Piracicaba (SP) - De olho em dobrar a produtividade da cana-de-açúcar no Brasil até 2040, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), tradicional empresa de biotecnologia e pesquisas sobre a commodity, está apostando em lançamentos que envolvem novos transgênicos, uma nova plataforma de variedades e um projeto inédito de sementes sintéticas.

Além do benefício natural aos produtores, seja financeiro via aumento de margens ou de redução de custos que as novidades prometem, uma avenida verde pode se estender à frente dos canicultores.

Em um cenário em que a produtividade de cana de fato dobrasse nos próximos 15 anos, o potencial de evitar emissões de CO2 avançaria em 129% em relação ao nível atual.

As informações constam em um estudo inédito conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo CTC, divulgado nesta terça-feira, dia 15 de abril.

Nesse cenário, a produtividade passaria de 75 toneladas de cana por hectare em 2022 para 150 toneladas por hectare em 2042.

Com esse salto, as emissões potenciais evitadas saltariam de 78 milhões de toneladas atuais para 178,6 milhões de toneladas por ano, o equivalente a 50% das emissões anuais atuais de um país como a França e 8% das emissões atuais totais do Brasil.

O estudo levou em consideração uma condição em que as usinas trabalhassem com um mix 100% de produção no etanol. Considerando um mix mais parelho com o açúcar, o potencial atual de evitar 109,6 milhões de toneladas de CO2, uma alta frente aos 46,1 milhões de toneladas atuais no mix açúcar/etanol.

Segundo o diretor de inteligência setorial da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e coordenador do núcleo de bioenergia no Observatório de Bioecoenomia da FGV, Luciano Rodrigues, o setor de energia sempre foi pautado em uma garantia de suprimento e preços acessíveis, o que mudou nos últimos anos.

“Essa estrutura ganhou um novo componente associado à mudança climática. Falamos de um preço acessível com menor emissão de CO2”.

Rodrigues acrescentou que esse cenário de produtividade dobrada poderia fazer a receita de descarbonização, considerando o mercado de CBIOs, poderia subir de R$ 900 para R$ 2 mil por hectare.

Segundo o diretor, para dobrar esse potencial produtivo, a cultura da cana precisa passar por algumas transformações.

“Esse cenário considera uma base de dados com 75 mil registros obtidos de usinas, e o aumento leva em conta a introdução de novas tecnologias, novas sementes, ganhos associados a uma melhor sanidade e redução do número de cortes”, completou Rodrigues.

O contexto ainda traria uma redução na intensidade de carbono do etanol de 22,2 gramas de CO2 por megajoule para 18,5 gCO2/MJ. O dobro de produtividade ainda demanda maior uso de insumos, o que acaba descontando parte do potencial.

“O estudo comprova que as tecnologias do CTC têm potencial para transformar a produtividade em ganhos ambientais concretos. Evitar quase 180 milhões de toneladas de CO2 por ano até 2042 traz uma contribuição significativa para as metas climáticas do Brasil”, afirma Cesar Barros, CEO do CTC.

Destrinchando por tecnologia, Rodrigues, da FGV, estima que 49% do ganho seria advindo das melhorias em genética e biotecnologia. Ademais, seriam 29% na evolução das sementes, 12% de um ganho incremental agrícola e 10% do aumento da eficiência das usinas.

O estudo utilizou a RenovaCalc como ferramenta de cálculo da intensidade de carbono dos biocombustíveis. A tecnologia foi desenvolvida pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e pelo IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), e é utilizada no mercado de CBIos.

A FGV e o CTC não levaram em consideração o avanço do mercado de etanol de milho, que tende a impulsionar a produção de açúcar em detrimento do etanol nas usinas tradicionais de cana.