Os impactos do clima nas safras de soja e milho, abriram espaço para a expansão do cultivo de algodão no Brasil – que tende a se beneficiar também da alta dos preços internacionais e da redução da produção e dos estoques nos Estados Unidos.

As expectativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) são de aumento de área e de produção, que pode chegar a 3,3 milhões de toneladas na safra de 2023/2024, contra 3,17 milhões de toneladas na safra 2022/2023.

“Os problemas causados pelo El Niño trouxeram impactos negativos no desenvolvimento da soja. Isso, consequentemente, encurtou o ciclo e abriu espaço para a antecipação da semeadura de algodão”, afirma Alcides Torres, da Scott Consultoria.

Ele lembra que em algumas regiões houve grandes prejuízos ao desenvolvimento da soja e até “abandono” das lavouras, o que favoreceu o algodão, que é uma cultura de segunda safra – e que tem se mostrado uma melhor alternativa do ponto de vista financeiro quando comparada com o milho e o sorgo.

Um dos fatores que pesam nessa escolha é o preço. Na semana passada, o valor da pluma de algodão atingiu o maior valor de comercialização no Brasil desde abril de 2023: R$ 4,20/ libra-peso. Somente no mês de fevereiro, a cotação já subiu 11,4% em relação a janeiro e a tendência é de continuidade da alta.

Pelo menos é o que mostram as negociações dos contratos futuros de algodão da Bolsa de Nova York (ICE), onde os lotes com entrega para maio subiram 4,22%, a 98,80 centavos de dólar por libra-peso essa semana.

Uma das justificativas está no equilíbrio entre oferta e demanda. Enquanto o Brasil aumenta suas áreas de plantio – e seus estoques, os Estados Unidos – que são o maior produtor mundial de algodão – reduzem volume de produção e estoques.

O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicou uma redução de 3% na produção americana, para 24,6 milhões de toneladas.

Em contrapartida, a previsão é de aumento do consumo em 1%. E como o nível de estoques americanos está baixo e tende a crescer em ritmo similar ao consumo, o resultado é maior pressão sobre os preços.

“Apesar de a fibra brasileira estar mais cara em comparação ao produto dos EUA, que continua com preços mais baixos diante da entrada da safra, a elevada disponibilidade de pluma do Brasil e a menor quantidade do produto americano elevam a demanda pelo algodão brasileiro”, comentam os analistas da Consultoria Agro do Itaú BBA, em relatório analisando a safra de algodão do país.

O resultado será um aumento das exportações brasileiras de algodão, que até janeiro, já acumulam 1,4 milhão de toneladas embarcadas. O Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, tem estoques e, por isso, tem conseguido elevar o ritmo das negociações do seu algodão.

“Além da menor rentabilidade do milho, o clima irregular também resultou em mais área para o algodão. O forte calor e a estiagem no Centro-Oeste prejudicaram as lavouras de soja e, com isso, alguns produtores acabaram migrando da soja para fazer apenas uma safra de algodão”, dizem os analistas do Itaú BBA.

É o caso do Mato Grosso, onde a área plantada destinada ao algodão aumentou 13,3% nesta safra. O Estado, que já é o maior produtor nacional, responsável 70% do algodão colhido no país, terá 1,3 milhão de hectares, com expectativa de produzir 2,4 milhões toneladas.

No Mato Grosso, a semeadura do algodão atingiu 100% na última semana, de acordo com levantamento divulgado no dia 26 pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Mas o aumento de área não se restringiu ao Centro-Oeste.

Bahia e Piauí também ampliaram em 9,8% e 35% sua área dedicada ao cultivo do algodão. No Piauí, a área cultivada com algodão passou de 17 mil hectares para 23 mil hectares e a principal razão para esse aumento foi a substituição das lavouras de soja por algodão.

No boletim com o monitoramento agrícola das safras de verão divulgado essa semana, a Conab ressaltou que as condições climáticas favoreceram o desenvolvimento das lavouras de algodão no Mato Grosso em seus diferentes estágios.

O clima também ajudou os produtores da Bahia, onde a floração, no entanto, está antecipada. O Estado responde por 19% da oferta nacional de algodão e tem produção estimada de 630 mil toneladas, segundo a Conab.

Em 2023, os três maiores compradores do algodão brasileiro foram China, com 49% do total, Bangladesh, com 13% e Vietnã,12%. Para a safra atual, o USDA estima queda na safra e aumento da demanda chinesa, o que beneficia o Brasil.