O atraso do plantio de grande parte das culturas agrícolas no Brasil, provocado em boa parte pelos efeitos climáticos, também afetou as lavouras de canola. A colheita da oleaginosa só foi concluída entre a última semana de novembro e a primeira semana de dezembro, já com a soja pressionando para ser plantada.

Até por conta dessa mexida no calendário, a atenção com o planejamento da próxima safra da canola tende a ser mais rigorosa, inclusive porque a expectativa é de resultados bem mais positivos para o ano que vem.

“Temos trabalhado isso amplamente com o produtor, insistindo para que faça um bom planejamento e antecipe a preparação do plantio para implantar bem as lavouras”, afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Canola (Abrascanola), Vantuir Scarantti.

Neste ano, a produção cresceu mais de 43% em relação a 2023. De acordo com o acompanhamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita atual chegou a 209,7 mil toneladas, enquanto a anterior somou 146,5 mil toneladas.

Já em relação à área plantada, o avanço foi superior a 55%, passando de 92,1 mil hectares para 143,2 mil hectares.

“Essa expansão não é necessariamente uma surpresa, pois a cadeia produtiva se organizou para isso”, disse Scarantti.

Para o dirigente, o balanço de 2025 deve trazer índices mais expressivos, com área plantada próxima de 300 mil hectares e produção em torno de 450 mil toneladas.

Trata-se, claro, de uma expectativa, mas o otimismo tem sustentação no histórico de crescimento da cultura nos últimos dez anos. Na safra 2024/2025, a cadeia da canola deve movimentar um total estimado em R$ 1,5 bilhão.

A área plantada aumentou mais de 220,3% desde 2014, quando foram plantados 44,7 mil hectares de canola. Nessa mesma comparação, a produção teve um desempenho ainda mais significativo, com avanço de 477,7%. Em 2014 a colheita somou 36,3 mil toneladas.

O entusiasmo tem ainda outras razões. A canola, que é a terceira oleaginosa mais produzida no mundo, tem se mostrado uma cultura muito promissora pelas oportunidades de mercado.

O grão é destinado a três frentes de negócio: alimentos, biocombustível e exportação. “Nossa premissa sempre foi atender o mercado de alimentos, é o nosso foco. Mas temos crescido nas exportações, que já estão no terceiro ano, com venda do grão in natura, principalmente para Dubai, para produção de óleo e farelo”, afirmou Scarantti.

Outra via de expansão para a canola se abre a partir das novas definições para o setor do biodiesel, com a sanção da Lei do Combustível do Futuro, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de outubro.

Entre as medidas para promover a mobilidade sustentável de baixo carbono, a mistura do biodiesel ao diesel de origem fóssil, que desde março está em 14%, a partir de 2025 aumentará um ponto percentual até chegar a 20%, em março de 2030.

O óleo de soja é a principal matéria-prima para a fabricação do biodiesel, com participação de 72% no total, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Mas a canola pode conquistar alguns pontos percentuais nessa divisão, até mesmo por suas características produtivas, como o teor de óleo, que pode chegar a 40%, enquanto na soja esse índice é de 18%, em média, conforme dados da Embrapa Trigo.

O presidente da Abrascanola é também gerente de Fomento da Celena, empresa pioneira na industrialização da canola e que tem 80% de share de mercado.

Com sede em Eldorado do Sul (RS) e uma unidade industrial em Giruá, no noroeste do estado, a companhia terá uma nova fábrica, em parceria com a Camera Agroindustrial, exclusiva para o processamento de canola.

Essa fábrica, que está sendo instalada em São Luiz Gonzaga (a cerca de 115 quilômetros de Giruá), deve entrar em operação em julho do ano que vem, com capacidade de processamento de 700 toneladas de canola por dia. “Uma indústria com esse potencial acaba puxando o desempenho das lavouras”, disse Scarantti.

Está aí outro fator que tem contribuído fortemente para a evolução da canola no Brasil, o desempenho. E grande parte da boa performance da cultura está relacionada ao trabalho de melhoramento genético.

Com opções de cultivares devidamente adaptadas às características regionais e às condições climáticas, o potencial de expansão cresce ainda mais.

É esse processo de seleção genética e a escolha das melhores opções que têm permitido o cultivo da canola fora dos limites do Rio Grande Sul, que ainda abriga quase todas as lavouras da planta, e do Paraná.

O Projeto Procanola, um programa de tropicalização da canola realizado pela Embrapa Agroenergia, entre 2021 e 2023, em parceria com a Cooperativa Agrícola do Rio Preto (Coarp/DF), teve o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da cadeia produtiva da oleaginosa no Distrito Federal e seu entorno.

Além de comprovar a alta produtividade da cultura na região, em torno de 2 mil quilos por hectare – mais do que a média geral de 2024, em 1,4 mil quilos por hectare –, o projeto deu origem a uma ferramenta de monitoramento virtual de todas as etapas de plantio, cultivo e colheita, o aplicativo “Mais Canola”, que ainda tem outra aplicações.

Como qualquer cultura ainda recente, se comparada a outras já mais bem estabelecidas, a canola tem pela frente o desafio de dispor de uma gama maior e mais diversa de insumos agrícolas, como os defensivos, específicos para a espécie.

“Estamos buscando junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária a ampliação dessa disponibilidade de produtos registrados para a canola”, disse Scarantti. “Pela força com a qual a cultura vem crescendo, essa questão também deve avançar rapidamente.”

A somatória de todos esses fatores e o cenário que se desenha para a cultura contribuem para as boas expectativas. E ainda criam um ambiente mais favorável para a comemoração dos 15 anos da Abrascanola.

“Vamos debutar celebrando as metas cumpridas, que desde o início eram organizar essa cadeia produtiva, buscar material genético adequado, obter zoneamento agroclimático e mostrar a cultura”, afirmou Scarantti, que está em seu último mandato à frente da entidade, com término marcado para 2026.

“Agora, temos muitos produtores dedicados e outros entrando na cultura por ser uma opção de inverno que proporciona retorno e renda.”

A afirmação do presidente da Abrascanola é validada, inclusive, no contato direto com os agricultores. “Esses dias, conversei com um produtor que plantou 1.200 hectares agora em 2024 e já planejou ampliar em 45% a área para o cultivo da canola no ano que vem.”