Dez dias depois de anunciar a suspensão das operações em Rio Grande, a Bunge “está retomando gradualmente” os trabalhos na cidade, conforme nota divulgada nesta segunda-feira pela empresa, uma das maiores do mundo na exportação de grãos.

O texto lembra que “mesmo não tendo sido impactada diretamente pelas inundações, as atividades na unidade foram suspensas no dia 9 de maio, em caráter preventivo, para preservar a segurança dos colaboradores”.

A trading diz que retomou o carregamento no terminal portuário, assim como a recepção de grãos em Rio Grande. “Esperamos que as operações de esmagamento de soja sejam retomadas até o final desta semana”, informou a empresa. A empresa afirma que seguirá monitorando a situação na região e “tomando decisões com foco nas pessoas”.

O comunicado de hoje da Portos RS, que administra o Porto de Rio Grande, mantém a informação de que o calado segue reduzido para 12,8 metros nos terminais da “Bunge, Bianchini e Termasa/Tergrasa, em função das correntezas”.

Na última sexta-feira, o AgFeed mostrou que o calado reduzido impede que os navios sejam carregados com o total de sua capacidade. Esta dificuldade, somada ao acesso mais difícil via terrestre – diversas rodovias gaúchas seguem bloqueadas – vem gerando cautela entre as tradings que, em alguns casos, passaram a realocar navios do porto gaúcho para outras localidades, como São Francisco do Sul-SC e Paranaguá-PR.

Corretores que atuam na região de Rio Grande dizem que o cais comercial e a Termasa estão com as atividades paralisadas. Este último estaria parado devido a um incidente, ocorrido há cerca de 10 dias. O reparo pode levar até 10 meses.

O AgFeed também conversou com o presidente do Sindanave-RS, sindicato das agências marítimas de Rio Grande, Fernando José Fuscaldo Junior. Segundo ele, o acidente no Termasa, que levou a paralisação do terminal, foi causado pela correnteza muito forte. “Um navio bateu no cais e eles estão avaliando, mas acredito que realmente vai demorar alguns meses”, afirmou.

Fuscaldo Junior afirma, no entanto, que o cais comercial não parou, “por ser um locais mais abrigado. “As áreas do porto foram construídas com nível bem elevado, não há risco para os armazéns não tem risco, se fossem atingidos toda a cidade estaria debaixo d’água”, disse ele.

O presidente do sindicato informou que, nesta segunda-feira, dois navios zarparam do porto de Rio Grande carregados com soja, dentro do limite que o atual calado permite. “Um deles da Bianchini e outro do Tergrasa. E novos navios já atracaram, mas tudo com muito cuidado, em função da correnteza”.

De janeiro a abril do ano passado foram exportadas 1,2 milhão de toneladas de soja pelo Porto de Rio Grande. Nos quatro primeiros meses deste ano o volume subiu para 1,5 milhão de toneladas, segundo dados da Anec, em função da safra recorde no Rio Grande do Sul.

Quando as chuvas e enchentes atingiram o estado, nos primeiros dias de maio, cerca de 70% das lavouras haviam sido colhidas e houve grandes perdas em áreas que prometiam altas produtividades.

Luís Fernando Fucks, vice-presidente da Aprosoja RS, disse ao AgFeed que uma das regiões onde as lavouras foram mais afetadas pelos alagamentos foi a metade Sul, que ele chama de “fronteira agrícola”, já que antigamente não eram áreas tradicionais de soja.

“É uma região em que se pode plantar mais tarde em função do fotoperíodo, que é diferente. Lá foram perdidas lavouras de 600 hectares onde já se esperava uma média de 65 sacas” contou Fucks. Nesta área do estado, segundo ele, quando chegaram as chuvas volumosas, ainda faltava colher 50% .

Ele conta que muitas áreas foram colhidas às pressas e foram levadas para os secadores cargas de soja com 65% de umidade “e muito grão ardido”.

Neste cenário, participantes de mercado acreditam que a exportação de soja por Rio Grande, apesar da safra ainda maior, pode ficar abaixo das 10,6 milhões de toneladas embarcadas em 2023. “Talvez não passe de 9 milhões de toneladas”, o que representa 3 milhões de toneladas a menos que a expectativa inicial.

A safra gaúcha, na visão da Aprosoja, que chegou a ser estimada em 23 milhões de toneladas, “não deve chegar a 20 milhões”. Um dos efeitos desta situação têm sido a alta de preços ao produtor, que estava abaixo de R$ 110 por saca antes da chuva, em algumas regiões gaúchas, e agora opera mais próximo da faixa de R$ 120.