Na última semana, durante a 3ª edição do Rural Summit Agtech Innovation, tive a oportunidade de mediar o painel “IA no Campo: A Revolução da Tomada de Decisão”, ao lado de grandes nomes do setor: Jomar Silva (NVIDIA), Claudio Pinheiro (Dell Technologies) e Rodrigo Oliveira (Sol by RZK).
A conversa foi direta e reveladora: a inteligência artificial só entregará seu verdadeiro potencial no agro se estiver apoiada em uma base tecnológica robusta.
Ficou evidente que a tríade formada por conectividade confiável, edge computing e dados estruturados é essencial não apenas para a eficácia dos sistemas de IA, mas também para sua adoção em massa no campo brasileiro.
IA: Do Conceito à Prática na Fazenda
Muito se fala sobre IA, mas o que ela realmente faz no agro?
Na prática, a IA já está presente em tratores que operam sozinhos, sistemas que ajustam a irrigação com precisão e ferramentas que detectam doenças nas lavouras antes mesmo do olho humano.
O objetivo é claro: produzir mais, gastar menos e usar os recursos de forma inteligente.
Os números mostram o potencial: aumento de produtividade, redução de custos com insumos e economia de água.
Mas para que a IA funcione bem, ela precisa de informação de qualidade, entregue na hora certa. E é aí que a infraestrutura tecnológica entra em jogo.
Conectividade: o sinal que faz a diferença
O primeiro grande desafio no campo é a falta de sinal. Cerca de 70% das áreas rurais brasileiras ainda sofrem com conectividade ruim ou inexistente. Sem internet, as máquinas não se comunicam, os sensores não enviam dados e a IA fica “cega”.
Mas a situação está mudando. Soluções como redes privativas 4G/5G, instaladas na própria fazenda, e internet via satélite, como a Starlink, estão levando conexão a áreas antes isoladas. Essa conectividade é a estrada por onde os dados precisam viajar.
Edge Computing: inteligência rápida, mesmo sem sinal forte
E se o sinal cair? O edge computing (ou computação de borda) é a resposta.
Em vez de mandar todos os dados para a nuvem — o que exige muita internet — essa tecnologia permite que parte do processamento seja feita na própria fazenda, diretamente nos equipamentos.
Imagine um pulverizador que identifica uma praga e decide aplicar o defensivo na hora, sem depender da central. Ou um sensor de umidade que ajusta a irrigação instantaneamente.
Isso é edge computing: decisões rápidas e inteligentes, mesmo com conexão instável. Ele garante que a operação continue funcionando, mesmo quando o sinal falha.
Dados organizados: o combustível da IA
Conectividade e processamento são essenciais, mas sem dados de qualidade, tudo falha.
A IA aprende com dados. Se os dados coletados por sensores, drones e máquinas estiverem errados, duplicados ou desorganizados, as decisões da IA também serão erradas.
Por isso, organizar os dados é fundamental. É preciso limpar, padronizar e integrar informações de diferentes fontes (clima, solo, maquinário).
Dados bem estruturados são o combustível que alimenta a IA — e garantem que ela tome decisões certas e eficientes para a sua lavoura.
Conclusão: tecnologia conectada à realidade
A IA não faz mágica — ela precisa de estrutura.
Conectividade, edge computing e dados organizados não são acessórios: são pré-requisitos para transformar informação em ação, e ação em resultado. Investir nessa tríade não é luxo — é preparar a fazenda para ser mais eficiente, competitiva e sustentável.
No fim do dia, é isso que importa: fazer algo que as pessoas queiram, que resolva problemas reais, no tempo certo e com impacto de verdade.
Fernando Rodrigues é fundador da Rural.