Manter a produtividade recorde registrada na safrinha de milho desse ano será um desafio para os produtores em 2024, quando as margens tendem a ser mais apertadas e o ritmo de expansão da área plantada menor.

Já a soja deve seguir batendo recordes de produção e exportação, a despeito dos desafios logísticos e climáticos que seguirão trazendo incertezas ao agronegócio nacional.

Essas são as estimativas da pesquisa “Desvendando a Safra 2024”, realizada pela pelo Oper Data Science e Análise Estatística para as empresas Strada e Grão Direto, e que foi apresentada em encontro que reuniu cerca de 200 líderes do setor agrícola no Cubo Agro, em São Paulo, na terça-feira, 7 de novembro.

O levantamento ouviu produtores (57,66%) e compradores (42,34%) de grãos de diversas regiões do país, além de motoristas que atuam no transporte dessas commodities com o objetivo de traçar perspectivas e tendências para 2024.

Dos entrevistados que atuam com a produção de milho e são classificados como grandes produtores, cerca de 41% estimam diminuir a área plantada na próxima safra, ante 26,5% dos médios e 21% dos pequenos produtores.

Para os que estimam aumentar a área plantada – cerca de 30% dos grandes e pequenos e 25,5% dos de porte médio, ela se dará principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que devem concentrar cerca de metade da produção.

“A próxima safra de terá alguns desafios como custos mais altos e margens apertadas”, afirmou Vinicius Moreira, gerente de Inovação e Tecnologia Comercial da Amaggi durante debate onde foram discutidos achados da pesquisa.

Além dos desafios internos, o Brasil também terá mais competição no mercado internacional. Argentina e Estados Unidos, que tiveram quebras na última safra, tendem a retomar suas produções em 2024, ampliando a competição por preços e mercados.

Por outro lado, a demanda de etanol tende a crescer no Brasil no ano que vem – saindo dos atuais 14 milhões de toneladas para 15 milhões, o que pode compensar uma eventual queda de preços no cenário internacional causada por um aumento de oferta por parte de Argentina e Estados Unidos.

A percepção dos produtores em relação à soja é mais otimista. Entre os grandes produtores de nacionais, quase 40% estimam ampliar suas áreas plantadas na safra de 2024. Esse percentual é de 32,5% entre os de porte médio e de 21,5% entre os pequenos agricultores.

Esse aumento da área plantada tende a se concentrar, principalmente, nas regiões Nordeste e Norte, onde a pesquisa mostra tendência de aumento de cerca de 43% no Nordeste e de 52,7% no Norte. O percentual de quem estima redução não passa de 5% entre grandes, pequenos e médios. A maioria aposta em manutenção do cenário atual.

“A expectativa é que o Brasil bata um novo recorde de produção de soja na próxima safra”, afirmou Zak Battat, especialista em mercado de soja da Louis Dreyfus Company, que também participou do encontro. “O Brasil vem assumindo mercados que antes era atendidos pelos Estados Unidos e a tendência é que isso continue”.

Negociação

De acordo com a pesquisa, em ambos os casos – soja e milho – quando se olha para o ritmo de negociação da colheita, ou seja, fechamento antecipado de contratos de compra e venda, tanto produtores quando compradores ainda não avançaram.

No caso da soja, o percentual de quem não negociou nada até o momento é de 74,6% entre os pequenos produtores e de 55,5% entre os de tamanho de médio. As grandes empresas são as que mais avançaram nesse tipo de planejamento, com 7,8% tendo negociado acima de 60% da produção e 11,7% entre 41% e 60%.

No caso do milho, 70% dos grandes e mais de 80% entre pequenos e médios ainda nem começaram as negociações. Dos ouvidos no levantamento, 16% dizem ter negociado até 20% da nova safra e 4,5% entre 21% e 40%.

“O que vemos é uma safra ainda pouco comercializada, tanto do lado do produtor quando do comprador”, afirmou Alexandre Borges, CEO da Grão Direto, durante a apresentação da pesquisa, lembrando que há atrasados na colheita que impactam as perspectivas tanto do ponto de visto de rentabilidade, quanto de logística.