A distância enorme que ainda há entre os compradores de carbono internacionais e a viabilidade da geração de créditos pelo agro brasileiro ficou evidente em debate promovido hoje, em São Paulo, pela Eccon Soluções Ambientais e pela Santos Neto Advogados.

“No que se refere ao produtor rural, precisamos de maior clareza de mercado. Ele não sabe como vai ser avaliado, porque em vários processos já foi subavaliado e vê que o mercado não reconhece tudo que ele já desenvolveu”, afirmou Juliana Lopes, diretora de ESG da gigante de grãos Amaggi.

No mesmo painel, a superintendente de Global Markets do Itaú BBA, Maria Belen Losada, afirmou que há volume de compradores no mundo, “que têm dinheiro para investir, mas não há créditos bons no mundo”.

Um dos motivos para este descompasso e ainda “baixa oferta” por parte dos brasileiros, especificamente no agro, é a diferença de metodologia, reforçaram os especialistas.

A diretora da Amaggi lembrou que a Embrapa está trabalhando para que as metodologias internacionais sejam adaptadas à agricultura tropical, mas ponderou que os testes em campo levam pelo menos 3 anos e que, por isso, pode-se dizer que uma solução para o problema, até que a mudança ocorra, leve até 7 anos.

Neste cenário, em entrevista ao AgFeed após o evento, Lopes disse que “no prazo de oito meses” é possível que se viabilize os primeiros passos da Amaggi para vender carbono no mercado, chegou a dizer isso também ao ser abordada por um representante de uma empresa que se disse interessado em comprar créditos da trading de grãos.

A executiva acredita que o maior potencial no Brasil está nos projetos relacionados à remoção de carbono, que levará em conta as práticas de agricultura regenerativa e melhoria das condições de solo, algo a que a Amaggi está dedicando esforços.

Ela admitiu, no entanto, que para que se viabilize algum movimento ainda este ano é provável que o caminho mais rápido seja com projetos de conservação de florestas e vegetação nativa.

“Estou mais otimista com o de conservação porque dá resultado mais rápido, já está lá, é só conseguir alavancar os créditos e fazer a venda”, afirmou.

A Amaggi tem hoje 147 mil hectares de reserva legal e área de preservação. “Sabemos que temos uma parte em excedente, mas estamos observando o mercado e fazendo os pilotos, já que as vezes não agrega em termos de valor ainda”.

Para o futuro, a empresa tem meta de ser carbono zero até 2050. E a prioridade deve ser a remoção de carbono, baseada em boas práticas agrícolas, segundo ela.

A diretora disse que entre maio e junho a empresa deve receber os caminhões que vão funcionar 100% com biodiesel, algo que também vai ajudar neste processo de descarbonização da empresa. “Vamos comparar estas práticas com o modelo anterior e ver o que gera de redução”.