O Brasil tem mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais – e 500 mil deles atuam como pessoa jurídica, segundo dados do IBGE. Olhando por essa ótica, o número de 121 produtores rurais PJ que pediram recuperação judicial no segundo trimestre deste ano é irrisório do ponto de vista estatístico.
Ao mesmo tempo, o indicador, divulgado nesta quarta-feira, 23 de outubro, pela Serasa Experian, é uma amostra fiel dos efeitos nefastos do cenário de endividamento crescente no meio rural brasileiro.
O levantamento revela um avanço de 40,6% frente aos 86 pedidos anotados no trimestre anterior, entre janeiro e março deste ano, e quase três vezes maior que no mesmo período em 2023. Com isso, no primeiro semestre foram 207 pedidos.
A tendência de alta nos pedidos, já vista há alguns meses, deve começar a se inverter somente a partir do segundo semestre deste ano, segundo avaliação da empresa.
De acordo com o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, o agro é um setor cíclico e passa por um momento de retração.
“O que está acontecendo agora é o reflexo de uma combinação de eventos diversos que causaram perdas e desafios significativos no campo. O aumento dos juros, o preço ameno das commodities e os custos mais altos para a produção, impactaram de forma negativa aqueles que já estavam comprometidos financeiramente”, disse, em comunicado oficial.
No recorte recém-divulgado é possível avaliar os setores do agro mais afetados pelo atual momento de turbulência.
A maior parte dos pedidos (53) veio de produtores de soja, outros 25 da pecuária e 23 para outros cereais. Em sequência estava o cultivo de café, com 7 solicitações e a horticultura, com 3.
Por região, Minas Gerais e Mato Grosso tiveram mais requisições, com 31 e 28 pedidos, respectivamente. Na sequência veio Goiás, com 15, e Mato Grosso do Sul, com 12.
O levantamento considerou produtores de todos os portes e processos registrados na empresa a partir de tribunais de justiça espalhados pelo País.
Pimenta ainda acredita que a velocidade dos pedidos tem desacelerado nos últimos meses e, após números em alta no segundo trimestre, o segundo semestre deve ter uma baixa nos pedidos, considerando o delay natural até os produtores requisitarem o pedido e de fato entrarem em RJ.
A divulgação dos números referentes às RJs de produtores que atuam como pessoas físicas deve acontecer nos próximos dias.
Para além dos produtores, a Serasa Experian notou um aumento nos pedidos de RJ entre empresas que atuam diretamente ligadas ao agro. Durante o segundo trimestre deste ano, foram 94 pedidos, 22% a mais que nos primeiros três meses do ano.
A maior parte dessas empresas eram agroindústrias de transformação, com 34 solicitações. O restante do Top 5 ficava com “serviços de apoio à agropecuária (16)”, “Indústria de processamento de ‘agroderivados’ (13)”, “Comércio atacadista de produtos agro primários (12)” e “comércio atacadista de produtos agro processados (9)”.