Responsável por 40% das exportações globais de arroz, a Índia está provocando reações pelo mundo, após a decisão de suspender os embarques do cereal do tipo não basmati, o que poderá afetar também os arrozeiros do Brasil.
O objetivo do governo indiano ao suspender as exportações daquele que é o principal tipo de arroz produzido no país é conter o avanço dos preços. Segundo as autoridades locais, as cotações do arroz do tipo não-basmati subiram 3% em um mês no país asiático.
Esse avanço no preço ocorreu por uma escassez das chamadas chuvas de monções, que causaram danos às plantações. O grande problema é que o país é o maior exportador mundial do grão.
Em 2022 foram exportadas 55 milhões de toneladas de arroz ao redor do mundo, com a Índia sendo responsável por 22 milhões de toneladas. Uma interrupção nas vendas deste produto por parte do maior player, acaba trazendo um rebuliço ao mercado.
Em entrevista ao AgFeed, o analista da consultoria e Safras & Mercado, Evandro Oliveira, lembrou que a Índia exporta arroz para cerca de 140 países, com os principais destinos em regiões do Sudoeste Asiático e da África Oriental.
Dentre os principais compradores estão Benin, Bangladesh, Camarões, Guiné e Nepal. A tendência, segundo Oliveira, é que esses países passem a comprar o arroz vindo de outros países próximos, como o Vietnã e Paquistão.
Por aqui, o Brasil conta uma produção anual de cerca de 10 milhões de toneladas. Desse total, 90% é consumido internamente e o restante é exportado. No mercado externo, nosso país fornece, principalmente, para países da América Latina e da África ocidental, competindo com os Estados Unidos.
Na visão do analista, essa situação na Índia acaba influenciando todo o mercado global de arroz. Na Bolsa de Chicago, o contrato futuro da saca de arroz avançou 3% na última semana, cotado atualmente em torno de US$ 85, o mesmo preço praticado aqui no Brasil.
A dinâmica de preços elevados deve continuar se a proibição indiana persistir, e é nesse ponto que o Brasil pode se beneficiar. Mais do que capturar novos mercados, o preço pode melhorar as margens dos produtores brasileiros.
O analista Evandro Oliveira comentou que os produtores brasileiros de arroz estão com um grande problema de custos. Além disso, uma possível safra maior de arroz norte-americano indicava uma tendência de queda nos preços, algo que pressionaria ainda mais as margens dos arrozeiros brasileiros.
Como a situação da Índia aumenta a demanda global por arroz e, consequentemente, os preços aumentam, os produtores brasileiros podem respirar mais aliviados em relação a suas margens, avalia o consultor.
“Essa proibição da índia deve ajudar no final de ano. Nós dependemos muito das exportações principalmente no segundo semestre. Precisamos de uma reação nos preços domésticos brasileiros, principalmente no Rio Grande do Sul”, destacou Oliveira, acrescentando que isso pode até causar um aumento de área plantada na safra de verão.
Oliveira ressaltou ainda que a Índia tomou uma atitude parecida em setembro do ano passado. Na ocasião, o país colocou uma taxa de 20% nas exportações de alguns tipos de arroz.
Mesmo assim, teve uma produção recorde de 22 milhões de toneladas em 2022, algo em linha com o que era projetado pelo USDA para esse ano até essa proibição.
De lá pra cá, segundo ele, a Índia fez um movimento para aumentar a área plantada com arroz e garantir o abastecimento. Com isso, houve um aumento dos preços de venda para incentivar os produtores, mas a temporada ruim de chuvas frustrou os planos dos indianos.
Entre os fatores que preocupam os países consumidores de arroz no mundo inteiro também está a possibilidade real de um El Niño, que pode diminuir ainda mais a produtividade.
Além do debate econômico, alguns estão questionando a Índia em relação a outro aspecto - o da alimentação.
O USA Rice, entidade que representa a indústria de arroz dos Estados Unidos, divulgou uma nota afirmando que a medida adotada pela índia “contribui para disparar os preços mundiais do arroz e exacerbar ainda mais a insegurança alimentar em países dependentes de importações”.
No documento, o processador de arroz americano e presidente do Comitê de Política Comercial Internacional de Arroz dos EUA, Bobby Hanks, disse que “essa política é apenas mais um exemplo da Índia brincando com a segurança alimentar global”.
A entidade americana diz que a Índia citou as preocupações com o abastecimento doméstico e não levou em consideração os estoques públicos e privados.