O setor de seguros é sempre visto como conservador. Riscos, só do lado de fora, gerando negócios para seguradoras e corretoras.

Para empresas novatas, porém, fazer mais do mesmo nem sempre funciona. A insurtech – como são chamadas as empresas que utilizam tecnologia para inovar no mundo dos seguros – Ceres do Brasil percebeu que não podia ser apenas mais uma para competir no agronegócio.

Criada em 2020, a corretora, com sede em Franca (SP) decidiu ir além dos produtos de prateleira das seguradoras para se posicionar como “especialista na gestão de riscos agrícolas”. E usar tecnologia para estruturar operações diferenciadas para atender clientes do setor.

Uma das apostas da Ceres nessa estratégia são operações conhecidas como seguros paramétricos. São apólices acionadas a partir de um índice pré-definido, acertado entre o produtor e a seguradora, em função das características locais.

Para isso, as ferramentas de inteligência artificial e o uso de dados são fundamentais.

Nos modelos tradicionais de seguro a indenização se dá em função das coberturas existentes e das perdas registradas.

Em entrevista ao AgFeed, o CEO da Ceres do Brasil, Leonardo Maia, revelou que um contrato paramétrico, que seria o primeiro do tipo no país, foi recentemente fechado com a Colombo Agroindústria, tradicional produtora açúcar e álcool no Interior de São Paulo.

Segundo Maia, o grande diferencial do seguro montado pela Ceres não é o custo, mas a cobertura.

“Geralmente, os seguros agrícolas cobrem até 65% da produtividade. Com este método que usamos, estamos cobrindo 95% da produção da Colombo”, diz o executivo.

O executivo não revela o nome da seguradora envolvida, mas diz que tem ajudado as principais empresas do setor a estruturar produtos novos que, posteriormente também serão levados para as resseguradoras, fechando todo o ciclo de contratação.

“Não temos parceria fixa, mas conversamos e somos bem recebidos por todas as grandes seguradoras que atuam no setor”, afirma o CEO.

O seguro paramétrico é um produto montado especificamente para o agronegócio e utiliza análise de dados e IA para determinar os possíveis problemas climáticos que uma área e uma cultura podem enfrentar durante o próximo ciclo, além de projetar a produtividade.

“Com todas estas informações, já conseguimos determinar os parâmetros para uma lavoura e a empresa ou produtor pode acompanhar em tempo real a produtividade, verificar se tem algo fora da curva”, explica o executivo.

Meta bilionária

Com estes instrumentos de inteligência artificial e uso de dados, a Ceres do Brasil conseguiu chegar a R$ 300 milhões em capital segurado na safra 2022/2023.

Para o período 2023/2024, a projeção do CEO, Leonardo Maia, é chegar a R$ 1 bilhão em ativos segurados dentro da sua carteira.

Por ser ainda uma startup, a Ceres tem recebido abordagens de investidores. “Estamos conversando mais seriamente com uma casa, mas ainda nada perto de fechar.

“Acredito que até o final do ano, teremos um investidor. Ainda não chegamos a falar sobre valores e participação”, diz Maia.

A opção pelo seguro paramétrico, segundo o CEO da Ceres, teve outro diferencial.

"Não cobre somente a cana-de-açúcar, mas também a produtividade verificada na moagem da cana", explicou.

Índices como TCH (Toneladas de Cana por Hectare) e ATR (Açúcar Total Recuperável) foram considerados.

"São os indicadores que determinam quanto de cana aquela área produziu, e quanto de açúcar essa cana colhida conseguiu originar".
A Ceres já está com contrato assinado com outra grande empresa do agronegócio, desta vez uma cooperativa de soja do Paraná.

Ainda não estão definidos os índices de cobertura e valores de prêmio e indenização.

No entanto, Maia afirma que este produto para grãos já contém uma diferença importante em relação ao que é oferecido no mercado.

“Como o acompanhamento da lavoura é feito em tempo real, caso aconteça algum evento climático que esteja definido na cobertura, e se detecte impacto na produtividade, a empresa recebe a indenização 45 dias após este evento”, explica.

No caso da cana, a indenização acontece somente no final do ciclo, por conta da relevância da moagem na hora de medir a produtividade.

Segundo Maia, o segurado vira um parceiro na hora de elaborar o seguro. “Ele participa das decisões sobre a cobertura, opina sobre os parâmetros. Não é somente uma contratação passiva”.

Por ter acompanhamento em tempo real, utilizando inclusive satélites, o custo do produto para as seguradoras diminui.

“Não é necessária a presença de um perito ao final da safra. Isso também é um alívio para o produtor, que no modelo tradicional, nunca sabe quando e quanto vai receber a indenização”, diz Maia.

Ele afirma que a Ceres está elaborando produtos para outros segmentos do agronegócio, como um seguro para o manejo da atividade pecuária com florestas. “Pretendemos fazer seguro paramétrico para café também”, conta.

Maia conta que já está tudo pronto para que o seguro paramétrico entre no programa de subvenção do governo.

“Ainda não está disponível para esta safra que está começando. Mas teremos essa possibilidade nos próximos anos”.

Ele conta que no mercado de seguro agrícola, há uma dificuldade entre seguradoras e resseguradoras.

“Com a estiagem dos últimos dois anos em algumas regiões, especialmente no Sul, houve um aumento grande das indenizações. Isso afastou as resseguradoras”.

Para este produto montado pela Ceres, a recepção das resseguradoras é muito melhor, segundo Maia.

“Porque é um produto mais assertivo, que trabalha com dados. Traz mais segurança para toda a cadeia”.