Quem passar pelas lojas e redes varejistas entre os meses de março e abril, vai perceber que as opções de chocolates para a Páscoa estão mais variadas – e eventualmente com menos chocolate.

As áreas antes destinadas à exibição de ovos de Páscoa agora dividem espaço com outras opções de produtos, que incluem caixas, tabletes e até kits acompanhados de brinquedos e presentes.

Na receita da diversificação entram em cena ingredientes como castanhas, amêndoas, biscoitos e frutas, que passam a ocupar um espaço antes dominado pelo chocolate.

Essa variedade na oferta tem sido puxada principalmente pela alta dos preços do cacau, que em 2024 chegou à sua maior cotação em 50 anos, comercializado próximo de US$ 13 mil a tonelada.

Os sucessivos aumentos da sua principal matéria-prima fizeram com que as empresas chocolateiras precisassem se planejar ainda mais para continuarem produzindo de forma eficiente, sem repassar os custos mais altos para o bolso do consumidor.

Durante evento com representantes da indústria que aconteceu em São Paulo em meados de março, a reportagem do AgFeed conversou com executivos das principais marcas de chocolates do país e todos foram unânimes em dizer que a alta da commodity fez com que as empresas tivessem de investir ainda mais em eficiência e gestão de custos.

“Tivemos uma alta de 300% no cacau e de 10% no valor do chocolate nas gôndolas, motivado principalmente pela inflação, já que o nosso compromisso é não onerar o consumidor”, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Jaime Recena.

Segundo a associação, a indústria deve produzir 45 milhões de ovos de Páscoa para esse ano, volume 22% inferior aos 58 milhões de ovos produzidos para a Páscoa 2024. Já o leque de produtos disponível para o consumidor deve chegar a 803 tipos, sendo 95 lançamentos especiais para o período.

Assim, mais do que melhorar a eficiência, também foi o momento de investir no desenvolvimento de produtos com formatos variados.

“Teremos uma Páscoa democrática, com produtos para todos os gostos e bolsos”, enfatizou Fernando Careli, diretor de assuntos corporativos da Ferrero, dona, entre outras, das marcas Kinder, Ferrero Rocher, Nutella e Rafaello.

Segundo o executivo, as vendas da companhia devem crescer dois dígitos durante a Páscoa e a aposta está justamente no portfólio diversificado.

“Desde setembro de 2024 entramos na categoria de tabletes com a marca Ferrero Rocher, onde ainda não estávamos presentes e temos conquistado maior participação nesse mercado a cada mês”, afirma, sem revelar números.

Na Nestlé, a expectativa é de que as vendas de ovos na Páscoa 2025 sigam em ritmo de crescimento similar a 2024, quando a companhia produziu cerca de 13 milhões de ovos.

A dona das marcas Alpino, Talento, Batom e KitKat também aposta na diversificação da oferta de produtos para a Páscoa. E, com o cacau caro, sobretudo na categoria que inclui outros ingredientes como biscoitos e recheios com sabores.

“O brasileiro começa a demandar produtos com outras texturas e sabores, comportamento que já é bastante comum na Europa e que vemos potencial para continuar crescendo por aqui”, avalia a executiva.

Para os próximos anos, a executiva destaca que a palavra de ordem é inovação. “Estamos investindo na maior variedade de produtos, para que os consumidores possam optar pelos sabores e valores que caibam melhor em seus bolsos e preferências”, pondera.

Para dar continuidade aos lançamentos, a companhia está investindo R$ 2,7 bilhões em inovação e ampliação da capacidade produtiva de suas unidades no Brasil. Anunciado no final de 2023, o valor será investido até o final de 2026.

No campo, a Nestlé reforça as parcerias para a produção de cacau sustentável por meio do CocoaPlan. Implantado em 2009, o projeto que inclui orientações e boas práticas conta com cerca de 6,5 mil produtores de cacau participantes e tem foco na melhora da eficiência e da produção.

“Na Páscoa de 2025 teremos 100% do cacau com origem sustentável”, explica Tatianna.

“Em um cenário de alta dos preços globais do cacau, esse programa tem se mostrado ainda mais importante, para garantir que tenhamos produtores fortalecidos e melhor preparados para as oscilações climáticas”, avalia a executiva.

A alta das commodities, aliás, é assunto que deve seguir na pauta das empresas pelo menos até o final de 2025, na opinião dos executivos.

“Vemos perspectivas de que essa alta permaneça ao longo do ano e estamos preparados para esse cenário. Sabemos que a recuperação da oferta é algo que leva tempo para acontecer”, avalia a vice-presidente de marketing da Mondelēz, Renata Vieira.

Para Careli, da Ferrero, o preço do cacau é apenas um dos elementos que compõem a alta do custo para as indústrias no atual cenário.

“Temos outros ingredientes e, além disso, a alta do frete, questões relacionadas a armazenamento e o próprio cenário de inflação, que exigem do setor ainda mais planejamento”, pondera.

“A alta do cacau movimentou o mercado todo, fazendo com que investíssemos ainda mais em produtos inovadores, aprofundando o cuidado com embalagens, processos industriais e melhora da eficiência”, explica Iris Ferraz, gerente de produtos da Cacau Show.

Ela explica que o aumento da commodity exigiu maior criatividade e planejamento da marca, que conta com 4,7 mil lojas espalhadas pelo país. Segundo Iris, a previsão para o ano é de crescimento, tanto nas vendas quanto no número de lojas.

“Temos um portfólio com 78 produtos, sendo 42 apenas de lançamentos e relançamentos de itens a pedido dos consumidores. Além dos chocolates, produtos acompanhados de presentes como brinquedos e itens com biscoitos vem ganhando espaço nas vendas”, explica.

A estratégia de relançar produtos que “peguem” o consumidor pela memória afetiva, é, inclusive, uma tendência do mercado que ajuda a driblar os ajustes de preços. Na Mondelēz, por exemplo, um dos produtos de destaque é o ovo Trakinas, em homenagem ao biscoito que marcou gerações.

“Ao todo teremos 10 lançamentos para a Páscoa, incluindo versões de caixas de bombons menores, para garantir que os consumidores tenham acesso a produtos de categorias variadas”, avalia Renata.

No ano passado, as vendas da companhia registraram aumento de 20% apenas na Páscoa e a expectativa é de que o crescimento seja similar na temporada 2025, com maior variedade de produtos.