Bons preços e boa colheita. O Brasil encerrou o ano safra 2023/24 com um recorde nas exportações de café, segundo dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

Foram 47,3 milhões de sacas de 60 quilos vendidas na temporada, uma alta de 32,7% frente ao vendido para fora na safra anterior (de julho de 2022 até julho de 2023).

“Mesmo com os desafios climáticos, nossos associados fazem trabalho exemplar. Os exportadores de café brasileiro conseguiram fazer o café brasileiro chegar a 120 destinos, apesar dos desafios logísticos, batendo recordes em vários parâmetros”, comentou Marcos Matos, diretor Geral do Cecafé, em coletiva de imprensa realizada nesta quarta, 10 de julho.

Antes, o ano-safra recorde foi 2020/2021, quando o País exportou 45,6 milhões de sacas.

A receita cambial avançou 20,7% na temporada que se encerrou frente à anterior, com uma arrecadação de US$ 9,8 bilhões, ou R$ 49 bilhões, a maior na história do levantamento das exportações de café, feitas desde 1990.

O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, ressalta que a alta dos preços do café no mercado externo nos últimos meses impulsionaram as vendas.

“Prevíamos uma safra melhor, mas ninguém poderia prever o nível recorde de exportação. Existe um ditado que diz que o que faz o café aparecer é o preço”, conta.

Na Bolsa de Nova York, os contratos para a saca de café estão cotados atualmente a US$ 245, ou R$ 1,3 mil. Há um ano, o preço estava em US$ 161, ou R$ 1 mil na cotação da época. O avanço nos preços ganhou força entre março e abril deste ano.

Segundo ele, os produtores conseguiram manter um “nível interessante de estoque” e, com o preço do grão em alta, aproveitaram para vender o que estava guardado. “A safra foi boa e as condições climáticas, favoráveis. Mas o mais importante é que entrou dinheiro no bolso do produtor”, acrescenta o presidente.

Somente em junho, último mês da safra, as exportações totais de café do Brasil bateram 3,297 milhões de sacas, 43,8% acima na comparação anual e um novo recorde para o mês.

Contudo, em nível de safra, o preço médio da saca recuou de US$ 228 para US$ 207 no ciclo 2023/2024. Ferreira pondera que o volume maior de exportação e a participação maior das vendas do café tipo robusta, que possui valor maior, no mix, ajudaram os números recorde deste ano.

Na safra 2023/24, 8,2 milhões de sacas desse café foram comercializadas, avanço de 461% frente à temporada anterior, quando foram vendidas 1,4 milhão de sacas.

Por país comprador, o ranking da safra ficou com Estados Unidos em primeiro. Os americanos compraram 7 milhões de sacas, ou 2,8% a mais frente ao ciclo anterior, e representaram 14,9% das exportações totais.

A Alemanha, com representatividade de 13,8%, adquiriu 6,5 milhões de sacas e ocupou o segundo lugar na tabela. Na sequência, vêm Bélgica, Itália, Japão e Reino Unido.

A China, sétima colocada no ranking de países que mais importam o café nacional, registrou a maior evolução na compra do produto brasileiro no período, de 186,1%, comprando 1,6 milhão de sacas nos 12 meses da safra 2023/24, quase triplicando as exportações de uma safra para outra.

Os cafés diferenciados, aqueles que possuem qualidade superior ou certificados de práticas sustentáveis, responderam por 18,6% das exportações totais brasileiras do produto no ano safra 2023/24. Foram 8,7 milhões de sacas enviadas ao exterior.

“Esse desempenho representa crescimento de 45,4% frente ao registrado no ciclo cafeeiro 2022/2023. O preço médio do produto foi de US$ 229,15 por saca, gerando uma receita cambial de US$ 2 bilhões”, ressaltou o Cecafé em relatório oficial.

No âmbito logístico, o Porto de Santos foi o principal exportador dos cafés do Brasil no ano safra 2023/24, com o embarque de 32,6 milhões de sacas, 68,9% de todo volume comercializado.

Marcos Matos relembra que, apesar de embarcar a maior parte do café, o porto tem perdido sua representatividade, que já chegou a 85% nos anos anteriores. “Isso evidencia o seu esgotamento e sinaliza mais dificuldades para o segundo semestre, quando aumentam as exportações de cargas conteinerizadas”.

Foram 163 mil contêineres utilizados para exportar o café brasileiro. No ano-safra passado, foram 100 mil.

O primeiro semestre de 2024 também foi recorde, com 24,2 milhões de sacas, e US$ 5,3 bilhões em receita cambial. recorde histórico e 50% acima do período de janeiro a junho em 2023.

A dificuldade logística deve impactar o restante do ano promissor. Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, relembra que o ano (civil) recorde nas exportações foi 2022, com 44,7 milhões de sacas vendidas.

Some-se isso ao fato de que, historicamente, o segundo semestre do ano é mais aquecido nas vendas. Na prática, se o Brasil somente repetir as vendas de janeiro a junho de 2024 nos próximos seis meses, vai bater o recorde de dois anos atrás.

“O desafio segue sendo as rolagens de carga e consolidação de embarques, pois o primeiro semestre deste ano trouxe números surpreendentes. No segundo semestre, o Brasil exporta muito café, mas também algodão e açúcar. A minha preocupação é a disponibilidade para consolidar esses embarques”, afirmou Heron.