Clima e investimento em tecnologia são essenciais para uma colheita bem-sucedida. Mas quando a cultura é a cana-de-açúcar – e os números recordes da última safra – um outro fator entrou em cena: a renovação dos canaviais.

“Houve uma renovação generalizada”, afirma Rodrigo Almeida, gerente executivo comercial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Segundo ele, o clima favorável associado à melhora de preço nos dois últimos anos permitiu que as empresas investissem mais em insumos e na renovação das plantas – criando um ciclo virtuoso que resultou em colheita e produtividade recordes.

De acordo com o CTC, a cana-de-açúcar cultivada na região Centro-Sul teve a melhor produtividade das últimas 15 safras: rendimento agrícola de 81 toneladas de cana por hectare, o que representa um aumento de 16% em relação ao mesmo período no ciclo de colheita passado.

No acumulado da safra 2023/2024, o indicador atinge a marca de 87,6 ton/ha, frente a 77,2 ton/ha do ciclo 2022/2023.

A Conab aponta para o aumento de 10,9% na produção de cana-de-açúcar, quando comparada à safra passada, totalizando 677,6 milhões de toneladas e estabelecendo um novo recorde na série histórica da instituição.

A Tereos é um exemplo desse cenário. Uma das líderes na produção de açúcar, etanol e energia elétrica a partir de biomassa de cana-de-açúcar, a empresa apostou na reconstrução de canaviais para melhorar a produtividade. Associado ao clima, o investimento resultou em recorde de produção na safra 2023/24 e em estimativas positivas para as próximas.

“Processamos 21,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, um aumento de 22% em relação à safra anterior”, disse ao Agfeed Pierre Santoul, diretor-presidente da Tereos no Brasil. Segundo Santoul, 67% da colheita foi destinada à produção de açúcar. O restante ficou dividido entre etanol e geração de energia elétrica a partir da biomassa da cana.

Para Annelise Izumi, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, o alto índice de renovação de canaviais nas últimas duas safras, além do aumento nos investimentos em tratos culturais na safra 22/23, estimulou não apenas a maior produtividade. “Houve ainda uma consequente diluição de custos fixos”, afirma.

Os dados oficiais da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) indicam que no acumulado da safra 2023/2024, a moagem atingiu 645,38 milhões de toneladas, ante 542,83 milhões de toneladas registradas no mesmo período no ciclo 2022/2023 – um avanço de 18,89%.

Já a Conab estimativa aumento de 10,9% na produção de cana-de-açúcar, quando comparado à safra passada, totalizando 677,6 milhões de toneladas e estabelecendo um novo recorde na série histórica da Conab.

“Apesar do início da colheita ter sido atrasado devido às chuvas constantes, até mesmo gerando reflexos na programação das unidades de produção, a moagem alcançou pouco mais de 90% na Região Centro-Sul”, diz a associação. Na Região Nordeste, que possui um calendário que se estende até abril, a colheita ainda é incipiente nos principais estados produtores.

Para a temporada 2023/24, apesar da pequena redução de área, porém, com este acréscimo na produtividade em razão das boas precipitações ocorridas nos canaviais, a produção estimada para a atual temporada deve ficar um pouco acima da obtida na safra anterior.

Outro dado importante vem de dezembro de 2023, quando o Brasil exportou 3,85 milhões de toneladas de açúcar, crescimento de 75% na comparação com o mesmo mês de 2022. Em receita, foram US$ 2,03 bilhões, alta de 113,7%. Já os preços médios da tonelada embarcada fecharam o mês em US$ 528,80 (+22,2%).

Ao todo, o Brasil embarcou 31,38 milhões de toneladas do adoçante em 2023 (+15,1%), arrecadou US$ 15,75 bilhões (+43,0%) e fechou o ano com preços médios de US$ 501,86/t (+24,2%). Os principais destinos do açúcar brasileiro em 2023 foram China (12,1%), Índia (6,1%), Arábia Saudita (5,3%) e Marrocos (5,3%).

Próxima safra

A expectativa de fim do El Niño e o risco da chega da La Niña no segundo semestre desperta a cautela entre produtores e analistas em relação às estimativas para a safra. Izumi, do Itau BBBA, acredita que esses fenômenos têm maior influência nas regiões Sul e Nordeste.

“Considerando o clima dentro da normalidade, nossa estimativa preliminar é de 650 milhões de toneladas. O grande desafio é se haverá tempo suficiente para a colheita”, diz a analista do Itaú BBA.

A estimativa do Cepea é de que a região Centro-Sul do Brasil poderá esmagar mais de 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2024/25 – cuja colheita começa em abril deste ano, apesar das incertezas climáticas nos primeiros meses do ano.

Em relação ao ritmo de moagem, as usinas poderão destinar uma quantidade maior de cana para a produção de açúcar. “Isto se baseia nos preços relativos do açúcar e do etanol, que podem acompanhar a tendência observada nos últimos dois anos e priorizar a produção de açúcar”, informa o Cepea em sua análise.

De acordo com o Cepea, em 2023, os preços do açúcar no estado de São Paulo remuneram 100% mais que o do etanol. E essa é uma tendência que deve continuar.

Na primeira quinzena de janeiro, a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul totaliza 1,11 milhão de toneladas, segundo a Unica. Nesse mesmo período, no ano anterior, a quantidade processada foi de 439,83 mil toneladas. Ou seja, a Unica já identificou um aumento de 72%.

Na visão do Cepea, as dificuldades que o setor sucroalcooleiro no Brasil vem enfrentando, especialmente a baixa remuneração do combustível, não têm impedido o desenvolvimento de projetos que garantam a continuidade da produção de biocombustíveis.

Almeida, do CTC, lembra que o clima continuará sendo um desafio: mas com disponibilidade para investir para melhorar o solo, a produção tende a continuar crescendo de forma rápida e perene.