O Brasil conta com 116.710 toneladas de suco de laranja em seu estoque de transição da safra 2023/2024 para a temporada 2024/2025. Esse volume é 37,7% maior do que o registrado no mesmo período no ano passado, em 84.741 toneladas.
A doce positividade que acompanha os dados recém-divulgados pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos, a CitrusBR, esbarra, porém, em um certo grau de acidez, pois este ainda é o terceiro pior resultado na série histórica dessa estatística.
O levantamento da CitrusBR mostra ainda que a produção de suco teve queda de 5% na comparação entre a safra encerrada no último mês de junho e o período anterior. Enquanto o volume total da bebida chegou a 898,6 mil toneladas no ciclo 2023/2024, no anterior o número foi de 945,5 mil toneladas.
Já a distância entre os volumes de laranjas processadas foi menor: 267,9 milhões de caixas (com 40,8 quilos cada uma) contra 265,3 milhões de caixas, considerando a mesma comparação. Uma diferença abaixo de 1%. Esse resultado tem como causa principal uma degradação no rendimento industrial.
As empresas consumiram 298,1 caixas de laranjas para produzir uma tonelada de suco na safra 2023/2024. No período anterior, essa relação foi de 280,6 caixas para uma tonelada de suco, uma diferença de 17,5 caixas ou 6,2% a mais.
De acordo com o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, por conta dessa diferença houve uma queda de 56,3 mil toneladas de suco de laranja. “O que contribui para o cenário de restrição de oferta”, afirmou.
Pelo lado dos pomares, são as condições climáticas que não estão dando trégua. Nova estimativa de safra divulgada pelo Fundo de Defesa da Citricultura, o Fundecitrus, mostra queda de 7% na produção da safra atual (2024/2025) no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo e Sudoeste Mineiro, em relação à estimativa anterior.
A principal razão é o clima quente e seco, que está prejudicando o desenvolvimento dos frutos.
Com base nesse segundo estudo do Fundecitrus (o primeiro foi apresentado em maio), a região que mais produz laranja no País terá uma safra de 215,78 milhões de caixas.
Em comparação à safra passada, quando foram produzidas 314,21 milhões de caixas, a redução até o momento é de 31,3%. De acordo com o agrônomo e supervisor de Projetos do Fundecitrus, Guilherme Rodriguez, cinco das últimas dez safras nacionais de laranja ficaram abaixo da marca de 300 milhões de caixas.
A queda entre as estimativas deste ano deve-se à redução do tamanho dos frutos, consequência das altas temperaturas de falta de umidade nas plantações. Entre maio e julho, o índice de precipitação foi de 64 milímetros, 54% abaixo da média histórica (139 milímetros).
Aliás, 2024 é o quarto ano consecutivo nessa condição, ainda que em níveis diferentes. “A florada da primavera do ano passado foi muito impactada, prejudicando as flores e os chumbinhos e causando abortamento dos frutos”, disse Rodriguez.
Para se ter ideia da gravidade, isso tudo acontece mesmo com irrigação em 40% da área de produção do cinturão citrícola. Ao menos o clima seco e quente não favorece a ação de pragas e doenças, como ocorre com a proliferação de fungos quando há excesso de umidade.
Frente a esse desafio climático, o tamanho médio dos frutos caiu de 169 gramas para 155 gramas, o que significa a necessidade de um número maior de frutos (264) para compor uma caixa de 40,8 kg. Ou seja, 23 laranjas a mais do que foi estimado em maio.
O impacto recai ainda sobre o número de caixas por hectares, reduzido de 691 para 642, na comparação entre a estimativa de maio e a mais recente, divulgada neste mês.
Outra consequência dos desafios climáticos é a antecipação da colheita. O lado bom desse manejo agrícola é a redução da queda de frutos causadas pelo greening, doença que ainda é um grande desafio para o setor – as áreas afetadas no cinturão São Paulo/Minas Gerais passaram de 38% em 2023 para 44% este ano, segundo o Fundecitrus.
Futuro incerto
A próxima reestimativa do Fundecitrus sobre a safra de laranja será apresentada no dia 10 de dezembro. Uma terceira será publicada em 10 de fevereiro do ano que vem e os dados do fechamento do estudo serão divulgados em 10 de abril, também de 2025.
Conforme divulgação da CitrusBR, baseada em dados do Fundecitrus, a expectativa é de que a safra 2024/2025 no cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais seja encerrada com produção de 307,2 milhões de caixas. O problema é que a estimativa para a safra seguinte (2025/2026) é de 215,8 milhões de caixas, 29,7% a menos.
Segundo Ibiapaba Netto, este cenário de queda contribui para uma previsão de dificuldades no fornecimento ao longo da temporada. “Portanto, neste momento, é difícil avaliar as condições de oferta e demanda nos próximos meses e, consequentemente, prever os níveis de estoque de suco de laranja para 30 de junho de 2025”, disse o executivo da CitrusBR.