Com ventos de cerca de 200 km/h, o implacável furacão Milton chegou à Flórida, no Sul dos Estados Unidos, na noite de quarta-feira, dia 9 de outubro, destruindo casas, interrompendo o fornecimento de água e energia – e também afetando a agricultura local.

A chegada do furacão ao estado americano preocupa principalmente pelos danos que pode trazer à já combalida produção de citros na região.

Segundo o meteorologista chefe da Everstream Analytics, Jon Davis, em entrevista à emissora de TV FOX Weather, o caminho do furacão, que cruzou com o cinturão citrícola da Flórida, deve causar danos graves nos laranjais e trazendo perdas de produção nos próximos anos.

A chegada do desastre climático acontece em meio ao começo da colheita de frutos precoces, segundo informações da Dow Jones Newswires.

“Com a projeção contínua da trajetória do furacão Milton para o leste, é fundamental que estejamos novamente preparados para um impacto significativo na indústria cítrica da Flórida”, previa Mathew Joyner, CEO do grupo Florida Citrus Mutual, em carta aberta divulgada antes do impacto provocado pelo fenômeno climático.

A Flórida é um dos maiores produtores da fruta nos Estados Unidos e no mundo e vinha se recuperando nos últimos anos, de perdas provocadas em duas frentes: uma, o furacão Ian, de 2022, que afetou significativamente a produção – safra daquele ano, com 16,1 milhões de caixas, foi a pior das últimas oito décadas; antes disso, por conta do avanço do greening, doença que afetou cerca de 80% dos pomares do estado.

Já no ciclo 2023/2024, a produção de laranjas havia sido de 17,96 milhões de caixas, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), volume que representa uma expansão de 14% em relação à safra anterior - mas ainda bastante abaixo dos resultados anteriores à ocorrência do Ian e do greening.

Há dez anos, no ciclo 2014/2015, a safra de laranja da Flórida era de 96,6 milhões de caixas, por exemplo.

Outra fonte de preocupação com os impactos do Milton é a indústria de fertilizantes da Flórida.

O estado abriga mais de 60% da produção de fosfato de amônio e rocha fosfática dos Estados Unidos, concentrada próxima à Baía de Tampa, na costa oeste da Flórida, duramente atingida pelo furacão.

“Se você escolher ficar em uma das zonas de evacuação, você vai morrer”, disse a prefeita Jane Castor na véspera da catástrofe.

A região também é um grande polo de comercialização dos insumos. Pelo porto de Tampa, costumam passar 40% de todas as exportações de fertilizantes de fosfato dos Estados Unidos.

Grandes empresas como Mosaic e Nutrien têm plantas na rota do furacão. A Mosaic anunciou a paralisação de suas operações no estado.

A planta de fosfato da Mosaic em Riverview já tinha sido paralisada pela presença do Furacão Helene na Florida, há duas semanas, que inundou a fábrica.

Para Veronica Nigh, economista-chefe do The Fertilizer Institute, o desastre natural deve manter os preços de fertilizantes elevados. “A previsão é que o impacto desses furacões continue a levar a preços elevados de fosfato no futuro próximo", afirmou ela.

O Helene, que matou mais de 200 pessoas em seis estados americanos e foi considerado o pior furacão desde o Katrina, em 2005, também trouxe prejuízos à agricultura e afetou diversas culturas como soja, algodão, milho, pecuária, latícinios, vegetais, frutas – especialmente mirtilo e morango – e nozes.

A produção de aves do país, forte especialmente na Geórgia e na Carolina do Norte, deve ter sido a que mais sofreu perdas com o desastre climático, segundo levantamento preliminar da federação American Farm Bureau. Na Flórida, cerca de 1 em cada 7 aviários foram danificados ou destruídos.

“Essas perdas não apenas reduzirão o fornecimento imediato de aves, mas também prejudicarão a capacidade de produção local por meses ou até anos”, afirmou a federação.