A produção nacional de arroz pode chegar a 11,5 milhões de toneladas na safra 2024/25, o que representa aumento de 9,5%, aproximadamente, sobre o volume de 2023/24, em torno de 10,5 milhões de toneladas. O aumento da área plantada é menor, em 3%, passando de 1,6 milhão de hectares para 1,655 milhão de hectares, o que reflete uma evolução na produtividade.

A projeção é da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, que, segundo o sócio-diretor da empresa, Carlos Cogo, começa a ser feita seis meses antes do levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para atender a demanda dos clientes.

A consolidação – ou não – desses números vai depender de vários fatores. Entre eles o clima é o mais desafiador – e não apenas para o arroz.

Grande parte do cereal cultivado no Brasil é irrigado, portanto depende muito da disponibilidade de água. E também necessita de luminosidade para que a lavoura tenha uma boa performance. Aí vem uma questão que preocupa tanto do ponto de vista agronômico quanto de negócios.

O cultivo de soja tem avançado sobre a área de arroz – no Rio Grande do Sul, cerca de 50% dos rizicultores também plantam a oleaginosa –, em sistema de rotação de cultura. “Essa combinação começou há uns dez anos, e ganhou força nos últimos cinco”, disse Cogo.

Embora a soja reforce o caixa do produtor e ainda rateie os custos, não responde tão bem à umidade quanto o arroz. É preciso haver um equilíbrio das condições climáticas e do ambiente para que as duas culturas apresentem bons resultados.

Surge então outro “porém”. No Rio Grande do Sul, que responde por 70% da produção de arroz do Brasil, as chuvas não estão dando trégua para nenhum dos dois grãos. “O excesso de chuvas atrasou bastante o preparo do solo no estado”, afirmou o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.

De acordo com o dirigente, por conta desse atraso, não será possível finalizar o plantio do arroz em outubro, como esperado, uma parte ficará para novembro. Boa parte dos produtores gaúchos estará preparando o solo quando deveria estar plantando.

Consequentemente, o período reprodutivo das plantas, etapa que mais necessita de luminosidade e por isso é primordial que ocorra em janeiro, acabará ficando para fevereiro, quando não há a mesma luminosidade. “Não há tecnologia que recupere essa diferença”, disse o presidente da Federarroz.

Para se ter ideia, segundo Velho, na safra 2023/2024, que coincidiu com o fenômeno climático El Niño, houve redução de 18% na luminosidade, provocando queda de 10% na produtividade.

A tendência é que na safra que está começando, agora sob a La Niña, o quadro seja diferente, com menos chuva, mais sol e melhor produtividade.

O excesso de chuvas impactou também na colheita da soja. Como muitos produtores não colheram, ou colheram muito pouco, inclusive se endividando, surge o risco de alguns abrirem mão da rotação de culturas.

“É importante manterem essa rotação, ou pode ter perda de produtividade e aumento do custo de produção”, afirmou Velho.

A Federarroz representa cerca de 80% da produção nas seis principais regiões de cultivo do arroz no Rio Grande do Sul – Fronteira Oeste, Campanha, Zona Sul, Planície Costeira Interna (PCI), Planície Costeira Externa (PCE) e Região Central. Essa última, que tem grande representatividade no cultivo de arroz do estado, é também uma das mais preocupantes.

A Região Central é constituída principalmente pela produção de agricultura familiar e foi uma das mais afetadas pelas enchentes que inundaram o Rio Grande do Sul a partir do final de abril.

“Os estragos foram muito grandes, houve rio que mudou de curso e áreas alagadas que ficaram com uma enorme quantidade de areia e cascalho. Em certos lugares, não temos ideia de quanto tempo será necessário para voltar a produzir, se é que voltará”, disse a diretora técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), Flávia Tomita.

O estrago deixado pelas enchentes ainda impacta a perspectiva da safra do arroz, devido às complicações de escoamento. “Qualquer chuva já deixa campo e cidade alagados”, afirmou Flávia, que aguarda ansiosamente pelas janelas de semeadura. Segundo ela, se não houver uma parada consistente das chuvas, o maquinário não vai a campo plantar.

Apesar da situação desfavorável, a diretora do IRGA está esperançosa. “Estamos em uma ‘janelinha’, que talvez vá até o dia 9 de outubro, então é correria para plantar o que puder”, disse. “E temos aí um mês e meio para finalizar o plantio. Se os produtores conseguirem, acredito que o ciclo da safra volta à normalidade.”

A parte positiva vem pela combinação dos preços bons e com a estimativa de aumento de área, passando dos 900 mil hectares da safra 2023/24 para 948 mil hectares na temporada 2024/25. Segundo Flávia, tal cenário reduz a preocupação com a possibilidade de os produtores desanimarem.

Terras Altas

Para além das áreas tradicionais de plantio no sul do País, o arroz tem ganhado espaço em outros sistemas. Tocantins, por exemplo, é o terceiro estado brasileiro que mais produz o grão, com 755,6 milhões de toneladas na safra 2023/24, volume 41,3% maior do que o da temporada anterior, conforme dados da Conab.

Em Goiás, o sétimo estado no ranking nacional de produção de arroz, a expansão entre essas duas safras foi de 59,4%, chegando a 130,1 milhões de toneladas. Enquanto Minas Gerais, na décima posição, colheu 84,4 milhões de toneladas, com crescimento de 719,4%.

Um dos fatores que muito tem contribuído para esse cultivo de arroz nas chamadas “terras altas”, e que pode continuar avançando, é o melhoramento genético das plantas. A Embrapa Arroz e Feijão, sediada em Santo Antonio de Goiás (GO), tem desenvolvido cultivares adequadas às caraterísticas e necessidades do plantio irrigado por pivô.

Segundo o pesquisador e analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Rodrigo Sérgio e Silva, além das vantagens produtivas das sementes colocadas pela empresa no mercado, o sistema no qual são utilizadas tem custo menor do que o de irrigação por inundação, mais comum no Rio Grande do Sul. “Na última safra, tivemos 330 mil hectares de área plantada em terras altas”, afirmou. “E já há sinais de que pode chegar a 500 mil hectares em breve.”

De acordo com o pesquisador, para a região de Cerrado, esse arroz pode servir até como um “coringa” na rotação de culturas, antes composta principalmente pela tríade soja, milho e trigo. Segundo Silva, o arroz não precisa ser plantado todo ano, ao longo do tempo o produtor vai entendendo quando a opção pelo cereal é mais vantajosa, mais rentável.

O pesquisador sugere que, pelas vantagens citadas, o cultivo do arroz em terras altas seja até oportuno para lidar com questões mercadológicas como a possível queda de preços por conta do retorno das exportações da Índia, anunciado no final de setembro.

Há que se conferir se poderá mesmo ser uma oportunidade. Já sobre o impacto da reentrada do arroz indiano no mercado global, não restam dúvidas. “A Índia representa 40% da exportação mundial de arroz, então sempre pode interferir no mercado”, disse o presidente da Federarroz.

Mas, segundo o dirigente, a influência é restrita à variação de preços, pois não há concorrência direta em termos de produtos. Os tipos de arroz produzidos na Índia são diferentes dos cultivados no Brasil. “A indústria brasileira prefere comprar o produto nacional, pela qualidade e pelas variedades que o consumidor daqui está acostumado”, afirmou Velho. “Então, no curto e médio prazos, não há um impacto direto.”