoob Credicitrus espera crescer em 20% a carteira de crédito em 2024, para R$ 9 bilhões, incluindo todas as linhas. Para 2025, com tanta mudança e incerteza, ainda não há uma estimativa da cooperativa.