Assim como nos produtores rurais que operam como pessoa jurídica, os pedidos de recuperação judicial avançaram também entre os produtores pessoa física nos últimos meses.
De acordo com dados divulgados pela Serasa Experian, no segundo trimestre deste ano, foram 214 produtores pessoa física que buscaram o recurso. O levantamento mostrou que a maior parte dos produtores, 99 ao todo, não são proprietários de terra. São ou arrendatários ou grupos familiares ligados ao setor.
O número mostra uma alta de 98% na comparação direta com o primeiro trimestre, quando foram anotados 108 pedidos. No segundo trimestre do ano passado, foram 34 pedidos.
“Para os produtores rurais que lidam com mais essa modalidade de comprometimento financeiro, além dos fatores econômicos, o desafio acaba sendo ainda maior”, comentou o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, em nota enviada à imprensa.
Por porte, foram 44 solicitações de pequenos proprietários, 36 de grandes e 35 requerimentos de médios produtores.
Para Pimenta, os eventos climáticos, a elevação da taxa de juros, a baixa do preço das commodities e a alta dos custos de produção foram agentes que impactaram negativamente a estabilidade financeira no campo, principalmente para produtores que já estavam muito alavancados.
“Ainda assim, apesar da alta, é preciso ponderar que o número absoluto de solicitações é pequeno se considerarmos um universo com cerca de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito rural durantes os últimos dois anos no País”, afirmou.
Por região, foram 57 e 54 pedidos nos estados de Mato Grosso e Goiás, respectivamente, os líderes do ranking. Na sequência estavam os estados de Minas Gerais, com 35, Mato Grosso do Sul, com 23 e Paraná, com 12 pedidos.
“Como há uma forte concentração de RJs no MT e em GO, isso tem gerado um pessimismo para credores que passaram a atuar na região nos últimos anos”, acrescenta Pimenta.
O levantamento considerou produtores de todos os portes e processos registrados na empresa a partir de tribunais de justiça espalhados pelo País.
Pimenta, da Serasa, acredita que a velocidade dos pedidos tem desacelerado nos últimos meses e, após números em alta no segundo trimestre, os pedidos devem baixar a partir de julho, considerando o delay natural até os produtores requisitarem o pedido e de fato entrarem em RJ.
O AgFeed mostrou esta semana que o número de recuperações judiciais entre os produtores rurais que trabalham como pessoa jurídica também teve alta expressiva. O levantamento revelou 121 pedidos, um avanço de 40,6% frente aos 86 pedidos anotados no trimestre anterior, entre janeiro e março deste ano, e quase três vezes maior que no mesmo período em 2023. Com isso, no primeiro semestre foram 207 pedidos.
Mesmo longe de uma crise setorial, avaliando a quantidade de produtores rurais que existem no Brasil, Marcelo Pimenta acredita que os dados de alta nas inadimplências e nas RJs fizeram um movimento de players do setor em agir de forma mais ativa para impedir uma disseminação na prática.
"Houve uma campanha nos bastidores de conscientização que tem dado resultado, mas há um trabalho ainda grande a se fazer", contou ao AgFeed em uma entrevista recente.
"No semestre passado houve muita discussão e atuação junto ao judiciário para entender a dinâmica das RJs e o real cenário. Com isso, vimos que apesar do aumento, a velocidade tem reduzido”.