As projeções de chegada do fenômeno climático La Niña, a partir do segundo semestre, reduzem as chances de uma nova safra recorde de cana-de-açúcar para 2024/2025.

De acordo com a consultoria Datagro, a produção brasileira de da cana-de-açúcar da safra que vai de abril de 2024 a março de 2025 deve recuar quase 10% - para 592 milhões de toneladas - e impactar tanto a oferta de açúcar, quanto a de etanol.

A expectativa da consultoria é que a produção de açúcar no Centro Sul do país chegue a 40,45 milhões de toneladas no período, queda de 4,8% em relação ao atual ano-safra. Já a produção de etanol de cana será de 30,4 bilhões de litros, queda de 9,3%. O mix das usinas fica 51,6%, com proporção maior para o açúcar, segundo as projeções da Datagro divulgadas esta semana.

Em janeiro, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP) havia previsto que haveria redução de 3% na produção da cana de açúcar, com perspectiva de aumento na produção de açúcar, que chegaria a 43 milhões de toneladas.

O clima é o que deve ditar essa queda. Plínio Nastari, presidente da Datagro, explica que o La Niña reduz o ritmo das chuvas, aumentando a seca e prejudicando o cultivo. “Além do clima, neste ano o processo de renovação dos canaviais será mais tímido”, diz.

Um dos fatores que explicam a safra recorde do ano passado foi justamente o processo de renovação, que impulsionou a produtividade.

“As chuvas abaixo da média histórica na região produtora do Centro Sul desde o final de 2023 podem impactar a produtividade da safra 2024/2025, com possibilidade de aumentar o déficit global da safra 2023/2024”, alerta Annelise Izumi, da Consultoria Agro do Itaú BBA, em relatório, lembrando da alta probabilidade da ocorrência do fenômeno La Niña no segundo semestre.

A Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês) elevou, no final de fevereiro, sua previsão para o tamanho do déficit global de açúcar – para 689 mil toneladas na safra 2023/2024, mais que o dobro em comparação com um déficit de 335 mil toneladas previsto em sua última atualização em novembro de 2023. A produção global de açúcar na safra 2023/2o24 foi de 179,7 milhões de toneladas, segundo a OIA.

Do lado da oferta, o Centro-Sul brasileiro vem reduzindo a produção com a entressafra, apesar de ainda ter bons resultados. De acordo com a Unica (União das Indústrias de Cana de Açúcar e Bioenergia), a produção de açúcar na atual safra (2023/2024) totaliza 42,1 milhões de toneladas até primeira quinzena de fevereiro, aumento de 25,6% em relação à anterior. A moagem de cana nas usinas chegou aos 646,6 milhões de toneladas, aumento de 19%.

Já para a próxima safra, Índia e Tailândia – dois grandes concorrentes do Brasil no comércio mundial de açúcar – começam a melhorar suas performances e tendem a se manter assim na safra 2024/2025.

De acordo com o Itaú BBA, ao contrário do Brasil, nos países asiáticos e principalmente para os grandes produtores de açúcar (Índia e Tailândia), o La Niña tem um efeito positivo para a safra, pois aumenta a probabilidade de as chuvas das monções (que ocorrem entre julho e setembro) virem dentro ou acima da média, ajudando no desenvolvimento da cana e incremento na produtividade.

Ambos os países tiveram perdas e quebras de safra como consequência do El Niño nos últimos dois anos e tendem a melhorar a performance caso o La Niña se confirme.

Segundo o Escritório Nacional de Cana de Açúcar da Tailândia, até a primeira quinzena de fevereiro, a safra 2023/2024 totalizou 64,5 milhões de toneladas de moagem, 3,9% abaixo da anterior. Já a ISMA (Associação das Usinas de Açúcar da Índia) divulgou que a produção de açúcar até a primeira quinzena de fevereiro foi de 22,3 milhões de toneladas, recuo 2,5% comparado com a safra anterior.

Oferta e demanda

A expectativa de oferta menor ainda não pressiona, por enquanto, os preços internacionais do açúcar. Na quinta-feira, 7 de março, o açúcar mundial May NY #11 ( SBK24 ) fechou em queda de 0,79% e o açúcar branco May London ICE #5, com recuo 1,13%, como resultado da estimativa de aumento da produção de açúcar na União Europeia (UE) e de notícias sobre aumento da produção de açúcar no Brasil, divulgada pela Unica.

O preço médio de fevereiro do etanol hidratado também não teve grandes alterações. Em Paulínia, a cotação do hidratado chegou a R$ 2,24/l no final de fevereiro (26/02), sem impostos, praticamente de lado comparado com os últimos 30 dias (26/01), com aumento de apenas 0,2%, embora na média mensal tenha evoluído 2% sobre janeiro de 2024.

Nos mercados futuros, a cotação também segue equilibrada, na expectativa de melhora da oferta como efeito do La Niña na produtividade dos países da Ásia.