A força da Inteligência Artificial (IA) veio para ficar. Desde o boom do Chat GPT, empresas de todos os setores da economia olham atentamente para a tecnologia como forma de melhorar processos e reduzir custos. No agro, não é diferente.
Diversas agtechs nascem com a IA já em seu DNA. Ao mesmo tempo, multinacionais do segmento começam a desenvolver processos que envolvem Inteligência Artificial no dia a dia.
Durante o Agro Vision 2024, evento realizado pelo Itaú BBA em São Paulo, três empresas do agro mostraram um pouco mais sobre como a IA tem impactado os negócios atualmente.
Na argentina GDM (Grupo Don Mario), empresa líder no mercado de sementes de soja no Brasil, com um market share estimado em 70% na cultura, a IA veio como uma luva no uso da tecnologia de edição gênica CRISPR.
O CEO da empresa, Ignacio Bartolomé, afirmou que a tecnologia ajuda a companhia a analisar dados de combinação gênica com uma velocidade mais rápida. Um cultivar que demorava quase 10 anos de desenvolvimento, hoje demora de dois a três anos.
A IA funciona como uma tesoura, explica o executivo, que ajuda a GDM a encontrar os genes que precisam ser editados. “Somos capazes de analisar DNAs de milhões de variedades por ano, e vamos colecionando as ‘letras’ que dão características específicas”.
Ele explica que por conta dessa tecnologia, a GDM tem conseguido desenvolver variedades de soja que trazem mais rendimento na hora de virar o óleo que, no futuro, pode ser utilizado para biocombustíveis como o SAF.
“Talvez daqui a cinco ou dez anos, o desenvolvimento será pautado em produtos para demandas específicas, e menos comoditizado. Uma proteína específica que será consumida por suínos para ter uma carne exclusiva por conta da demanda de um país importador”, exemplifica Bartolomé.
Já na Syngenta, multinacional de defensivos agrícolas, a IA ajuda a dar conta da informação gerada no campo.
André Savino, presidente da Syngenta Crop Protection no Brasil, estima que enquanto um pesquisador de campo normalmente levanta 120 informações durante uma análise na lavoura, o uso de IA permite que o número salte para 15 mil informações. Ele explica que o cruzamento de dados coletados escalona a avaliação.
“Começamos a fazer análises preditivas, e isso ajuda a guiar a pesquisa e na definição do produto ser registrado ou não. Falamos em acelerar a curva de inovação, e com isso, trazer disrupção no setor”, afirma o executivo.
“Muda-se as perguntas, e a ‘arte de fazer a pergunta’ vai ser a parte mais rica na equação. Aí está o valor do indivíduo. A resposta está nos dados”.
Na agtech Solinftec, anualmente são coletados 3,7 trilhões de datapoints por meio da Alice AI, plataforma de agricultura digital da companhia.
“A informação é um meio. Essa informação traz uma análise e experiência que tem que ser entendida e utilizada para melhorar o processo. Conforme os sistemas se tornam mais complexos, você utiliza ferramentas mais modernas: machine learning, reconhecimento de imagem e a própria IA para dar insights”, disse Anselmo Del Toro Arce, cofundador e diretor de relações institucionais da agtech.
Segundo ele, a empresa é lider no Brasil em geração de dados no campo. A parte de dados dialoga com o braço de maquinário da empresa, representado pelo Solix, robô que utiliza inteligência artificial para monitorar e cuidar de talhões das fazendas, adaptando-se às condições locais e aprendendo constantemente sobre cada ambiente.
“O robô vive no campo e segue o ciclo biológico da lavoura. A ferramenta de IA é fundamental para processar o número alto de dados e fechar o ciclo de maneira eficiente”, disse o cofundador da agtech. Ele estima que em alguns testes, houve economia de 95% no uso de herbicidas por conta desse manejo tecnológico.