Na visão do CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil), a sigla ESG, ou em português ASG (ambiental, social e governança), precisa mudar.

A organização, que é conhecida por promover o “Desafio da Soja”, uma competição que todo ano premia os produtores responsáveis pelo hectare mais produtivo do grão no Brasil, agora quer traçar novos caminhos, e juntar sua expertise com a sigla ESG.

Em entrevista ao AgFeed, o presidente e cofundador do CESB, Marcelo Habe, revelou que a entidade irá lançar um novo desafio, esse focado em sustentabilidade.

Em 2024, a associação deve promover um evento para lançar a proposta do desafio, que já está sendo desenhado há cerca de dois anos. A primeira edição do novo concurso deve ocorrer, no entanto, somente no ano que vem.

“Ainda estamos verificando a parte da mensuração e indicadores para o prêmio. Queremos trabalhar com indicadores práticos”, disse Habe, que também atua como diretor de vendas na Agripon, empresa da área de controle biológico. Ao longo de sua carreira, ele passou quase 20 anos na Syngenta e mais alguns anos na Sumitomo e na Nufarm.

A iniciativa mostra bem o momento atual do comitê, que quer mostrar que a produtividade e a sustentabilidade podem e devem ser colocados na mesma prateleira. Diante desse momento, o CESB tem defendido a inclusão da letra P, de produtividade, na sigla ESG/ASG.

Assim, o prêmio de sustentabilidade também terá um recorte de produtividade e segundo o presidente, o CESB pretende dar orientações para os produtores que querem estar alinhados com o conceito do ASGP, defendido pelo comitê.

“Faremos como no desafio de produtividade: começaremos com uma barra mais baixa e, conforme o aprendizado e aderência dos sojicultores for aumentado, vamos colocando outros indicadores. A ideia é elevar cada vez mais essa barra e transferir tecnologia e informação”, comentou.

Habe contou que, desde a criação do CESB, em 2008, a temática da segurança alimentar tem sido colocada na mesa. Nos últimos anos, com as projeções de aumento da população global, o tema ganhou mais participação ainda.

A defesa de incluir a Produtividade junto dos preceitos de sustentabilidade veio daí. “A produtividade é uma uma ‘poupança de terra”, afirmou.

Em seus cálculos, se o Brasil não tivesse passado pelos aumentos de produtividade sucessivos desde os anos 1970, impulsionado pela Embrapa, a produção atual só seria possível com uma área agricultável duas ou três vezes maior.

Na soja, o Brasil planta cerca de 45 milhões de hectares a cada safra e, considerando outras culturas, a área vai para 60 milhões. Segundo Habe, sem o avanço da produtividade, estaríamos falando em algo acima dos 100 milhões de hectares. “Imagina quanto de floresta e Cerrado seria destruído para colocar essa terra aqui”, comentou.

Além dos desafios de produtividade e, agora, de sustentabilidade, Habe conta que o CESB tem uma agenda cheia de participações em fóruns e eventos com sojicultores. O comitê tem também uma série de grupos de trabalho, que reúnem bimestralmente especialistas em diversas áreas para definir estratégias.

“É importante saber para onde vamos e construir ferramentas. No caso da sustentabilidade, precisamos mensurar, precisamos de indicadores. Alguns nós já definimos como medir a quantidade de carbono no solo e a diversidade da fazenda, mas precisamos de componentes que comparem ‘o quanto sustentável é um produtor versus outro”.

Tudo isso, no fim das contas, serve para os sojicultores brasileiros terem uma referência de boas práticas, de acordo com o presidente.

Ele comenta que sempre após as divulgações do vencedor do desafio da produtividade, o site do CESB recebe “dezenas de milhares” de mensagens de produtores querendo saber a “receita” do vencedor.

Levar essa mensagem também tem suas dificuldades, ainda mais em momentos como o atual.
Depois de safras com margens altas, o produtor viu na temporada passada uma queda brusca no preço dos grãos, e agora, na safra 2023/2024, vê os efeitos climáticos do El Niño provocando quebras de produção em algumas regiões.

O CESB quer mostrar que a produtividade não está obrigatoriamente associada a mais investimentos. A grande dificuldade nesse sentido é convencer esse produtor mais tradicional, que, nas palavras de Marcelo Habe, é “muito São Tomé, precisa ver para crer”.

“Já ouvi de produtores que não participam do Desafio da Soja que é ‘só colocar adubo e pronto’. Se fosse só isso, todo mundo produziria mais de 100 sacas por hectare. A tecnologia é só um elemento, não se aumenta produtividade só com investimentos”. diz

O comitê quer mostrar com seus concursos que práticas que, em muitos casos, geram economia para o produtor, também ajudam na produtividade.

Um exemplo citado por ele é a velocidade do plantio. Uma máquina que roda a 10 km/h não vai colocar a semente no espaçamento correto quando comparado a uma velocidade de 6 km/h, diz Habe. “O espaçamento correto gera mais produtividade e uma plantadeira mais devagar economiza combustível e emite menos CO2”, afirma.

O CESB é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e atua em conjunto com players gigantes do agro brasileiro e global. Para manter o comitê em funcionamento, essas empresas atuam como patrocinadores.

Os patrocinadores Master, categoria mais alta do pódio, são a AgroGalaxy, a Basf e a Syngenta. Abaixo, estão empresas como Jacto, Corteva, Koppert, Mosaic, Stoller e Yara.

A organização ainda tem como apoiadores uma série de associações representativas e ONGS como a Abisolo, Abiove, CNA e a The Nature Conservancy.