Quando se fala de preservação do meio ambiente no Brasil, a primeira palavra que vem à cabeça da maioria das pessoas é Amazônia. No entanto, um importante fundo criado para apoiar iniciativas de agricultura sustentável resolveu colocar no centro das suas ações o Cerrado, que tem sua maior área localizada no Centro-Oeste brasileiro.
A escolha é explicada pela assinatura de seu criador e principal financiador. O Land Innovation Fund (LIF) é uma iniciativa da gigante americana de grãos e alimentos Cargill, que origina na região grandes volumes de commodities agrícolas que processa ou comercializa. Hoje, conta também com outros parceiros.
A instituição já investiu quase US$ 13,5 milhões em soluções implementadas por 54 parceiros, que apoiam produtores na adoção de uma agricultura ecologicamente sustentável. Em três anos, apoiou o desenvolvimento de 44 projetos, com 26 inovações já entregues.
Ashley Valle, diretora do LIF, afirma que o objetivo do fundo agora é avaliar o andamento e a conclusão destes projetos que ainda não foram entregues.
“Ainda temos diversos projetos ativos, em implementação por nossos parceiros. O Fundo está analisando os resultados para traçar os próximos passos”, afirma Valle.
A executiva conta que 75% dos recursos são direcionados para projetos na região do Cerrado. “Isso por conta da forte presença da cultura de soja no Centro-Oeste brasileiro, que estabelecemos como prioridade para a prática da agricultura sustentável”.
Cerca de 15% dos recursos estão voltados para projetos na Amazônia, e outros 10% para a área do Gran Chaco, que abrange Argentina, Paraguai e Bolívia.
Na escolha dos projetos que recebem seu apoio, o LIF busca propostas com enfoques inovadores em diversos segmentos, como políticas públicas, finanças, conservação, produção e engajamento.
Valle ressalta que os valores colocados pela Cargill e por outras empresas e parceiros não têm objetivo de investimentos. “São recursos que não vão voltar para as empresas, servem realmente para apoiar essas iniciativas, sem expectativa de retorno”.
Segundo o LIF, os projetos alcançam mais de 2 mil propriedades rurais nas regiões onde atua, com área total de 2,5 milhões de hectares.
O resultado direto apurado até o momento pelo fundo é a conversão de 41 mil hectares de vegetação nativa em ecossistemas ameaçados nas América do Sul.
Uma das principais iniciativas apoiadas pelo LIF é o Programa Soja Sustentável do Cerrado, com apoio inclusive da Embrapa. Foram US$ 925 mil direcionados para 18 projetos dentro deste programa.
“Nós detectamos no Cerrado uma urgência maior de atuação, por conta da força da cultura de soja na região. É um bioma que já passou por diversas dificuldades”, conta a diretora do LIF.
Uma das iniciativas apoiadas pelo fundo, citada como modelo por sua diretora, é a coordenada pela empresa goiana Produzindo Certo, especializada em organizar cadeias de fornecimento sustentáveis, para a capacitação de produtores rurais e técnicos agrícolas no Cerrado.
O LIF informa que, no total, o projeto da Produzindo Certo levantou mais de US$ 36 milhões em recursos para esse programa, que atuou na capacitação de profissionais para prestarem assistência técnica em sustentabilidade para agricultores, assim como na qualificação dos próprios produtores para que estejam aptos a acessar instrumentos de crédito verde, como o crédito de carbono.
Sobre a relação com os produtores, Valle afirma que um dos critérios mais importantes para que um projeto receba apoio do LIF é que faça sentido economicamente para o desenvolvimento das propriedades rurais.
“Foi um processo de ganho de confiança. Nós conversamos com as associações locais de agricultores, explicamos os nossos objetivos, e deixamos claro que o objetivo não é fazer o produtor escolher entre produzir e preservar”, explica.