O discurso pela soberania do Brasil e novas críticas ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos desde agosto sobre produtos brasileiros dominaram o evento que confirmou a safra brasileira recorde de 350,2 milhões de toneladas de grãos e fibras no ciclo 2024/2025, nesta quinta-feira, 11 de setembro, na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Coube aos ministros Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) as críticas ao governo de Donald Trump, responsável, segundo eles, pelos americanos pagarem a conta pela alta nos preços de alimentos importados.

Negociador do governo e porta-voz da crise com os norte-americanos, o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, manteve o tom diplomático. Ao lado dos colegas, citou a mudança na política interna da Conab, com a retomada de estoques, e a queda na inflação com a maior oferta de alimentos.

Paulo Teixeira afirmou ter notícias que grande parte dos produtos agropecuários brasileiros continua indo para os Estados Unidos mesmo com 50% de tarifa, “porque os americanos não prescindem de alimentos tão bons quanto os nossos”. O ministro afirmou que outros mercados importadores e até o interno absorveram outra parte de produtos antes destinados aos norte-americano.

Segundo ele, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), esta semana, ainda prejudica as negociações para a retirada de tarifas ou ampliação da lista de exceções nas importações.

“Creio que, acabando esse julgamento, resolvendo essa questão, nós poderemos retornar à racionalidade econômica, que é os Estados Unidos comprarem os nossos produtos e fornecê-los bem lá. E espero que termine logo, porque o preço do hambúrguer, o preço da carne nos Estados Unidos, está muito caro, punindo o americano”, afirmou Teixeira.

Carlos Fávaro afirmou que as políticas públicas que garantiram o recorde da safra e sucessivos recordes em valores absolutos nos Planos Safra nos últimos três anos deram resultado, com queda na inflação e abertura de novos mercados externos, 435 até o momento. De acordo com o ministro, o Brasil tem capacidade de viver em qualquer adversidade.

“Vamos chegar a, certamente, 500 novos mercados abertos e isso mostra uma nova estratégia brasileira na comercialização dos nossos produtos. Se, infelizmente, os Estados Unidos quiserem retaliar mais, como disse o ministro Paulo Teixeira, quem estará pagando essa conta será o povo norte-americano”, afirmou Fávaro.

O ministro ecoou a fala do colega e disse que o tarifaço de Trump teve pouco impacto para o brasileiro e muito ao cidadão norte-americano. “Mas eu tenho certeza que a racionalidade vai reinar. Eu torço pela história de 201 anos de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, mas também nós somos soberanos”.

Fávaro não perdeu a oportunidade de retomar as críticas ao Banco Central pela taxa básica de juros, atualmente 15% ao ano, um freio ao crédito agrícola. “O Banco Central é independente e também nos dá a independência. Não faz sentido ter juros de 15% ao ano com inflação de 4% a 4,5%”, disse.

“Isso precisa ser revisado para que a gente possa continuar crescendo, fazendo planos de saldo maiores, estimulando o crescimento da economia. Eu tenho certeza que o bom senso vai reinar também no Banco Central”.

Já o vice-presidente e ministro evitou falar sobre o embate com os Estados Unidos. Em um breve pronunciamento, Alckmin atribuiu a oferta de alimentos ao “trabalho duro e competência” dos produtores e a política pública correta que trazem resultados. Para o ministro, com a alta na produção “é hora de comprar e fazer estoques” para serem escoados em momentos de queda na produção e garantir a regularidade de preços.

Safra recorde

A produção brasileira de grãos na safra 2024/2025 deve alcançar um volume recorde de 350,2 milhões de toneladas, de acordo com o 12º levantamento da Conab, divulgado nesta quinta-feira. O resultado representa crescimento de 16,3%, ou 49,1 milhões de toneladas, em relação à temporada anterior.

De acordo com a Conab, o avanço expressivo é resultado principalmente da expansão de 1,9 milhão de hectares na área cultivada e das condições climáticas favoráveis, sobretudo no Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso. A área total plantada somou 81,7 milhões de hectares, alta de 2,3% frente à safra 2023/2024.

Essa estimativa ficou 1,4% acima da divulgada em agosto, puxada pelo desempenho do milho segunda safra, que superou as expectativas, e por ajustes para cima nas produções de arroz e soja. Os dados de produtividade da soja foram revisados pela Conab com base em mapeamentos e imagens de satélite.

Além do recorde geral, as produções de soja, milho e algodão em pluma também foram as maiores da história. A colheita de soja é estimada em 171,5 milhões de toneladas, crescimento de 13,3% sobre o ciclo passado. O milho aparece na sequência, com 139,7 milhões de toneladas, alta de 20,9%, seguido pelo algodão em caroço, com 5,7 milhões de toneladas, aumento de 9,7%.

No entanto, os ministros e os técnicos da Conab destacaram a alta na oferta de arroz, de 20,6%, para 12,8 milhões de toneladas em 2024/2025, graças ao crescimento de área e produtividade.

Resumo

  • Conab registra safra 2024/2025 recorde de 350,2 milhões de toneladas, com alta de 16,3% sobre o ciclo anterior, puxada por milho e soja
  • Ministros Carlos Fávaro e Paulo Teixeira criticam tarifa de Trump, defendem soberania e dizem que custo recai sobre americanos
  • Alckmin evita críticas diretas, reforça estoques da Conab e credita resultado a produtores e políticas públicas corretas