O Brasil desembarca na COP-28, a Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas), que começou nesta quinta-feira, 30 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com uma representação recorde (mais de 2,4 mil brasileiros inscritos) e com expectativa gigantesca.

O governo brasileiro quer utilizar a visibilidade do evento para se posicionar como protagonistas nos dois temas que estarão no centro dos debates, segurança alimentar e transição energética. E, para ambos, levará propostas ambiciosas em busca de financiamentos internacionais bilionários.

“As crises climática e alimentar são inseparáveis”, disse o diretor-geral Qu Dongyu , que liderará a delegação da FAO, o braço da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em comunicado. “Investir nos sistemas agroalimentares e nas zonas rurais cria a solução concreta para enfrentar os impactos da crise climática.”

As plenárias e discussões entre as delegações começam já na largada da conferência. A previsão das autoridades brasileiras, no entanto, é guardar para os últimos dias do encontro, que termina dia 12 de dezembro, o que considera o ápice da participação do Brasil: o anúncio de detalhes do plano nacional de recuperação de pastagens degradadas, que, pelas contas do governo, deve exigir mais de US$ 100 bilhões nos próximos dez anos.

Na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a COP-28 está, além dessa proposta, a aceleração dos programas de produção de biocombustíveis. Os dois temas são considerados fundamentais para os planos de descarbonização não apenas do Brasil, mas também de países da Europa, além de Estados Unidos e Japão.

Na comitiva brasileira, além de porta-vozes do governo, estão representantes da indústria, do agronegócio, ONGs e institutos de pesquisa, como Esalq e Embrapa. No domingo, 10 de dezembro, está prevista uma programação dedicada especificamente ao agro brasileiro e suas contribuições para a produção sustentável de alimentos no Brasil e no mundo.

“Há muito tempo, os produtores rurais brasileiros estão comprometidos com ações para contribuir com a segurança alimentar e energética e a conservação da biodiversidade e das florestas com uma agropecuária de baixa emissão de carbono”, disse o presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Muni Lourenço, em entrevista recente.

A União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica), que também integra a comitê empresarial, lembrou que o Brasil chega à COP-28, mais uma vez, como um país que vem assumindo responsabilidades na transição energética e no combate às mudanças climáticas. E que isso acontece tempo como país-sede um dos 10 maiores produtores mundiais de petróleo.

“Pode parecer um paradoxo estarmos discutindo descarbonização em Dubai. Para mim, é um sinal que um dos grandes produtores de petróleo dá ao mundo. A situação climática chegou ao limite e não é mais possível esperar. Felizmente, o Brasil tem muito a contribuir”, disse Evandro Gussi, presidente da Unica.

Gussi lembra que o Brasil desenvolveu, em mais de 40 anos, um conjunto de avanços tecnológicos, mercadológicos e de políticas públicas que têm inspirado e acelerado ações internacionais na área bioenergética.

Durante o evento, a ApexBrasil e a Unica vão assinar convênio de cooperação técnica e financeira para desenvolvimento do programa setorial para promoção e expansão do setor sucroenergético, com vigência até 2025.

Mais comida e mais floresta

O próprio presidente Lula apresentará na COP-28 o programa de recuperação de pastagens. O projeto do Ministério da Agricultura e Pecuária prevê recuperar até 40 milhões de hectares em 15 anos.

São áreas hoje improdutivas que podem voltar à ativa e permitir que o Brasil dobre a capacidade de oferta de grãos e outros produtores agropecuários, sem que para isso precise avançar para novas áreas, seja de floresta ou Cerrado.

"A integração entre lavoura, pecuária e floresta faz do Brasil um grande potencial de crescimento de produção, mas sobre áreas degradadas e não sobre a floresta", disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em evento realizado na CNA em outubro.

"O Brasil é exemplo de produção sustentável com tecnologia, ciência e inovação e um grande exportador de segurança alimentar”, concluiu.

O grande desafio para acelerar o projeto é financiamento. A estimativa é que sejam necessários cerca US$ 3 mil por hectare, ou cerca de US$ 120 bilhões para os próximos 10 anos.

Em Brasília se fala em investimento de R$ 1,5 bilhão, que viria de recursos do Banco do Brasil e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Mas não é o bastante.

Portanto, atrair fundos internacionais – entre eles árabes e chineses – está entre os objetivos do governo brasileiro na COP-28.

Antes do anúncio na COP, porém, integrantes do governo e de organizações privadas ainda tentam costurar arestas sobre como fazer a inclusão de propriedades rurais no programa, oferecendo aos potenciais financiadores garantia da real aplicação dos recursos.

Por esse motivo, acredita-se que haverá definições que só sairão após o retorno das delegações de Dubai.