A produção nacional de biodiesel deve alcançar a marca de 9 bilhões de litros em 2024, um recorde que pode representar um aumento de até 20% no volume em relação à estimativa deste ano, que é de 7,5 milhões de litros.

A projeção é da Consultoria Agro do Itaú BBA, que considerou um crescimento de 2% no consumo de diesel frente ao registrado até outubro de 2023, mais as estimativas para os últimos meses do ano. Para 2024, a expectativa é que o consumo de diesel chegue a 66,4 bilhões de litros ante os 65,1 bilhões de litros de 2023.

O cálculo foi feito a partir de simulações baseadas no aumento da mistura de biodiesel no diesel tradicional, que irá vigorar a partir de março do ano que vem e em alinhamento com o histórico da Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre a produção de diesel e do consumo interno do combustível.

As alterações no percentual de mistura no diesel foram anunciadas no dia 19 de dezembro pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que autorizou o aumento do percentual de mistura do biodiesel no diesel tradicional dos atuais 12% para 14% a partir de março de 2024 e para 15% a partir de 2025. A medida antecipou em um ano o cronograma original, que era de elevação para 15% a partir de 2026.

Essas mudanças terão também impacto na demanda interna por óleo de soja – que deve aumentar. A consultoria hEDGEpoint Global Markets estima entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas a necessidade de aumento do volume na produção de soja para atender a expectativa de maior demanda por óleo para a produção de biocombustíveis.

É volume considerado baixo quando comparado ao tamanho da safra brasileira. Mas quando analisado a partir da expectativa de safra menor para a soja em 2023/2024, devido ao impacto do El Niño na lavoura, pode causar um recuo nas exportações brasileiras do grão e do óleo.

A hEDGEpoint Global Markets, por exemplo, estima em cerca de 99 milhões de toneladas de soja o volume a ser exportado em 2024 – em 2023, a estimativa é que o volume chegue a 101 milhões de toneladas, um recorde.

Já o Itaú BBA estima que o consumo de óleo para geração do biocombustível deve crescer em 1 milhão de toneladas frente a 2023. “Isso demandaria um crescimento de 5 milhões de toneladas de consumo da soja em grão para atendimento da indústria de biodiesel”, diz o banco no relatório Radar Agro no qual analisa o impacto da alteração na mistura de biodiesel no diesel.

Os analistas do Itaú BBA comentam ainda que a demanda pelo óleo de soja no ano de 2023 foi sustentada pela indústria de biodiesel. O produto representa cerca de 70% de participação das matérias-primas empregadas na produção do biocombustível brasileiro.

De acordo com a ANP, até novembro de 2023, foram utilizadas 4,5 milhões de toneladas de óleo de soja para a produção de biodiesel. O restante da composição tem sido óleo de palma, gordura bovina e compostos de gordura de frango, gordura de porco, óleo de algodão, óleo de colza, óleo de cozinha reutilizável, óleo de milho e outros materiais graxos.

Além da perspectiva de uma necessidade de limitar parte das exportações para atender a demanda da indústria esmagadora e para o óleo de soja, espera-se também uma normalização da oferta no mercado internacional por conta da possível retomada da Argentina ao mercado de derivados.

O país vizinho é o maior exportador global de derivados da soja (farelo e óleo), mas teve sua safra afetada pelo clima seco em 2023.

“Recentemente, atualizamos nossas estimativas para a safra de soja 2023/24 para 153 milhões de toneladas e, mesmo com a menor disponibilidade interna da soja em grão, acreditamos que os níveis de esmagamento não devem reduzir em relação às estimativas de 2023”, comenta o Itaú BBA no relatório.

Nos cálculos da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), a demanda de soja para a produção de biodiesel pode demandar até 10 milhões de toneladas adicionais de soja para dar conta da produção.

A Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) projeta o processamento de 54,5 milhões de toneladas de soja em 2024, o que geraria uma oferta de 11 milhões de toneladas de óleo no mercado doméstico.

Isso, segundo o banco, seria suficiente para atender a demanda interna de outros setores mais o crescimento do consumo para o biodiesel. A Abiove projeta que, até 2025, a demanda por biocombustíveis pode chegar a 10 bilhões de litros.