Nos últimos anos, os chamados investimentos de impacto têm ganhado notoriedade em mercados financeiros ao redor do mundo. Segundo informações divulgadas em 2022 pela organização Global Impact Investing Network, o segmento movimentou cerca de US$ 1,16 trilhão.
Já no Brasil, o estudo “Visões sobre oferta de capital para impacto”, lançado em dezembro de 2024, registrou um incremento de R$ 1,59 bilhão, vindo tanto de instituições públicas quanto privadas. Por sua vez, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços assumiu o compromisso de alocar R$ 187 bilhões no nicho até 2032.
Mas, afinal, o que torna esses investimentos tão relevantes? Na prática, a ação nada mais é do que a aplicação de capital em projetos que buscam efeitos socioambientais mensuráveis. Ou seja, é um aporte que vai além da busca por lucro, visando gerar um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.
No entanto, apesar do cenário favorável e deste ser um caminho para a construção de um futuro mais sustentável, a verdade é que esses modelos de negócio ainda enfrentam dificuldades na composição de caixa.
Olhando para a cadeia de valor do agro, dados apurados em 2024 pela consultoria Impacta e o fundo de investimento KPTL revelam um baixo número de Fundos de Investimentos em Participação (FIPs) no nicho. Ao todo, o ano fechou com um total de 890, sendo apenas 28 voltados à Floresta e Clima. Já na vertente das gestoras de investimentos, apenas 6,1% dos aportes foram em startups voltadas ao clima, as chamadas climatechs.
Essa incerteza da cadeia investidora no ecossistema das startups verdes pode ser explicada pela dificuldade de escalabilidade desses negócios, além de que a consultoria também apurou que cerca de 71% deles ainda estão em fase inicial, o chamado early stage, indicando a provável escassez de startups maiores e mais madura, e, portanto, menos chances de retornos financeiros futuros.
Hoje no mercado de Venture Capital (VC), por exemplo, vemos que os olhos dos investidores estão concentrados em dois perfis de empreendimento. O primeiro grupo é composto por empresas tecnológicas que promovem maior eficiência e acessibilidade para soluções climáticas em setores já maduros. Diante desse contexto, destacam-se áreas como agricultura, energia e transporte.
O segundo abrange modelos focados na viabilização de soluções baseadas na natureza como negócios de restauração e reflorestamento, que são viabilizados financeiramente pelo comércio de créditos de carbono e potencializados por tecnologias que promovem escalabilidade e rastreabilidade.
O investimento de impacto enfrenta desafios não apenas na estruturação financeira, mas também na mudança de mentalidade do mercado. Um exemplo recente foi o caso do Fiagro da Vox Capital, que não avançou devido a fatores como a novidade do produto e a percepção de risco adicional pelos investidores.
No entanto, um dos feedbacks mais surpreendentes veio de alocadores que rejeitaram a tese de recuperação de áreas degradadas, argumentando que era economicamente mais vantajoso adquirir terras ainda cobertas por vegetação e desmatá-las para obter uma taxa interna de retorno (TIR) mais atrativa.
Enquanto investidores de impacto buscam criar valor regenerando áreas degradadas e promovendo práticas sustentáveis e regenerativas, uma parcela do mercado ainda vê a destruição de vegetação nativa (abertura de áreas) como um caminho mais economicamente viável. Isso revela um desalinhamento entre o discurso crescente de sustentabilidade e as decisões práticas de investimento.
Esse caso reforça a importância de educar o mercado e criar incentivos que tornem o impacto ambiental um diferencial competitivo real. No entanto, conforme os efeitos das mudanças climáticas avançam cresce a percepção de que mudanças dentro do ecossistema financeiro precisam ocorrer.
Quando falamos dos investimentos de impacto, é fundamental uma mentalidade estratégica e progressista capaz de enxergar o capital como ferramenta de transformação.
Podemos afirmar que o futuro do investimento de impacto dependerá da capacidade do mercado de reconciliar retornos financeiros com regeneração ambiental e inclusão social, transformando a sustentabilidade em um fator estratégico indispensável para a alocação de capital.
É inegável que estamos falando de uma quebra de paradigma morosa, mas inadiável e para que essa mudança aconteça de forma concreta, é essencial que o mercado passe a enxergar sustentabilidade e rentabilidade não como conceitos opostos, mas sim complementares. Chegou a hora de amadurecer essa nova mentalidade.
Henrique Galvani é CEO da Arara Seed, plataforma de investimentos coletivos do setor do Agronegócio