Em momentos de crise ou de maior instabilidade na economia, uma das maiores preocupações do sistema financeiro brasileiro é com os níveis de inadimplência. No agro, não tem sido diferente, mas, de acordo com levantamento da Serasa Experian, os bancos têm menos dores de cabeça com seus clientes ligados ao setor.

A empresa de dados de crédito apurou que, no primeiro trimestre de 2024, uma proporção de 7,3% das pessoas físicas que atuam nas principais atividades ligadas ao agro tinham alguma dívida vencida há mais de 180 dias.

O número representa uma alta de 0,8 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano passado.

O número representa uma alta de 0,8 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano passado, mas também uma queda de 0,3 ponto na comparação com o segundo trimestre do ano passado, cujo levantamento o AgFeed mostrou em primeira mão em novembro passado.

Essa variação é considerada positiva pela Serasa Experian, levando-se em conta os preços menores de produtos importantes como soja e milho, em relação ao período entre 2020 e 2022.

“Mesmo com os diversos desafios enfrentados pelo setor no último ano, como a queda do preço das commodities e a subida dos custos de insumos agropecuários, os números de inadimplência no agro se mantiveram praticamente estáveis, e a maior parcela dos proprietários rurais brasileiros conseguiu honrar seus compromissos financeiros”, afirma Marcelo Pimenta, head de agronegócios da Serasa Experian.

Também é possível perceber que a inadimplência entre os que trabalham no campo é menor que a média geral das pessoas físicas brasileiras.

O mapa atualizado mensalmente pela Serasa Experian mostra que, no geral, mais de 44% da população brasileira carrega algum atraso em suas operações de crédito. Nesse levantamento, a empresa não especifica o número de dias em atraso.

Ao dividir o levantamento por tamanhos de propriedades rurais, fica claro que os pequenos proprietários são mais pontuais com seus compromissos financeiros.

Os atrasos superiores a 180 dias nessa categoria fecharam o primeiro trimestre em 6,5%, variando 0,6 ponto em um ano. Entre os médios proprietários, o cenário é parecido, com índice de 6,7% e a mesma variação ano a ano vista entre os pequenos.

A situação muda bastante quando se trata de grandes áreas e de produtores rurais que não possuem registro de cadastro rural.

No caso dos grandes proprietários rurais, a proporção de pessoas físicas com atrasos acima de 180 dias em operações de crédito chega perto dos 10%, com variação também de 0,6 ponto em um ano.

A maior alta em relação ao primeiro trimestre de 2023 aconteceu entre as pessoas que não possuem registro de cadastro rural, com 1,5 ponto, chegando também perto de 10% de inadimplência.

Regiões e gerações

Nos três primeiros meses do ano, portanto antes das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e começo de maio, a Região Sul apresentou os menores índices de inadimplência da população rural do país.

A proporção de atrasos ficou abaixo de 5%, bem distante da segunda região com melhor resultado no período, o Sudeste, que teve pouco mais de 6% da população com atrasos acima de 180.

O pior resultado aconteceu na região classificada pela Serasa Experian como Norte Agro, com 10,5%, seguida da Nordeste Agro e o grupo conhecido como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), com 9%. O Centro-Oeste Agro teve uma inadimplência de 7,5%.

Outro dado curioso envolve a grande diferença registrada de acordo com a faixa etária dos trabalhadores rurais. Entre os mais idosos e os mais jovens, há uma diferença de 8 pontos percentuais.

Pouco mais de 3% da população rural com 80 anos ou mais registrou atrasos superiores a 180% em seus débitos entre janeiro e março deste ano.

Essa proporção vai aumentando gradativamente, chegando a dobrar quando se olha para a faixa entre 60 e 69 anos, e a triplicar quando se trata das pessoas entre 40 e 49 anos.

Na faixa mais jovem do levantamento da Serasa Experian, entre 18 e 29 anos, os atrasos acima de 180 dias atingem mais de 11% da população rural.

A companhia explica que levou em consideração no levantamento pessoas com dívidas vencidas entre 180 dias e cinco anos e que somam pelo menos R$ 1.000 em operações de crédito.