Na gestora paulista Éxes, a ordem do dia é cortar caminhos. Acostumada a comprar e encarteirar CRAs e CRIs dentro dos fundos da casa criada em 2017, a empresa agora vai passar também a originá-los.
O sócio fundador da empresa, Artur Carneiro, revelou ao AgFeed, que a ideia é aumentar a proximidade e interação diária com a ponta dos empresários que tomam o dinheiro dos investidores, que estão na outra ponta na gestora.
“Queremos controlar esse ambiente como um todo, prestando o mesmo nível de serviço que prestamos na estruturação também no dia a dia da gestão, e também com o investidor que acreditou na securitizadora”, disse.
Essa proximidade acaba eliminando uma securitizadora terceira, algo que, segundo o sócio fundador, é importante também para melhorar o nível de análise de crédito para a Éxes enquanto gestora.
“Verticalizando um processo ao mesmo tempo que trazemos um serviço completo e agregado ao empreendedor que toma o recurso. Vamos ter mais confiança no trabalho, que fornecerá informações e irá liderar o time de gestão da Éxes para pensar em novas operações”, acrescentou.
A nova unidade de negócios já chega ao mercado prestes a emitir um CRI e um CRA. No segundo é um título de R$ 13 milhões para um produtor de grãos.
Para tocar a securitizadora, a Éxes contratou Marina Queiroz, uma executiva com larga experiência no mercado com uma passagem de 10 anos no BTG, onde atuou com estruturação de crédito e conheceu os sócios da Éxes no passado.
A vivência no agro já é antiga, e no banco de André Esteves, ela foi uma das responsáveis por criar a Engelhart, trading de commodities do banco.
“Participei da estruturação para fazer a ponte entre as commodities físicas e o banco”, afirmou a executiva, que atuará como diretora de securitização na companhia.
Segundo ela, a ideia da securitizadora da Éxes é trabalhar com operações menores, que os grandes bancos e gestoras tradicionais não têm apetite ou expertise para fazer.
“São operações menores, mas com qualidade no crédito e valor para distribuir para investidores”, disse Queiroz. A ideia é usar da confiança da marca Éxes para trazer esses produtores para o roadmap.
Fundada em 2017 por Carneiro e seu sócio Bruno Licarião, com uma tese de estar próxima do produtor, a Éxes hoje possui R$ 1,3 bilhão sob gestão espalhados em 15 fundos. Do total, Carneiro estima que 40% vêm de operações do agro.
A vitrine da casa nesse assunto é o Araguaia, negociado pelo ticker AGRX11, Fiagro listado na B3 que possui R$ 182 milhões em patrimônio líquido.
No fundo, a maior parte dos CRAs encarteirados são de produtores de soja, milho e de empresas do setor sucroenergético.
Dentro do bolo, o Fiagro possui ainda um CRA da Agrogalaxy, que impactou a rentabilidade do fundo em setembro. Apesar disso, a gestora pontuou, no último relatório gerencial do fundo, que realizou a venda de ativos e recebeu o pré-pagamento de operações, o que equilibrou as contas e compensou as perdas com o calote da revenda.
Além do Fiagro, a Éxes possui outros dois fundos voltados para o agro. O primeiro é o Xingu 1, um FIDC que está em processo de desinvestimento, e hoje possui cerca de R$ 60 milhões em carteira. No passado, já atingiu R$ 250 milhões.
Nas últimas semanas, a gestora tem captado recursos para o Carajá, um FIDC de R$ 300 milhões que investirá em produtores rurais de soja, milho, algodão e feijão que possuam de 3 mil a 20 mil hectares.
A companhia possui fundos imobiliários, de previdência e de special oportunities (que foca em empresas com dificuldades financeiras). “Temos uma gama completa para atender o investidor em uma ponta e o empreendedor na outra. Temos exposição ao agro em diversos fundos, não só nos dedicados”, afirmou o sócio fundador.
Esse momento de desinvestimento e vendas de ativos trouxe, segundo Carneiro, uma oportunidade para novas alocações, com muitas oportunidades no agro.
O sócio fundador afirma que a Éxes cresce de forma ponderada, tijolo a tijolo. Por isso, a ideia no momento é encarteirar os CRAs e CRIs feitos dentro de casa nos fundos do portfólio.
No futuro, já acostumada ao ambiente, a companhia pensa em abrir oportunidades para que outras gestoras façam emissões utilizando a securitizadora da Éxes.
Além do CRA e do CRI, a ideia é também atuar no mercado de debêntures de infraestrutura. “Sempre olhamos para o mercado buscando sofisticações”.
Por coincidência, enquanto o AgFeed conversava com Carneiro durante um evento na B3 nesta semana, o executivo foi abordado por um produtor rural do Mato Grosso que arrenda terras para grandes empresas, que estava em busca de um financiamento para colocar irrigação em alguns hectares.
O exemplo veio a calhar, e segundo Carneiro, esse tipo de iniciativa é o que busca a securitizadora. “Um produtor que quer investir em irrigação pode se utilizar tanto de uma debênture de infraestrutura quanto de um CRA. Por que não misturar os dois veículos? A securitizadora abre esse tipo de discussão e nos dá flexibilidade de achar a melhor estruturação para o investidor e para o empreendedor”, disse.