O mar revolto prometido para o mundo do crédito agrícola em 2025 não assusta Rayssa de Melo e Thays Moura, co-fundadoras da startup Agree. Depois de alcançar R$ 800 milhões transacionados no ano passado, a meta para esse ano, segundo revelou Melo ao AgFeed, é de bater R$ 1 bilhão.

A companhia atua como uma espécie de assessoria a produtores rurais. Com escritórios em Brasília (DF), Jataí (GO) e Luís Eduardo Magalhães (BA), a startup prospecta produtores em raios de até 300 quilômetros das sedes das propriedades, faz uma análise própria de riscos e, em seguida, vai até bancos e instituições financeiras do mercado financeiro em busca de soluções de crédito.

Melo e Moura se aproveitam de uma carreira consolidada de mais de uma década que ambas traçaram no BRB, com forte atuação junto a produtores rurais de cidades próximas à capital federal para fazer essa ponte.

“Fiquei 12 anos no banco, sendo 10 atuando com agro. A Thays ficou 16, sendo 14 no segmento. Saímos em 2022 para montar a Agree e atuar nessa captação de crédito para produtores e empresas do agro”, afirmou.

Dessa forma, atualmente ainda não existem bancos “plugados” na plataforma da Agree, que foi desenvolvida no ano passado. Por enquanto, o sistema recebe as demandas dos produtores, que se deparam com os produtos disponíveis em instituições financeiras, mas ainda não conseguem contratar diretamente através da Agree.

“Fazemos um cadastro do que o banco oferece na plataforma. Desse modo, o produtor pode verificar se uma instituição tem linhas livres, controladas ou do BNDES, por exemplo”. Depois disso, é feito um match entre a demanda e o produto e a equipe entra em ação para tirar a ideia do papel. Hoje são mais de 15 instituições financeiras com carteiras ativas na Agree.

De acordo com Rayssa de Melo, o volume de 2024 representou um aumento de 150% na carteira de operações aprovadas, percentual que se repetiu no avanço do faturamento anual frente a 2023.

Para 2025, a Agree planeja acrescentar mais um item ao cardápio de opções de financiamento: um FIDC próprio. A ideia, segundo a co-fundadora, é um fundo inicial de até R$ 40 milhões. “Vamos mostrar para o mercado e testar o produto”, diz Melo.

A companhia já conta, inclusive, com um primeiro investidor. A Bela Juju Ventures, companhia que investe em startups e que foi investidora-anjo da Agree no passado, faria um primeiro aporte, mas a ideia, segundo a co-fundadora, é abrir o leque.

A startup pretende ainda, captar mais recursos com outro investidor-anjo ao longo de 2025. “Queremos continuar a crescer este ano. Entendemos que o mercado está retraído e todos já sabem o cenário de provisão nos bancos. As instituições serão mais rigorosas no crédito, e aí entramos com um papel fundamental para ajudar nessa concessão”, afirmou.

“Com os bancos precisando de mais informações sobre os produtores, entramos para facilitar a vida do agricultor, deixando ele na operação da fazenda, enquanto nós ajudamos a parte burocrática de intermediação no banco”, acrescentou a executiva.

O ano começou de forma acelerada para a Agree, segundo Rayssa de Melo. Ela afirma que o volume de crédito intermediado no primeiro trimestre de 2024 já foi atingido somente em janeiro de 2025.

Ainda neste ano, a empresa pretende trazer novas funcionalidades à plataforma. Além da possibilidade de colocar os bancos para dentro do sistema, Melo pretende permitir que outras empresas consigam acessar a análise de crédito feita pela Agree.

Segundo ela, esse processo diz mais respeito à saúde financeira do negócio do que a parte agrícola. Hoje são mais de “200 grupos econômicos” clientes da Agree, sendo que 90% são produtores rurais de médio e grande porte que atuam na pessoa física. O restante são cooperativas e revendas.

Grande parte são produtores de grãos, como soja, milho e algodão, mas a startup também conta com produtores de cana, café e até pecuária.

A análise de crédito é um serviço que começou a ser feito na metade de 2024. Antes, ficava a rigor apenas da instituição financeira que cederia o dinheiro. “Com os problemas que o agro enfrentou entre 2023 e 2024, de queda nos preços das commodities, sentimos a necessidade de uma validação própria”.

Dessa forma, a startup insere as informações de clientes e cruza os dados com diversas bases de dados. Atualmente, a Agree faz testes para incluir informações do Banco Central na esteira.

Para atuar nessa intermediação, Melo conta que toda a equipe comercial da agfintech é formada por ex-bancários. “Não contratamos quem nunca teve contato prévio com o agro nos bancos. Queremos aqueles que saibam atender dentro e fora da instituição financeira”.