Os desafios climáticos e a situação financeira mais apertada de produtores rurais, que deram o tom nas lavouras agrícolas no ano de 2024, prometiam – e em alguns casos estão cumprindo –, muita dor de cabeça para as seguradoras.

Mesmo com o segmento patinando, a BB Seguridade, holding que pertence ao Banco do Brasil, conseguiu driblar esses problemas e fez sua carteira rural crescer, diminuindo o nível de sinistralidade no seguro agrícola.

De acordo com os números do balanço da companhia, divulgados na noite de segunda-feira, 17 de janeiro, a holding registrou no ano passado uma alta de 2,2% nos prêmios totais emitidos, ou seja, no total arrecadado com a venda de seguros, atingindo R$ 17,5 bilhões.

Desse total, R$ 9,04 bilhões vieram do segmento rural, sendo R$ 3,7 bilhões em seguros de vida para produtores (prestamistas), R$ 2,5 bilhões em seguro agrícola, e R$ 2,45 bilhões de penhor rural.

O seguro agrícola, que protege a lavoura, foi o único que registrou queda (-26,1%) nos prêmios.

Em contrapartida, outras áreas mostraram avanço na comparação anual, seguindo estratégia de diversificação da holding. O seguro de vida do produtor cresceu 21,2% em um ano e 36,8% no quarto trimestre de 2024.

Já o penhor rural teve alta de 28,1% na comparação anual e 35,2% no trimestre, o que pode ser explicado pelo aumento das exigências de garantias por parte dos bancos na oferta de crédito aos produtores rurais, em um momento de maior percepção de risco de inadimplência.

O seguro Penhor Rural, segundo informa o próprio site da instituição, foi criado para o cumprimento de obrigação legal, que exige a contratação de seguro para bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos oriundos de operações de crédito rural.

De acordo com o balanço, a alta do segmento foi impulsionada principalmente pelo penhor de animais, produto lançado em 2024 e que somou R$ 511 milhões no acumulado do ano.

Segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a BB Seguridade detém 63,9% do mercado de seguro rural, liderando esse segmento.

A holding finalizou 2024 com um lucro líquido de R$ 8,7 bilhões, alta de 9,5% em um ano. Além da melhora nos prêmios emitidos, a instituição teve uma melhora na sinistralidade no segmento.

O indicador, que serve para medir a eficiência das seguradoras, ou seja, a relação entre custos com sinistros e prêmios emitidos, caiu 5,2 pontos percentuais no seguro agrícola.

No balanço, a BB Seguridade pontua que a “sinistralidade veio mais baixa do que a prevista na operação de seguros rurais”.

Considerando todo o segmento rural, houve queda de 20,4% para 16,5% de 2023 para 2024. No seguro agrícola, a sinistralidade passou de 34,1% para 28,9%.

No penhor rural, a redução foi de 22,9% para 16,7% em um ano, e no seguro de vida do produtor rural, caiu de 13,4% para 11,7% no mesmo período.

A BB Seguridade cita que a melhora no seguro agrícola foi “consequência de uma menor severidade e queda na frequência dos avisos, além de uma reversão de provisões de sinistros a liquidar residuais da safra verão e de milho safrinha”.

No caso do penhor rural, a melhora foi favorecida por um menor impacto de eventos climáticos extremos, como vendavais e quedas de raios, que haviam sido mais intensos em 2023. A BB Seguridade cita “queda de raios no Mato Grosso” e um maior volume de sinistro de “desvio de produto estocado”.

Para 2025, a empresa já trabalha com uma possível “deterioração no segmento rural”. A instituição espera menos previsibilidade para linhas dependentes de crédito, como é o caso da rural.

Mario Pierry, analista do BofA, afirmou em relatório que os números da BB Seguridade vieram em linha com o esperado pelo banco, e destacou um “papel central” no seguro rural nos resultados.

"A menor frequência de sinistros no seguro agrícola foi um fator-chave para a melhora dos resultados", destacou.

Apesar do bom desempenho no segmento rural, Pierry alertou para um possível impacto da desaceleração do crédito no campo, que pode reduzir a demanda pelo seguro prestamista daqui para a frente.

Para 2025, a BB Seguridade projeta crescimento dos prêmios emitidos entre 2% e 7%, abaixo dos 9% esperados pelo BofA.

Colaborou Italo Bertão Filho.