Com operações que demandam grandes quantidades de energia e, assim, enormes operações para a compensação das emissões de gases de efeito estufa geradas em sua produção, as gigantes da área de tecnologia estão entre as maiores compradoras de crédito de carbono no mercado global.

Não por acaso, uma das maiores transações envolvendo créditos provenientes da remoção de carbono da atmosfera tem no lado comprador a Microsoft, uma das maiores companhias de software do mundo.

Anunciada nesta terça-feira, 18 de junho, o negócio envolve um total de 8 milhões de créditos – o equivalente à remoção de 8 milhões de toneladas de carbono. Do lado vendedor está o Timberland Investment Group (TIG), controlado pelo BTG Pactual e dono de um dos mais ambiciosos projetos de reflorestamento e restauração de matas nativas do planeta.

Segundo comunicado do TIG, os créditos serão entregues até 2043 por meio de um projeto de US$ 1 bilhão realizado pelo grupo na América Latina, em parceria com a Conservation International

O BTG Pactual é hoje, através de suas empresas, um dos maiores detentores de ativos de timber (madeira) e florestais do mundo, com mais de US$ 6 bilhões em florestas sob sua gestão globalmente, segundo afirmou seu fuindador, o banqueiro André Esteves, em evento realizado em São Paulo em maio.

O site da TIG informa que são US$ 6,9 bilhões em ativos e compromissos e quase 1,2 milhões de hectares sob gestão nos EUA e na América Latina.

No Brasil, a estratégia do banco no segmento envolve a compra terras degradadas, em geral fazendas de gado de baixa produtividade localizadas entre o sul da Amazônia e o norte do Cerrado. Nessas propriedades, planta um mix de florestas originais e comerciais, engaja as comunidades locais e vende os produtos originários da madeira comercial. E acumula os créditos de carbono do projeto, para negociação com grandes grupos globais.

Na transação com a Microsoft, os créditos virão da conservação, restauração e plantio de propriedades desmatadas e degradadas em regiões selecionadas da América Latina, incluindo o Cerrado brasileiro.

O projeto com apoio da Conservation International tem como objetivo proteger e restaurar cerca de 135 mil hectares de florestas naturais. Em outra parea de tamanho semelhante, serão cultivadas milhões de árvores em florestas comerciais de manejo sustentável, certificadas de forma independente pelos padrões do Forest Stewardship Council (FSC).

Isso representa quase mais de três vezes a área total de 37 mil hectares que, segundo o comunicado, já receberam investimentos do TIG para o plantio de mais de 7 milhões de árvores. O grupo também já iniciou a restauração de aproximadamente 2.600 hectares de floresta natural.

Até agora, segundo o grupo, mais de 297 espécies foram identificadas apenas na primeira propriedade envolvida no projeto. Nela, a ideia é restaurar uma faixa ciliar de 400 metros de largura, criando um corredor de quase 5 quilômetros até uma grande floresta natural vizinha. Assim, estariam conectados, no final, quase 10 mil hectares de habitat natural.

No Cerrado, o TIG lançou um projeto de pesquisa com a Universidade de Viçosa para estudar técnicas de restauração, que envolve a instalação de um experimento de campo de 81 hectares para entender a eficácia de diferentes métodos, como regeneração natural assistida, semeadura direta e plantio de mudas nativas.

De acordo com a TIG, 60% dos créditos negociados na transação virão do sequestro de carbono em florestas nativas recém-restauradas e os outros 40%, nas fazendas de árvores comerciais recém-estabelecidas e manejadas de forma sustentável.

“Investidores institucionais têm um papel crítico de entregar soluções baseadas na natureza em uma escala que importa para o clima e para a biodiversidade”, disse Gerrity Lansing Head do TIG.

“A escala dessa recuperação florestal e da produção sustentável de madeira que o TIG busca entregar com a nossa estratégia de reflorestamento é o que permite uma transição de créditos de remoção de carbono desta magnitude”

A aquisição dos créditos faz parte da estratégia da Microsoft para ter uma pegada negativa de carbono até 2030 e, até 2050, remover do ambiente todas o histórico operacional de emissões realizadas desde que a companhia foi fundada, em 1975.

“Os avanços da Microsoft rumo ao objetivo de emissões negativas necessitam de projetos inovadores que podem escalar rapidamente e de forma sustentável a remoção de carbono”, afirmou Brian Marrs, diretor sênior de Energia & Remoção de Carbono da Microsoft.

“Este projeto exemplifica como o reflorestamento e a recuperação podem entregar a remoção de carbono em escala, enquanto apoiam comunidades locais e restauram ecossistemas vitais. Esta estratégia irá atrair investimentos para a conservação e ajudará a escalar a remoção de carbono em linha com o que a ciência climática exige”, disse.