A segunda safra de milho, conhecida entre os produtores como safrinha, deve ter uma produção 10,5% menor na temporada 2023/2024, quando comparada com o ano anterior. A estimativa é da consultoria Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, que relacionou essa perspectiva à redução de área e às condições climáticas irregulares em grandes estados produtores, como Mato Grosso do Sul e Paraná.
Segundo a avaliação, divulgada nesta quarta-feira, 22 de maio, esses fatores devem fazer com que a produtividade caia em 7% da atual safrinha, ficando em 98,8 sacas por hectare. Com isso, segundo as contas da consultoria, o volume total da safrinha deve ficar em 96,7 milhões de toneladas de milho.
A estimativa concide com a largada da etapa do milho safrinha do Rally, quando as equipes vão a campo verificar as lavouras em quatro estados produtores – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná.
“Será o momento de dimensionar a safra, com dados sobre população de plantas, número de espigas, grãos por espiga, peso de grãos e condições fitossanitárias, entre outros, que irão refletir a produtividade no final da expedição”, explica André Debastiani, coordenador do Rally.
Os primeiros levantamentos da Agroconsult apontam, entretanto, que a redução na produção, quando comparada a uma safra recorde em período anterior, não impede que haja bom potencial de produtividade nos estados de Mato Grosso (118 sacas por hectares) e Goiás (112 sacas por hectares).
Isso acontece, segundo Debastiani, porque a expectativa inicial de um calendário ruim para implantação da segunda safra não se concretizou e as janelas de plantio acabaram se mostrando favoráveis para o milho nas principais regiões produtoras.
Segundo a consultoria, Mato Grosso, registrou o segundo plantio mais rápido de sua história e teve chuvas bem distribuídas durante o desenvolvimento, asssim como Goiás. De acordo com o levantamento da Agroconsult, 80% e 65% das lavouras desses estados, respectivamente, possuem alto potencial produtivo.
“O cenário do Mato Grosso do Sul, sem dúvida, é o mais preocupante. Toda a região Sul do estado foi afetada pela estiagem que já causou danos irreversíveis”, explica Debastiani. O volume de chuvas ficou abaixo do ideal no Paraná e Minas Gerais, Maranhão, Piauí e Tocantins implantaram as lavouras de segunda safra em uma janela de maior risco climático, em razão do atraso da safra da soja.
Em relação à área plantada, a Agroconsult reviu para cima sua estimativa, em relação à previsão feita no início do ano. Hoje, a empresa fala em um total de 16,3 milhões de hectares cultivados na segunda safra, o que representa 662 mil hectares a menos que no mesmo período no ano anterior. No início do ano a consultoria chegou a prever que a queda na área cultivada fosse de 1 milhão de hectares.
“O cenário econômico continua desafiador, porém o calendário de plantio acabou sendo benéfico e impulsionou o plantio”, diz Debastiani. Segundo ele, há cenários diferentes, nesse quesito, conforme a região. O Paraná, que havia reduzido área em 2022/2023, agora ampliou em 10,9%. Mato Grosso (com queda de 5,5% na área) e Goiás (com diminuição de 11,4%) tinham indicação de redução muito maior de área plantada, o que não aconteceu.
Segundo a Agroconsult, em Minas Gerais, Maranhão, Piauí e Tocantins a queda média ficou em 20% da área de plantio.
As janelas de plantio influenciaram, ainda, o nível de tecnologia adotado pelos produtores.
“O produtor priorizou manter a alta tecnologia nas lavouras plantadas dentro do calendário ideal. Mas, a partir do momento em que o plantio avançou para um calendário menos favorável, houve uma redução significativa nos investimentos, que se refletem em menos adubações e escolha de sementes de milho mais baratas”, afirma Debastiani.
Com a atual estimativa para a segunda safra, a Agroconsult prevê que a produção total de milho no ciclo 2023/2024 ficará em 123,4 milhões de toneladas, com uma área plantada de 21,1 milhões de hectares.
O número é bem distante da previsão da Conab divulgada em 14 de maio passado, que estima em 86,2 milhões de toneladas a segunda safra, 23,6 milhões a safra de verão e mais 2 milhões para a safra do Nordeste, também chamada de terceira safra. Assim, segundo a Conab, a produção total de milho 2023/2024 ficaria em 111,8 milhões de toneladas.
Nenhuma das duas estimativas fazem menção, por enquanto, a possíveis perdas no Rio Grande do Sul em função das chuvas das últimas semanas.
O estado não planta a segunda safra de milho, mas ainda possuía áreas a serem colhidas da safra de verão e, segundo o consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, as quebras podem atingir até 400 mil toneladas das 5,1 milhões previstas para a produção gaúcha de milho.