A ferramenta que está mapeando lavouras pelo mundo, talhão por talhão, já tem meta definida para o Brasil: ter um número único para cada um deles, uma espécie de CEP ou RG. É um desafio enorme, considerando uma área de 77 milhões de hectares, que são as terras consideradas agricultáveis no país.
A plataforma, chamada Global Field ID, é um produto da startup Varda, que pertence a Yara, gigante mundial de fertilizantes. Trata-se de uma empresa independente, com sede na Suíça, destinada a criar uma identificação única para os talhões de agricultura mundialmente, que está sendo disponibilizado gratuitamente para diferentes parceiros privados e instituições públicas.
O principal objetivo é oferecer uma infraestrutura básica que permita, posteriormente, o compartilhamento de dados entre empresas, produtores rurais e demais instituições.
Os projetos com foco em sustentabilidade e rastreabilidade da produção agrícola necessitam deste tipo de informação. Como cada projeto privado identificava de uma forma diferente cada fazenda e talhão, ficava quase impossível trocar estes dados.
"A Yara já estava fazendo um bom trabalho dentro do seu escopo, com foco na transição da agricultura e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, mas ao longo do tempo ficou claro que uma solução efetiva não é possível com um único player, é preciso buscar uma colaboração de toda a cadeia”, disse ao AgFeed a líder da iniciativa para o Brasil e América Latina, Deise Dallanora.
A executiva esclarece que nenhum dado dos usuários trafega pela plataforma da Varda. O sistema disponibiliza apenas o mapa geográfico e o código único, que já foi comprado a uma espécie de CEP.
"Depois disso, caberá a cada empresa separadamente buscar parceiros e formalizar acordos para o compartilhamento de dados, se acharem necessário, já que a infraestrutura estará pronta", explica.
Uma parceria global no projeto já foi anunciada com a Syngenta, importante player mundial em agroquímicos e sementes. Dallanora afirma que diversos outros acordos de intenção estão perto de ser assinados, incluindo indústrias da alimentação e empresas ligadas à cadeia da pecuária.
"Para a pecuária este código único é importantíssimo porque é a base para a rastreabilidade, o pecuarista pode comprovar que seu produto não é de área desmatada, já que uma coisa é falar da fazenda, outra é falar do talhão, a acuracidade é muito grande", ressalta.
Dallanora acredita que no mercado de carbono a ferramenta também será fundamental, já que impede duplicidade de dados e problemas frequentes que vêm sendo apontados em relação às certificadoras.
Ela destaca que o projeto da Varda é linkado com o conceito ESG não apenas pela questão ambiental e de governança, mas também porque garante o acesso gratuito e seu uso a qualquer perfil de produtor, inclusive os pequenos.
"Google Street do campo "
Uma das funcionalidades da plataforma que está chegando ao Brasil é uma espécie de "Google Street do campo”, disse a executiva. O sistema vai oferecer a "Update my Field”, área em que os produtores rurais podem atualizar dados sobre talhões que já não representem a realidade local, assim como se faz com o Google ao atualizar um endereço.
A chegada do modelo ao Brasil foi anunciada durante a Agrishow, mas o serviço só deve estar disponível no início do terceiro trimestre de 2023.
Mesmo assim, segundo a Yara, os 77 milhões de hectares brasileiros devem estar mapeados até o final do ano que vem, já que o processo "é muito rápido", segundo a líder. O mapeamento vai começar pelas lavouras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Em todo o mundo até agora já foram mapeados 38 milhões de hectares, sendo cerca de 28 milhões de hectares na França, além de áreas no Reino Unido e na Holanda.
A Yara não revela o valor total do investimento na Varda, mas diz que se trata de um projeto de longo prazo. Especificamente na tecnologia Global Field ID, informou que o investimento foi de R$ 50 milhões.
A empresa repete que o foco é o compartilhamento de dados, por isso está disposta a compartilhar inclusive com seus concorrentes da área de fertilizantes. Para acelerar o processo e não haver conflito em termos de governança, a Yara tem optado pelo modelo de empresas independentes, por isso a Varda não é uma unidade de negócio.
De qualquer forma, o objetivo original é acelerar a redução das emissões de carbono e cumprir as metas globais assumidas. No escopo1-2 a Yara prevê redução de 30% e no escopo 3 de 11,1%.