As notícias destes últimos dias mostram uma "nova fase” na guerra de Israel contra o Hamas, "que deve ser longa”, o que nos leva, novamente, a uma série de reflexões.

A primeira delas é que nada justifica a selvageria iniciada pelo ato terrorista do Hamas. Depois disso, a sucessão de atrocidades que temos testemunhado, a morte de civis inocentes, as consequências para cidadãos do mundo inteiro, são fatos que só devem reforçar nosso sentimento de que guerra, seja ela qual for, sejam quem forem os envolvidos, é algo que devemos repudiar.

Enquanto países em guerra discutem "o bem contra o mal”, nós sabemos que o verdadeiro bem é viver em paz, com alimentação adequada, moradia, saúde, trabalho digno e com amor ao próximo.

Agricultores e pecuaristas que acordam cedo para produzir os alimentos que vão para nossa mesa, por exemplo, sempre souberam disso, mas até pouco tempo ainda tinham pouca percepção sobre como uma guerra lá na Ucrânia ou lá em Gaza, também influenciaria o seu dia a dia.

Aprendemos esta lição quando o conflito entre Rússia e Ucrânia ameaçou o abastecimento de fertilizantes por aqui, além de restringir a oferta de alguns cereais na Europa, o que fez disparar os preços e os custos de produção.

Estive por várias semanas de outubro nos Estados Unidos, acompanhando o destaque absoluto que a televisão dedicava ao conflito no Oriente Médio.

Nosso desafio é entender como o envio do maior porta-aviões do mundo ao Mediterrâneo Oriental poderá influenciar o dia a dia do produtor brasileiro.

Acompanhei também as discussões em universidades como Harvard e Berkley, em que estudantes estavam divididos e foi necessário reafirmar a liberdade de expressão para todos.

No agronegócio brasileiro, entendo que as possíveis implicações práticas estão em fertilizantes, carne bovina, petróleo e gás natural, além, claro, do futuro de instabilidade, que traz riscos à economia global e pode afetar a demanda de diferentes produtos.

No caso dos fertilizantes basta lembrar que Israel fornece 10% do que importamos – e hoje mais de 80% destes produtos usados no Brasil são comprados no exterior.

Israel é o segundo maior fornecedor de Super Simples e o terceiro mais importante em Super fosfato triplo. Em cloreto de potássio, é o quarto no ranking.

Os preços do gás natural estão subindo e afetam o custo dos fertilizantes nitrogenados, muito importantes no plantio do milho do Brasil.

E é justamente a venda de insumos para a segunda safra de milho uma das mais atrasadas no Brasil. E agora?

Precisamos entender que diferentes grupos terroristas estão interligados e há também a conexão com diversos países neste conflito.

Há uma influência muito forte de um país sobre o outro. Portanto, é um cenário que poderá sim estender os reflexos para o Brasil e para a produção agropecuária.

Não podemos esquecer do ensinamento que o ex-ministro Alysson Paollinelli nos deixou: "Alimento é paz"

No caso da carne bovina, esta é uma das questões. Apenas 1,5% dos embarques têm como destino Israel, mas se houver a expansão do conflito para outros países, a influência será outra.

Países como Egito e Arábia Saudita estão entre os maiores compradores de carne bovina do Brasil.

No mercado de petróleo – que também impacta biocombustíveis e custo do transporte– a grande questão é o papel do Irã no desenrolar da guerra.

Enfim, nesta hora dois recados principais ao produtor. Primeiro é seguir atento ao noticiário internacional, já que agora ele sabe que sim, o que acontece lá fora influencia as diferentes cadeias por aqui.

E o segundo é não esquecer dos ensinamentos que o ex-ministro Alysson Paollinelli nos deixou: "Alimento é paz".

Temos um papel crucial nesta vida que é garantir a segurança alimentar do nosso planeta. Vamos seguir firmes na nossa missão.