A espera durou cerca de 17 anos e terminou na última quinta-feira, 12 de dezembro. Desde 2007, produtores rurais do município de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, pleiteavam a construção de um aeroporto que fizesse justiça à pujança econômica da região, um dos corações da fronteira agrícola do Matopiba.
Nesse período, eles negociaram com autoridades, cederam, em 2020, uma área desmembrada da fazenda Agronol, do grupo Santa Izabel, e investiram na infraestrutura de base que permitiu ao governo estadual fazer a sua parte, com a construção de terminais e outras estruturas de apoio.
Inaugurado agora, o Aeroporto Ondumar Ferreira Borges exemplifica como poucos como as demandas do agronegócio, ainda que tardias, impulsionam investimentos que transcendem suas atividades, favorecendo tanto a população local quanto visitantes.
Matopiba é um acrônimo com a primeira sílaba de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, estados que compõem a região. A área, que abrange 337 municípios e mais de 73 milhões de hectares, era considerada improdutiva até 2005, quando teve início um movimento de expansão agrícola, baseado em muita tecnologia e produção em larga escala, principalmente de grãos e fibra (soja, milho e algodão). Hoje, representa uma das potências do agronegócio brasileiro.
Exatamente por atingir esse patamar e por atrair produtores, instituições de pesquisa, empresas e investidores de diversas partes do Brasil e de outros países, a região já demandava, há algum tempo, uma expansão logística compatível com as novas dimensões agrícolas e pecuárias. E tendo LEM como referência, por sua importância estratégica para o agronegócio local.
Segundo informações do Núcleo de Agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), sete principais municípios produtores de soja e milho no oeste baiano – São Desiderio, Formosa do Rio Preto, Barreiras, Correntina, LEM, Riachão das Neves e Jaborandi – são responsáveis por 44% do PIB agropecuário da Bahia.
Outro destaque sobre o desenvolvimento de LEM é que, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o município foi o décimo maior gerador e empregos na Bahia em 2022 e chegou à oitava posição em 2023, com a criação de 3.313 novos postos de trabalho.
A expectativa passa a ser pela chegada de linhas regulares à cidade, cujo acesso aéreo por voos comerciais estava restrito ao Aeroporto de Barreiras, a cerca de 90 quilômetros de LEM – e que também receberá investimentos para melhor atender a região.
Serão aplicados R$ 44,1 milhões em reforma e ampliação da infraestrutura para modernizar pista de pouso e decolagem, pátio de aeronaves e pistas de taxiamento. O projeto também prevê a construção de um novo terminal de passageiros, a aquisição de equipamentos e a execução de serviços complementares.
A inauguração do aeroporto de LEM resulta de um pacote de investimentos locais de R$ 85 milhões que abrangem infraestrutura, saúde, abastecimento e serviços jurídicos.
Os recursos exclusivos para as obras de adequação e implantação do aeroporto, realizadas pelo governo estadual, por meio da Secretaria de Infraestrutura, somam R$ 35 milhões.
Essa iniciativa integra um plano de investimentos mais amplo para aeroportos e aeródromos que soma R$ 366 milhões, e foi iniciado em 2023 pelo governo baiano.
Na opinião do governador da Bahia, o engenheiro agrônomo Jerônimo Rodrigues, o aeroporto é um marco para a cidade.
“Agora estamos conectados a mercados importantes, abrindo portas para novos negócios, facilitando o transporte de cargas e fortalecendo o turismo regional”, disse. A visão de Rodrigues é compartilhada pelo prefeito de LEM, Júnior Marabá: “Estamos avançando com responsabilidade e planejamento para atender às demandas do nosso crescimento”.
O aeroporto de LEM não é um caso isolado, muito pelo contrário. Cada vez mais, o agronegócio tem se tornado um propulsor de investimentos na expansão da infraestrutura aeroportuária.
Só no mês de outubro deste ano foram anunciados outros dois investimentos de grande relevância em aeroportos de municípios fortemente conectados com o setor agropecuário.
Um deles é o Aeroporto Adolin Bedin, em Sorriso, no Mato Grosso. A cerimônia de início das obras de ampliação e modernização contou, inclusive, com a presença dos ministros da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.
Com investimento total de R$ 104 milhões, o processo de melhorias deve estar finalizado no ano que vem. Nesse primeiro momento, estão sendo aplicados R$ 25 milhões.
As obras em andamento ampliarão a capacidade do aeroporto, que passará a receber aeronaves de porte maior – como B737-800 e A320 – e garantirá maior segurança de aviação.
“Toda a logística será otimizada para o desenvolvimento do turismo de negócios e lazer”, afirmou Costa Filho.
Segundo a Infraero, responsável pela gestão do aeroporto de Sorriso desde 2023, comercialmente, o impacto desses investimentos será significativo, em especial para o agronegócio, uma vez que a instalação tem potencial para se tornar ponto estratégico para escoamento de produção, transporte de insumos e ampliação de mercados, impulsionando a economia local e nacional.
A Infraero administra, no total, 35 aeroportos, sendo que alguns estão localizados em municípios fortemente relacionados com o agronegócio, como Dourados (MS), Gurupi (TO), Luziânia (GO), Paranavaí (PR), Salinópolis (PA) e Santo Ângelo (RS).
Sobre as possibilidades de ampliar essa atuação em localizações cercadas pela produção agropecuária, a empresa informa que regiões economicamente fortes, como as impulsionadas pelo agronegócio, são naturalmente atrativas para o desenvolvimento de aeroportos.
O Aeroporto Prefeito Renato Moreira, no município de Imperatriz, no Maranhão, é outro exemplo de investimento em infraestrutura em uma região agrícola. Com aplicação aproximada de R$ 60 milhões, a CCR Aeroportos, concessionária que administra o local, conseguiu entregar antecipadamente as obras de reforma e ampliação do terminal de passageiros – incluindo as área de embarque, desembarque e de restituição de bagagens – e do saguão na área pública, o que acabou abrindo novos espaços comerciais.
“Foram 364 dias de obras, executadas conforme o planejamento e entregues antes do prazo previsto”, disse o gerente de Engenharia da CCR Aeroportos, Rogério Guimarães.
A empresa está investindo um total de R$ 1,8 bilhão em obras de melhorias na infraestrutura de outros 15 aeroportos que administra. A primeira etapa concluída foi o Aeroporto de Bacacheri, em Curitiba (PR), destinado à aviação executiva. A entrega total das obras está prevista para o final deste ano.
Outras unidades de operação vêm passando por melhorias para atender com mais eficiência as demandas do agronegócio, como o Terminal de Cargas de Viracopos, no interior de São Paulo, que opera com diversos produtos agropecuários: sêmen de equinos, ovos, pintinhos, frutas diversas, peixes, congelados dos mais diversos, suínos, bois, cavalos, entre outros.
O local conta, inclusive, com câmaras frigoríficas para armazenamento de frutas e carnes, por exemplo. E, no ano passado, passou a contar com uma área exclusiva para o embarque de suínos, infraestrutura criada a partir de uma parceria do aeroporto com a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS).
Levando-se em consideração os índices de crescimento do agronegócio brasileiro, seja em volume de produção e produtividade, seja em agregação de valor e retorno financeiro, é mesmo de se esperar que os anúncios de novos investimentos em aeroportos – e em outros segmentos logísticos – sejam cada vez mais frequentes, pois o setor pretende mesmo é voar alto.