A cadeia produtiva da cana-de-açúcar está entre os segmentos do agronegócio mais atingidos pelas queimadas que assolaram o Centro-Sul do Brasil neste ano.
Dados do MapBiomas, divulgados pelo Observatório de Bioeconomia da FGV, revelam que só no mês de agosto 500 mil hectares foram consumidos pelo fogo no bioma de Mata Atlântica. E dessa área, 47% correspondem a lavouras de cana, ou seja, 235 mil hectares de canaviais.
Esse quadro gera uma série de desafios para as usinas, passando pela perda em produtividade agrícola e industrial, pela antecipação de colheita, e chegando até o custo adicional com insumos para recuperação do solo nas áreas atingidas pelo fogo.
No entanto, a necessidade constante de superar dificuldades pode ser uma das principais contribuições para a indústria sucroenergética no que diz respeito a governança e gestão.
Estudo do Itaú BBA mostra que as usinas passam por seu melhor momento em termos de saúde financeira dos últimos dez anos, condição bastante favorecida pelos preços de açúcar e etanol, por um avanço em políticas de gestão de risco e pela ampliação na capacidade produtiva.
De acordo com o banco, nos últimos dois anos, cresceu de maneira significativa o acesso dessas empresas ao mercado de capitais e sua busca por linhas de crédito mais estruturadas e de longo prazo. Essa iniciativa resulta no aumento do prazo médio de dívida. É praticamente uma receita para o cultivo de um círculo virtuoso.
A evolução em governança e rentabilidade amplia o campo das linhas de crédito de longo prazo, o que impulsiona a liquidez do mercado e, consequentemente, colabora para uma posição financeira mais robusta das indústrias.
Detalhes do diagnóstico feito pelo Itaú BBA dão uma ideia mais clara desse cenário. Segundo o estudo, na safra 2013/14, a dívida média das usinas foi de R$ 104 por tonelada. Chegou ao pico de R$ 138 por tonelada em 2019/20 e recuou para R$ 103 por tonelada agora em 2024/25.
Dependendo das condições climáticas e do ritmo dos investimentos no setor daqui para frente, esse índice pode cair ainda mais: R$ 86 por tonelada.
Esses números foram obtidos a partir de uma base de dados com 53 grupos, que representam cerca de 60% da moagem de cana do Centro-Sul. Foi dessa fonte que o Itaú BBA também tirou o balanço sobre alavancagem, mostrando que o setor saiu de um momento de pico na safra 2014/15, com 4.0x dívida líquida/Ebtida, e pode chegar à situação bem mais confortável de 1.1x na safra atual. E até passar para 1.0x em 2025/26.
“A expectativa é que a robustez financeira acumulada nos últimos anos possa suportar uma nova onda de investimentos, como expansão de fábricas de açúcar, projetos de biogás, etanol de milho, expansão de área própria, fusões e aquisições, além de investimentos em eficiência e redução de emissões de carbono”, disse o diretor de Agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes.
Outra análise realizada a partir desse estudo do banco serve bem como exemplo da evolução da saúde financeira das usinas. Na carteira do Itaú BBA, essas empresas são classificadas em quatro grupos identificados por letras: A, B, C e D. Essa sequência representa também a ordem decrescente em termos de saúde financeira e governança.
Nas últimas seis safras, por conta do cenário favorável já comentado, tem aumentado a passagem das empresas para os grupos mais bem colocados. O grupo D, o último da fila, por exemplo, era composto por 14 indústrias, e atualmente tem apenas quatro.
Essa transição para um ambiente mais sadio em termos de finanças tem a participação do banco, prestando apoio técnico a essas empresas de sua carteira.
“Temos atuado como um banco consultivo, ajudando nossos clientes a gerenciar riscos e oferecendo produtos adequados. Nosso foco em governança tem sido um diferencial para as usinas, que agora conseguem ter custos financeiros reduzidos e gerar mais caixa, negociando melhor com bancos e clientes”, afirmou Fernandes.