A semana começou com a confirmação de uma notícia aguardada pela indústria de biocombustíveis e a expectativa por outra decisão igualmente relevante para o setor.

No fim do mês, o governo federal deve propor o aumento do percentual obrigatório de etanol na gasolina, passando dos atuais 27% para 30%.

A medida, que já vinha sendo discutida desde março, será levada à reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que deve se reunir ainda neste mês, segundo disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em um evento realizado na Fiesp nesta segunda-feira, dia 16 de junho, em São Paulo.

O colegiado, liderado pela pasta de Silveira, também deve avaliar o percentual de biodiesel no diesel, outra pauta de grande interesse da cadeia produtiva.

Pelo que prevê a lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo deveria ter aumentado a mistura obrigatória de biodiesel no diesel de 14% para 15%, em março passado.

No entanto, com a popularidade do presidente Lula em baixa e a inflação dos alimentos em alta, o governo optou por adiar a decisão, aguardando um momento mais favorável para a mudança.

Representantes do setor de combustíveis, reunidos nesta segunda-feira em um evento do Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCBrasil), em São Paulo, avaliam que o Executivo já pode fazer a alteração prevista.

“Já esperávamos que acontecesse em março. Além disso, muitas empresas investiram contando com o B15”, afirmou Erasmo Carlos Batistella, CEO da Be8, que participou do evento, à reportagem.

Presente no mesmo evento, o deputado Arnaldo Jardim, relator do projeto que deu origem à Lei do Combustível do Futuro, também defendeu o avanço da mistura obrigatória.

“Quando houve a última resolução do CNPE, eles alegaram que não ia de B14 pra B15 em razões de estudos que precisavam ser feitos e porque também estavam preocupados com um nível grande de adulteração de combustíveis”, recordou Jardim ao AgFeed.

Segundo o deputado, três fatos ocorridos desde então reforçam a mudança de cenário: o ministro Silveira se reuniu com a Polícia Federal para tratar do tema; o setor se comprometeu a doar equipamentos à ANP para reforçar a fiscalização; e foram adotadas medidas legislativas para combater fraudes.

“Essas três ações aconteceram e essa é a razão pela qual eu acho que, agora, conseguiremos avançar com o B15”, afirmou.

A legislação estabelece que a mistura de biodiesel ao diesel deve chegar a 20% até março de 2030. Jardim sugeriu que, além de aprovar o B15, a reunião do CNPE também dê início aos estudos para elevar a mistura a um percentual acima de 20%.

”Precisa de um estudo mais profundo porque é um outro patamar tecnológico”, afirmou ao AgFeed.

Erasmo Battistella, da Be8, fez coro: “Esperamos que comecem imediatamente os testes de validação do B25, que já é olhar para o combustível do futuro.”

Durante fala no painel, ele salientou que o “biodiesel pode mais”, uma vez que a descarbonização dos veículos leves já está encaminhada, mas a dos veículos pesados, ainda não.

“É por isso que estamos testando nosso biocombustível BeVant em máquinas agrícolas e máquinas do setor de construção.”

Battistella fez referência ao Be8 BeVant, um biocombustível desenvolvido e patenteado pela Be8.

O produto visa ajudar empresas a atingirem suas metas de descarbonização no transporte em curto prazo, pois pode ser utilizado puro em motores a diesel de petróleo.

Além de ser utilizado em todas as máquinas a diesel da unidade industrial da Be8 em Passo Fundo (RS), foram iniciados testes em parceria com a John Deere em máquinas agrícolas.

A partir deste ano veículos terrestres do Aeroporto de Congonhas (SP), como viaturas, equipamentos de movimentação de cargas e aviões, além de geradores.

A Be8 também fechou parcerias de fornecimento com o Centro Tecnológico Randon, Ambipar, Gerdau e linhas de ônibus do Grupo Abreu, em São Paulo (SP).

Resumo

  • Governo federal deve propor aumento da mistura de etanol na gasolina de 27% para 30% ainda em junho, segundo o ministro Alexandre Silveira
  • Setor dos biocombustíveis espera também a elevação da mistura obrigatória de biodiesel no diesel de 14% para 15%, prevista na lei do Combustível do Futuro, mas adiada pelo governo por razões políticas e econômicas