Que a China ainda cresce, mas não no mesmo ímpeto de décadas atrás, é um fato. Essa desaceleração, que mostra uma certa estabilidade da economia local, afeta um setor que viveu anos de vacas gordas - o de frigoríficos.

Resultados mais recentes das exportações brasileiras mostram que os chineses estão pagando preços menores pela carne brasileira, mesmo com a exportação ainda em patamares elevados.

No mês de maio, por exemplo, apesar de as exportações se manterem crescendo em 11% em termos de volume, na comparação com o mesmo mês do ano passado, a receita caiu os mesmos 11%, refletindo um preço menor comercializado.

O faturamento atingiu US$ 965,2 milhões, ante US$ 1,086 bilhão em maio do ano passado, e o volume foi de 200 mil toneladas, frente a 180 mil toneladas. O preço médio de maio de 2022 foi de US$ 6 mil por tonelada e o de maio deste ano numa faixa de US$ 4,8 mil por tonelada.

Os dados são da Abrafrigo, a Associação Brasileira de Frigoríficos, que compilou dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Secretaria de Comércio Exterior, e que foram divulgados no final da última semana.

Em relatório, o analista de agro, alimentos e bebidas da XP, Leonardo Alencar, pontuou que os volumes comercializados ficaram em linha com as estimativas da corretora, e ressaltou que o aumento foi causado por fortes embarques para a China.

O gigante asiático importou em maio 112,3 mil toneladas do produto, ante 40.909 toneladas em abril.

“O resultado contrasta com abril, quando os volumes desapontaram com disputas sobre estoques de carne”, comenta Alencar.

Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto, casa de análises de investimento em ativos agropecuários, ressalta que essa queda no pagamento médio na carne bovina vinda da China tem sido uma constante com todos os parceiros do país. “Outros fornecedores do país também estão passando por isso, como a Argentina”.

No acumulado do ano até maio, contudo, tanto a receita quanto os volumes são menores que em 2022 no mesmo período.

Nesses cinco meses, as exportações de carne bovina geraram receita de US$ 3,8 bilhões e volume de 840.419 toneladas, quedas de 24% e de 8%, respectivamente, na comparação com esse intervalo em 2022.

Do outro lado, nos frigoríficos a produção está a todo vapor. Dados trimestrais do IBGE mostraram que de janeiro a março todas as categorias de proteínas animais tiveram aumentos nos abates em relação ao mesmo período de 2022.

Enquanto o abate de bovinos avançou 4,7%, o de frangos subiu 4,8% e o de suínos cresceu 1,8%.

Essa produção alta deve continuar a trazer bons resultados em termos de volume, mas a situação da China ainda pode pressionar o resultado financeiro, já que aparentemente, os chineses não querem tirar o escorpião do bolso.

Lygia acredita que essa tendência deve se manter até o final do ano, com o preço médio por tonelada se estabilizando na faixa de US$ 5 mil, com possibilidades de aumentar para faixas até US$ 5,5 mil.

“Não esperamos grandes altas porque o mercado não está a fim de pagar mais e já caímos bastante de anos anteriores para cá. Em termos de volume, esperamos até que haja uma aceleração sazonal, já que, historicamente, exportamos mais no segundo semestre", pondera.