Uma das marcas de 2023 tem sido a lenta comercialização da safra de grãos e também da compra dos insumos, mas quando surgem as “janelas de oportunidade” produtores não perdem tempo, aproveitando para fechar negócios, como ocorreu nesta segunda-feira (28/8).
Com a colheita de uma super safra de soja de 154,6 milhões de toneladas e o dólar caindo para o patamar abaixo de R$5, produtores capitalizados que podiam postergar as vendas – e que ainda contavam com os escassos armazéns – seguraram ao máximo a tomada de decisão.
O analista Vlamir Brandalizze disse ao AgFeed que as vendas da safra 2022/2023, que terminou de ser colhida no primeiro trimestre do ano, estão em 74,5%, enquanto no mesmo período do ano passado atingiam 82%.
Pela média histórica, nesta época, as vendas já deveriam estar superando 80% da produção.
A safra de soja 2023/2024 no Brasil começa a ser plantada nas próximas semanas e, de acordo com a última previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), tem tudo para bater novo patamar recorde, podendo chegar a 163 milhões de toneladas.
"Farmer Selling” aquecido
No jargão de corretores e tradings a maior ou menor atividade dos produtores rurais em vender a produção é chamado de “FS”, abreviação para o famoso "farmer selling".
E quem acompanha o mercado da soja sabe que a combinação de preços em alta na Bolsa de Chicago – referência mundial para a commodity – e real desvalorizado em relação ao dólar costuma "aquecer” esta atividade de vendas dos produtores rurais, já que as cotações na moeda local ficam mais atrativas.
"Podemos dizer que a cotação atingida hoje foi a melhor para o produtor desde o período da colheita da soja", avaliou Brandalizze.
A soja fechou cotada em Chicago acima de R$ 14 por bushell enquanto há 3 meses estava em US$ 12. Uma piora nas condições das lavouras norte-americanas, afetadas pelo clima, é um dos fatores que favoreceu a alta.
Na maior parte do dia, o dólar operou em alta, o que atraiu os agricultores para as vendas. Estima-se que possam ter sido vendidas até 1 milhão de toneladas de soja nesta segunda-feira, sendo que o volume da “safra nova” teria ficado entre 300 mil e 500 mil toneladas.
Para Flavio Almeida da ACI Commodities, “este é um momento de mercado climático, por isso estas variações ainda podem ocorrer".
Já Vlamir Brandalizze acredita que até pode subir um pouco, "mas está perto do topo". Ele lembra que quando começar a colheita nos Estados Unidos e o plantio da safra brasileira deve haver uma pressão de baixa.
Apesar do movimento deste início de semana, as vendas da safra 2023/2024 seguem bastante atrasadas. Segundo a Brandalizze Consulting, foram comercializados 19% da produção estimada, enquanto a média histórica para esta época do ano é de 30%.