A demanda brasileira por fertilizantes pode crescer 16,5% até 2036 por conta do programa de recuperação e reaproveitamento de pastagens degradadas.

A estimativa é de José Carlos Polidoro, assessor executivo do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que participou nesta terça-feira, 2 de setembro, do 12º Congresso Brasileiro de Fertilizantes promovido pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em São Paulo.

“A estimativa do setor, que vem se confirmando ano a ano, é de que cheguemos, com a produção agrícola atual, a 56,5 milhões de toneladas em 2030. Mas com o programa de reutilização de terrenos degradados, esse número pula para 58,5 milhões”, afirmou o especialista, um dos responsáveis pelo Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas no Mapa.

“Em 2036, a projeção era de uma utilização de 62,7 milhões de toneladas, mas como programa ela deve pular para 73,1 milhões de toneladas”, disse. Esse salto representa um aumento de demanda de 16,5%.

O Brasil tem 40 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser aproveitadas pelo Programa Caminho Verde Brasil (rebatizado pelo governo em abril).

“Em dois anos, foram reaproveitados três milhões de hectares -- é um número abaixo da estimativa. Nesse ritmo a gente não chega nos 40 milhões de hectares em 10 anos, que é a meta. Daqui para frente, entretanto, vamos converter mais de seis milhões de hectares por ano”, diz Polidoro.

O maior empecilho ao reaproveitamento de áreas degradadas é o custo para recuperação do solo. Entre fertilizantes, maquinário, sementes e mão de obra, estima-se um gasto, segundo Ministérios, de R$ 6 mil a R$ 12 mil por hectare.

Até agora, os agricultores que fizeram a conversão usaram linhas de financiamento do Plano Safra. Mas em alguns meses o governo deve colocar em prática uma linha de financiamento, a Agroinvest, com juros de no máximo 10%. A linha atual, do plano Safra, fica acima disso.

Essa nova linha de crédito deve, segundo o assessor do Mapa, melhorar o ritmo de aproveitamento de solo, e, consequentemente, a demanda por fertilizantes.

“Isso é um processo burocrático entre os operadores financeiros, mas estamos mais perto do que longe de lançar essa linha”, diz Polidoro.

“Há um impacto de mais de 5 milhões de toneladas por ano sobre o que já vai ser o consumo daqui a 10 anos. E isso vai crescendo”, afirmou.

“Esse ano, ano que vem, vai aumentar 500 mil toneladas. Em 2030, vai estar em torno de uns 2 milhões a mais. Mas depois de 2030, o negócio explode, principalmente no Cerrado e na Amazônia, onde há mais disponibilidade de áreas degradadas. Aí vamos chegar, provavelmente, num cenário mais mediano, a 6 milhões de toneladas a mais”, disse.

Aspectos culturais também atrasam o avanço do programa, diz o especialista. “A adoção de uma nova prática tem toda uma desconfiança, insegurança. Mas quando o vizinho começa a fazer e dá certo, todo mundo faz”, explicou Polidoro.

Para ele, a indústria de fertilizantes precisa estar preparada para absorver esse aumento na demanda, principalmente no que tange a parte logística da cadeia.

Profert

No mesmo painel do Congresso da Anda, o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), disse, por meio de participação digital, que o Projeto de Lei 699/2023, que cria o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (Profert), poderá ser aprovado já na semana que vem.

Ele não deu detalhes sobre a tramitação do programa. O projeto desonera o gás natural e concede benefícios fiscais para indústrias de fertilizantes.