A Caramuru Alimentos, uma das principais empresas brasileiras de processamento de soja, milho, girassol e canola, inaugurou há poucos dias uma planta industrial para processar proteína de soja concentrada (SPC) em Itumbiara, Goiás.

Já a Jalles Machado, que produz açúcar e etanol, pretende investir recursos da sua próxima emissão de debêntures para ampliar capacidade de duas de suas unidades produtoras de açúcar, contando a partir da safra do ano que vem.

Somados os dois projetos são cerca de R$ 600 milhões em investimentos, que exemplificam as perspectivas positivas para o futuro da agroindústria ligada à produção de alimentos – e que têm impulsionado o setor nos últimos meses, ajudando a reverter os resultados negativos de outros segmentos agroindustriais, como de insumos agrícolas e de produtos florestais e têxteis.

“As perspectivas para a produção agroindustrial do país são favoráveis. Os números reforçaram essa percepção, pois além do forte crescimento, o setor está conseguindo zerar suas perdas”, afirma ao AgFeed Felipe Serigatti, pesquisador da FGV Agro

Ele usa como base da análise os dados do Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro) referente a agosto e divulgado na última semana pelo Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro).

Graças ao segmento de alimentos, o volume da produção agroindustrial nacional teve, em agosto, o melhor mês em sete anos.

A expansão foi de 2,5% em relação ao mesmo período de 2022, ajudando a reduzir as perdas acumuladas ao longo do ano – e que ainda são de queda de 0,4% no total da produção, de acordo com a FGV Agro.

“Ou seja, basta um crescimento modesto nos próximos meses e a agroindústria passará a operar em campo positivo”, diz Serigatti.

Essa perspectiva se baseia, principalmente, nos resultados dos produtos alimentícios, cuja alta de 7,6% em agosto compensou as quedas de 2,3% na produção de bebidas e de 1,7% na de produtos não-alimentícios, onde são computados os números de desempenho da agroindústria de insumos agropecuários, produtos florestais e têxteis.

De acordo com o indicador da FGV, a contribuição dos alimentos de origem vegetal à melhora do desempenho da agroindústria foi de 15,8%, seguida pela dos de origem animal, de 3,7%.

Itens como açúcar refinado e arroz tiveram altas de 26,1% e 12,9%, respectivamente, seguidos por moagem de café (12,6%), conservas e sucos (11%), moagem de trigo (11%) e óleos e gorduras (6,6%). Já a produção de carne bovina subiu 9,7%, de carne de suínos e de aves, 3,8% e de pescados, 5,6%.

“Para que a agroindústria consiga terminar o ano em campo positivo, é preciso que o crescimento venha desse segmento de produtos alimentícios e bebidas”, reforça o relatório do PIMAgro, da FGV.

Geopolítica e macroeconomia

“O ano de 2023 começou difícil”, lembra Serigatti, da FGV Agro. Havia muita incerteza macroeconômica relacionadas a juros, câmbio e inflação, além de questões próprias do setor agroindustrial, em especial nos segmentos de insumos, impactado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e de têxtil e agroflorestal, que enfrentam dificuldades há algum tempo.

“No setor têxtil, há questões que não são de hoje. Entre eles, a mão de obra mais custosa, a carga tributária e o uso de fibras naturais, que deixa nossos produtos mais caros, tanto no mercado nacional quanto internacional”, comenta o pesquisador.

Mas no segmento de alimentação o cenário é diferente. Com suas supersafras, o Brasil tem ampliado mercados para seus produtos. “A disputa entre China e Estados Unidos, de certa forma, beneficia o Brasil, ampliando espaços no mercado chinês que antes eram ocupados pelos americanos”, diz Serigatti.

Nessa lista de oportunidades entram diversos produtos alimentícios, desde o milho, o trigo e a soja – itens com os quais o Brasil disputa espaço no comércio internacional com Estados Unidos – até óleos vegetais, açúcar refinado e café moído.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve produzir 54 milhões de sacas de café, entre arábica e conilon, na safra deste ano. Se esse número se confirmar, será a maior produção da história.

Já a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas de 2023 tende a ser 16% maior que a safra de 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Além de fatores climáticos que ajudaram o país a ter uma safra recorde e aumento de produção em diversos produtos, o bom resultado da produção industrial de alimentos é influenciado ainda por fatores macroeconômicos, em especial o recuo da inflação e a retomada do consumo – interno e externo, estimulando exportações de alimentos.

A inflação oficial, medida pelo IBGE vem registrando recuos consecutivos nos itens de alimentos e bebidas desde junho. Na prévia dos primeiros 15 dias de outubro, o IBGE mostrou que os preços do grupo de alimentos e bebidas recuou 0,31% em outubro em comparação a setembro – ou seja teve deflação.

Outros segmentos da agroindústria nacional não têm se beneficiado diretamente desse contexto. “Para que a agroindústria consiga terminar o ano em campo positivo, é preciso que o crescimento venha desse segmento de produtos alimentícios e bebidas”, reforça o relatório do PIMAgro, da FGV.