Aumento nas exportações, contratos antecipados e preços acima da média fizeram da safra de 2022/2023 um ano especial na história da orizicultura no Brasil. A cultura do arroz, em geral, é cheia de altos e baixos e preços que deixam pouca margem ao produtor, assim um período mais longo de boas notícias, que deve se estender em 2024, representa um alívio depois de safras bem complicadas.

Pelos números da Conab o volume total colhido na última safra ficou em 10.033 milhões de toneladas, plantadas em 1.480 milhão de hectares. Bom ressaltar que cerca de 70% da produção do cereal está concentrada no Rio Grande do Sul. Portanto, grande parte do que acontece no mercado é influenciada por este Estado.

“Após 3 a 4 safras com estiagem no Estado e altos custos de produção, finalmente ver o mercado reagir e remunerar melhor o produtor é um grande alívio”, assinala Flávia Tomita, diretora técnica do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), autarquia gaúcha criada para fomentar a cultura do arroz em todos os aspectos.

Tomita afirma que boa parte deste movimento de preços se deve a influência das exportações. Cleiton Santos, analista de mercado e jornalista do setor explica o por quê.

Segundo ele, em julho deste ano, a Índia, maior exportador mundial do cereal (22,5 milhões de toneladas de um mercado de 55 milhões de toneladas) suspendeu as vendas internacionais de arroz não-aromático – ou seja, o longo-fino, o grão curto, e o glutinoso – e manteve apenas o Basmati como mercadoria exportável, com o argumento de controlar a inflação galopante que eles enfrentam.

Santos acrescenta que outros países da Ásia, onde está 90% da produção e 88% do consumo mundial, também suspenderam as vendas. Em outubro, a Índia ainda sobretaxou em 20% os preços do arroz parboilizado.

“Então, passamos a ter dois novos fatores determinando uma escalada de preços recordes internacionais. O primeiro deles foi o El Niño, que fez o mercado global adotar cerca cautela e ver subirem os preços em países como Vietnã (recorde de preços desde 2008) e Tailândia (segundo e terceiro maiores exportadores globais) por causa da previsão de safras menores e de menor qualidade em função de secas”, diz.

E acrescenta a isso uma colheita nos EUA onde o arroz apresentou baixa qualidade e ainda o baixo nível de estoques nos países do Mercosul. Como estes são os países que produzem arroz de alta qualidade, a procura para importação foi grande, resultando em aumento de preços ao produtor.

Na mesma linha de Santos, o arrozeiro e também analista de mercado Marco Aurélio Tavares relatou que uma das novidades que surgiram no segundo semestre deste ano foram as propostas de compras antecipadas da safra que ainda estava por plantada.

Sem revelar quanto e qual o preço, ele mesmo antecipou venda para janeiro com valores bastante compensadores. “É uma estratégia para gerenciar pagamentos de contas e também de impostos”, assinala Tavares, que nesta safra, aumentou a área de arroz em 8%.

Santos coloca mais um tempero no bom momento. “O orizicultor, desta vez, estava capitalizado, até por conta de também plantar soja em outras áreas da propriedade. Então, pode organizar a venda do arroz, conforme atingiam preços vantajosos para ele”, comenta.

Nova Safra

Para a diretora técnica do IRGA, a safra que será colhida em 2024 tem uma tendência de valores tão bons quanto desse ano. Ela diz que hoje o mercado está muito mais estável, com preços sustentados, por consequência de uma readequação natural da cadeia produtiva nos últimos anos em função das dificuldades econômicas da atividade.

Flavia Tomita acredita que as exportações continuarão, principalmente depois que foram abertas portas de importantes países como o México. “Não dá para prever o volume ainda, mas os compradores já estão se movimentando” afirma.

A Conab prevê números um pouco maiores em relação à safra passada. Se não houver catástrofes climáticas, a produção deve ficar em 10,785 milhões de toneladas, o que significa 752 mil toneladas a mais.

Santos, por sua vez, aponta um mercado firme, ao menos no primeiro semestre do ano safra (março – agosto), que poderá se estender o ano todo.

O Banco Mundial trabalha com a expectativa de valorização de 6% no mercado mundial do arroz, após uma elevação de 24% a quase 26% na atual temporada. Já a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) indica preços internacionais, nesta temporada, 21,2% acima do praticado no mesmo período do ano passado.

“No Brasil, a referência de preços no Rio Grande do Sul, no dia 15 de dezembro, era de R$ 130,06 por saca de 50 quilos, em casca. Valor equivalente a US$ 26,21 dólares. Com isso, pela primeira vez na história, o arroz está valendo mais do que a soja no mercado brasileiro, proporcionalmente.

Lembrando que o arroz usa sacas de 50 quilos e a soja em 60kg. A soja é cotada de R$ 140,00 a R$ 145,00. Comparando por quilo ou na mesma medida (sacas de 60kg, por exemplo), o arroz já está à frente da oleaginosa” finaliza Santos.